domingo, 20 de novembro de 2016

Compondo a própria história

Érima de Andrade

A canção Tocando em Frente, de Renato Teixeira e Almir Sater, tem frases lindas. Mas hoje quero destacar essa: “cada um de nós compõe a própria história/ cada ser em si/ carrega o dom de ser capaz/ e ser feliz”.

Já escrevi algumas vezes aqui no blog que entendo que cada um de nós é uma usina de energia. E que atraímos a mesma energia que emitimos. Para mim isso é claro e transparente. Mas não é para todo mundo.

É bem comum receber no consultório pessoas que estão começando no caminho do autoconhecimento. E o que mais as surpreende é descobrir que atraem as situações que se repetem na sua vida.

Quando mostro que é um fato, acontece assim mesmo, usando exemplos da história delas, ainda assim, tentam uma negociação. Não é que elas não se responsabilizem pelo que acontece com elas. É mais que isso, essas pessoas têm certeza que o que acontece com elas não é responsabilidade delas. Elas acreditam que não fizeram nada para merecer isso, seja lá o que isso for.

Algumas histórias são incrivelmente comuns. Alguém que chega ao consultório e ao contar sua vida, conta que “todas” as pessoas em “todos” os grupos têm inveja dela. E aqui as histórias se diferenciam, uns porque são bonitos, outros porque são inteligentes, outros porque são bem-sucedidos em alguma área da vida, e por aí vai.

Vamos pensar junto: qual é o elemento em comum em todos os grupos que você frequenta? A inveja.

Está bem. E quantas pessoas estão com você em todos esses grupos? São muitos, os grupos têm vários tamanhos.

E só você em comum em todos eles? Sim.

Então... já pensou que pode ser você quem provoca essa reação em todos os grupos que frequenta? Você é o ponto em comum, algo que parta de você deve provocar essa mesma reação em todos os lugares que você vai.

É nesse ponto da conversa que eles tentam uma negociação, do tipo, mas não pode ser...

Pois é, é. Funciona assim: você, em algum momento da sua vida viveu um episódio de inveja (para continuar no exemplo da inveja citado acima). E aquilo lhe marcou tanto que você criou uma estratégia emocional para que não se repetisse. Até tenta ser uma pessoa legal com todo mundo quando chega num grupo novo, mas a estratégia dura pouco.

E dura pouco porque não separamos uma única caraterística de uma pessoa. Quer dizer, separamos, mas generalizamos. Vou me explicar: a pessoa que lhe invejou era invejosa, e mais alguma coisa. Ninguém nunca é uma só característica. Vamos imaginar que além de invejosa era bem informada. Sim, é uma boa qualidade. E sim, boas e más qualidades convivem em todos nós.

Nessa historinha que estou criando, pode até ser, que por ser bem informada, a pessoa sentiu inveja ao perceber que você tinha uma competência que a destacaria na situação que vocês se conheceram. Então, invejosa, bem informada, morena, alta, sem papas na língua. Claro que todos nós temos mais do que só cinco qualidades, mas para esse texto, cinco são suficientes.

Aí você chega num grupo novo. Tenta ser legal com todo mundo e percebe que tem muitas pessoas morenas no grupo... Se aproxima mais das louras e percebe que tem muitas altas... Tenta se aproximar de um grupo menor e percebe que tem pessoas sem papas na língua... pronto, você viu uma característica em cada um do grupo novo, que é similar as características da pessoa que lhe magoou, e generaliza. Você agora tem certeza que todos nesse grupo são invejosos.

Antes de ser “atacada”, você ataca. E passa a tratar todo mundo, como? Não sei. Inferior? Possível que sim. E sua auto profecia se confirma! Todo mundo sempre tem inveja de você. Eles “logo” percebem que você está acima deles e a invejam...

Não tem jeito, você tendo consciência ou não, se responsabilizando ou não, querendo ou não, você atrai todas as situações que se repetem na sua vida. O bom é lembrar que “cada um de nós compõe a própria história/ cada ser em si/ carrega o dom de ser capaz/ e ser feliz”.

Sim, você pode mudar sua história, fazer uma nova composição. Emmanuel explica que a dor é uma Mestra Divina que “aqui corrige, adiante esclarece, além reajusta, mais além aprimora.” É um bom caminho. Algo provoca desconforto em você? Corrija. Se observe também que terá esclarecido sobre o porquê isso lhe acontece. Motivo descoberto, pode reajustar. Reajustado você se torna uma pessoa melhor, se aprimorou. E começou com sua decisão de mudar.

