Érima de Andrade
Uma manhã de sábado como voluntária na 16° Ação Social Doutores de Coração (IDCOR).
Uma manhã de sábado como voluntária na 16° Ação Social Doutores de Coração (IDCOR).
É a primeira vez que participo de uma das ações do IDCOR (Instituto Doutores De Coração). A mim coube, junto com Bruno Fernandes Barcellos, do Projeto Envelhe-sendo, fazer o acolhimento. O auto falante explicou que estávamos disponíveis para uma conversa na sala 14, e as pessoas começaram a chegar.
Todos tinham um traço em comum: queriam ficar livres da sensação de desorientação. Procuravam uma palavra que trouxesse confiança de terem feito as escolhas certas, baseadas em informações obtidas através de revistas e TV. Ou então, a certeza de receberem uma orientação nova que pudessem seguir.
Eu atendi uma senhora que chegou muito angustiada. Ela passou por todas as etapas da ação social, mediu pressão, peso, altura, circunferência abdominal, colesterol e glicemia. Os resultados estavam ótimos, e por isso ela não foi encaminhada para o atendimento nutricional, que era o objetivo dela.
Me contou que teve uma fase da vida que engordava e emagrecia com frequência, e queria manter um peso estável. Por conta própria mudou a alimentação, passou a consumir verduras, legumes e frutas e a respeitar os horários das refeições. Estava andando 40 minutos por dia e, pelo menos 3 vezes na semana, também andava de bicicleta, presente de um neto. Está se sentindo bem, disposta, ativa, mas tinha receio de voltar a viver o efeito sanfona e o desânimo.
Comecei parabenizando pelas escolhas. Ela confirmou que todas essas mudanças eram recentes e que faz uso de medicamentos para outras questões de saúde. Disse que a médica já havia aconselhado a mudar o estilo de vida, mas que ainda não viu esses resultados, já que a próxima consulta será em três semanas. Fomos conversando e fui mostrando a ela que sim, ela já sabe o que fazer para se sentir melhor e para estabilizar o peso. E que mesmo assim, não pode, nem deve, parar a medicação por conta própria. Saiu aliviada. Mas antes me deu um santinho para me proteger, queria me agradecer de alguma maneira.
Uma outra senhora que atendi, disse que precisava muito conversar. Se descobriu grávida aos 51 anos de idade. Está em boas condições de saúde, tem consciência da importância do pré- natal, e há tempos vinha amadurecendo a idéia de criar mais um filho, pensava em adotar. Então, a chegada de uma criança na vida dela não era o problema.
Me disse que estava pensando em sair do emprego, vender a casa e mudar de cidade, só voltando quando a criança nascesse. Afinal, “tenho 51 anos, 5 filhos criados, 8 netos e sou solteira” (sic). Ao longo da nossa conversa conseguiu ressignificar a gestação, e se sentir orgulhosa das suas escolhas e conquistas de independência e saúde. Por conta da parceria do IDCOR com o Rotary Club de Niterói, ela recebeu também as orientações para conseguir ajuda, um berço e o enxoval para o bebê.
As próximas a entrar na sala foram uma filha e uma mãe com Parkinson. A filha não sabia mais o que fazer para preencher o tempo da mãe. Nessa busca de estimulá-la, acabou se fechando, e nenhuma das duas tinha outros vínculos sociais. Ao se dar conta desse fechamento a filha voltou a estudar, mas se sentia culpada por deixar a mãe sozinha.
Mais uma parceria do IDCOR entrou em ação e elas descobriram ali na sala as possibilidades da UNIVERTI: Universidade Aberta da Terceira Idade – Niterói. Aulas de 2° a 5° feira, das 14 às 17h, com cursos livres de teatro, coral, dança de salão, biodança, literatura, espanhol, inglês, memória entre outros. Foi como se um mundo novo se abrisse para as duas. A animação delas era contagiante. A gratidão é um sentimento lindo de se observar.
Também atendi uma senhora, cubana, com sequelas motoras pós AVC, e com índices preocupantes de glicemia. As duas cuidadoras dela plenas de boa vontade e sem saber o que fazer, buscavam ajuda e orientação. Entre outras medidas, para ajudá-la a perder peso, passaram a oferecer sucos verdes de brócolis, couve e o que mais achassem na feira. Era a única informação nutricional que tinham.
A senhora pesando 90kg e as duas baixinhas e bem mais leve, tinham muitas dificuldades, especialmente durante a noite. Ela dorme numa cama box, encostada na parede e “protegida” por cômodas e cadeiras. Mesmo assim, a senhora, com frequência, cai da cama durante a noite. Nessas ocasiões, colocam o colchão no chão, e tentam acomodar a senhora, o melhor possível, até que amanheça, quando então, pedem ajuda aos bombeiros.
Ela passou por todos os setores da ação social, medida, pesada, com os índices calculados. Recebeu orientação nutricional e de atividades, entre elas 20 minutos de caminhada, mesmo que em dois períodos de 10 minutos ao dia. Não importa se vai andar 10 minutos com o andador, os benefícios são cumulativos independente das dificuldades.
Uma outra parceria do IDCOR entrou na conversa e a assistente social da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (ANDEF), colheu a história e ficou de arrumar uma cama hospitalar para essa senhora. Também no caso delas, abriu-se um mundo de possibilidades de cuidado.
Parece que fizemos tão pouco, mas para essas pessoas, e tantas outras que receberam atendimento nesse dia, nós realmente fizemos a diferença.
Esse texto de Lao Tse exprime meu sentimento após uma manhã como voluntária:
"Delicadeza nas palavras gera confiança.
Delicadeza no pensamento gera profundidade.
Delicadeza no doar-se gera amor."
Delicadeza no pensamento gera profundidade.
Delicadeza no doar-se gera amor."
Que a delicadeza esteja com todos nós.
Maravilhoso trabalho de delicadeza!
ResponderExcluirBom que seja muito divulgado para que aqueles que se consideram sem saída possam ver essa possibilidade. PARABÉNS!
Maravilhoso trabalho de delicadeza. Bom que seja muito divulgado para que aqueles que se consederem sem saída possam ver essa possibilidade de vida nova. PARABÉNS.
ResponderExcluirA AÇÃO SOCIAL DOUTORES DO CORAÇÃO,COMO TANTAS OUTRAS, MOSTRA, COMO É POSSÍVEL E DE FORMA A MAIS SIMPLES PELA DISPONIBILIDADE DE SEUS AGENTES VOLUNTÁRIOS, ESTABELECERMOS RELAÇÕES HUMANAS FUNDAMENTAIS, TANTO PARA QUEM RECEBE, QUANTO PARA QUEM CHEGA COM SUAS AFLIÇÕES E NECESSIDADES. UM TRABALHO DE AMOR E PAZ ! PARABÉNS A TODOS OS ENVOLVIDOS !
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