Olhe para você, tem alguma situação que se repete na sua vida e que lhe incomoda?
Vamos mudar?

“É preciso amor/Pra poder pulsar/É preciso paz pra poder sorrir”. É preciso amor próprio para ser feliz. E depende só de você.

Eu estou saindo para uma viagenzinha com a família. Dia 4 de dezembro tem post novo aqui no blog. Até lá, que tal cantar com Almir Sater e Renato Teixeira, Tocando em Frente?


Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe,

Só levo a certeza
De que muito pouco sei.
Ou nada sei.
Conhecer as manhas
E as manhãs,
O sabor das massas
E das maçãs.
É preciso amor
Pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir.

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente.

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou,
Estrada eu sou.
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs.
É preciso amor
Pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir.
Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora,
Um dia a gente chega
E no outro vai embora.
Cada um de nós compõe a sua história,
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz.

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs.
É preciso amor
Pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir.

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais.
Cada um de nós compõe a sua história,
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz,
E ser feliz

domingo, 13 de novembro de 2016

Sofrer por antecipação, que armadilha!

Érima de Andrade

Muitos já disseram que o mal do século é a ansiedade. E que o ansioso é alguém que vive no futuro.
É fato, estamos mesmo cercados de ansiosos esperando pelo futuro.

Ansiosos são pessoas que esperam por um futuro negativo, ou positivo, tanto faz, e que por esperar, perdem o momento presente, que é o único momento que de fato, podem realmente viver.

Ansiosos temem que nada aconteça da maneira planejada. Temem não serem capazes de lidar com surpresas inesperadas. Temem errar ao agir. Ansiosos temem, acima de tudo, perder o controle. E por isso, sofrem por antecipação.

Antecipar o sofrimento significa sofrer mentalmente antes, significa sofrer por um futuro que você nem tem certeza se vai acontecer. Ansiosos sofrem tanto, que não é raro que o sofrimento antecipado seja muito maior do que o sofrimento gerado quando o fato realmente acontece.

Existem ansiosos de todos os tipos, mas os mais comuns são os que se pré-ocupam com o futuro. Criam antecipações que geram inquietação e ansiedade. Vivem com medo e angustia, temendo que o futuro chegue e que suas previsões catastróficas se realizem. E claro, na expectativa deles, não serão capazes de dar conta de achar uma solução, uma saída, ou um caminho para recomeçar.

Mas não são os únicos. Existem também os ansiosos que têm uma expectativa positiva e exagerada do futuro. Os que vivem tão entusiasmados esperando alguma coisa que imaginam que será muito boa, que mal conseguem aguentar tamanha ansiedade. Como diz uma amiga minha, fazem tanta tempestade em copo d'água, e no fim, reclamam quando apenas chove.

Já sabemos que expectativas positivas ou negativas sobre o futuro, tiram as pessoas do momento presente. É uma conta simples. Essas pessoas ficam sem espaço interno para viver o presente, porque pensamentos e emoções estão ocupados demais prevendo o futuro que pode não acontecer.

Gastam o tempo presente com um futuro maravilhoso, vivendo e revivendo mil cenários do evento esperado; ou gastam o tempo imaginando todas as possibilidades negativas que podem ocorrer, vivendo e revivendo mil catástrofes.

É importante deixar claro que você pode ser cuidadoso sem a tensão da preocupação e do medo. Sem dúvida, um pouco de preocupação, além de relevante, é saudável para todas as pessoas. Aliás, todos os sentimentos na dose certa e no momento oportuno são bons. O problema acontece quando exageramos e perdemos completamente o equilíbrio, e com ele a capacidade de tomar decisões pertinentes.

Nossa mente é maravilhosa. Somos capazes de imaginar circunstâncias tão reais, que provocamos respostas corporais reais, sentimentos reais para circunstâncias imaginárias, que acabam nos levando a comportamentos inadequados ao que estamos vivendo no presente. E lá vamos nós tomar decisões que só nos atrapalham.

O excesso é sempre prejudicial. Sonhar é bom, mas é preciso ancorar a consciência no presente. Feridas do passado, ou antecipação do futuro, não são boas conselheiras para tomadas de decisão no agora.

A fórmula para o sucesso passa necessariamente pela aceitação da vida e do que ela traz a cada momento. Fugir para o futuro, ou para o passado, é negar a vida que acontece no presente.

Claro que pensar no futuro é bom, ajuda a traçar metas. Pensar com consciência crítica é ótimo. Mas pensar em excesso é uma bomba para a saúde psíquica. Pensar em excesso trava o desenvolvimento de uma mente livre e criativa, que seja capaz de lidar com o que lhe acontece no presente.

Gosto muito de uma frase do José Maria Gomes Neto: “Lá é um lugar que não existe, aqui é o lugar". É aqui que as perguntas desaparecem e tudo faz sentido. É no aqui e no agora que você pode se manifestar, e direcionar sua vida para alcançar seus objetivos. É só no agora que você pode viver.

Os excessos de pensamentos, para o bem ou para o mal, provocam emoções com perdas de qualidade, profundidade e estabilidade. Traduzindo, vivendo no futuro, os eventos do seu presente precisarão ter cada vez mais estímulos, aplausos, e reconhecimentos para que você sinta algum prazer. Nada do presente será bom o suficiente se você tem certeza que a sua felicidade está no futuro imaginado.

Sofrer antes também provoca um gasto intenso de energia por coisas que acabam não acontecendo. Ansiosos sofrem imaginando que não vão conseguir, que não vai dar certo, se irritam, dormem mal, e às vezes, até desistem do que queriam fazer.

E de novo, nada do que acontece no presente, é bom o suficiente para lhe deixar feliz, se você tem certeza que o seu futuro será trágico. É essa a armadilha. Ao dispensar o presente, você abre mão do único momento que existe para ser feliz, o único que você pode fazer alguma coisa pela sua felicidade. O futuro é só um pensamento. O passado também. O que de fato existe é o agora.

Como sair dessa armadilha? Com um choque de realidade e lucidez em cada pensamento perturbador. A realidade é sempre uma boa conselheira.

Você pode escolher mudar agora mesmo. Comece tendo consciência do que está pensando. Capture esse pensamento e submeta-o a perguntas sobre o que de fato está acontecendo nesse momento, e o que você está sentindo com o que lhe acontece? O que você está vivendo é o que você estava pensando?

Por exemplo, tem uma propaganda na TV que brinca com esse sentimento de querer controlar e saber de tudo antes. Imagine que é você vivendo aquilo. A cena é de um casamento. O padre pergunta para a noiva se ela aceita o noivo na saúde e na doença? Até aí tudo bem, faz mesmo parte do texto de um casamento essa pergunta. Mas o padre continua perguntando: aceita na calvície e no reumatismo, na incontinência urinária, na falência da empresa que vai abrir em seu nome? E segue insinuando antecipações catastróficas.

A pergunta é, nesse momento, o que de fato está acontecendo? O casamento. Às vezes a realização de um grande sonho. E o que você está sentindo com essa realização? Viva isso, e deixe para depois o que vai acontecer depois. Não há céu sem tempestade, mas você pode lidar com isso quando acontecer.

Não tenha medo de errar. Seus erros contribuem para você crescer, aprender e melhorar. Uma vida feliz, com bons relacionamentos, boas conversas, boas companhias, participando, sendo socialmente ativo, praticando atividades físicas, cuidando do sono, da alimentação, da hidratação, são ótimas maneiras de nos libertarmos das consequências das nossas preocupações antecipatórias.

O exercício respiratório, e as práticas meditativas, também são ótimas técnicas para aliviar o sofrimento e baixar o nível de ansiedade. Você tem recursos para ser feliz agora, use-os.

Sofrer por antecipação, não caia mais nessa armadilha.

domingo, 6 de novembro de 2016

Meu passado não me condena

Érima de Andrade

Frasezinha batida, mas muito verdadeira. Tenho compaixão por quem é assombrado pelo próprio passado. Em algum momento todos nós fomos. Não tem como escapar, somos humanos, nós e quem conviveu conosco, e portanto, falhamos.

Na infância isso pode ter lhe causado uma grande dor. E doeu tanto, que você colocou numa gavetinha bem escondida. Não lembra mais o que tem dentro dela, mas tem uma lembrança do medo e da dor. Mais ou menos assim: não sei mais o que tem ali dentro, mas lembro que dói, portanto tenho medo e não vou mexer nisso.

Ficou lá atrás, protegido. O medo é um guardião, ele protege alguma coisa que gerou esse mecanismo de defesa, alguma coisa que quando aconteceu você não pôde lidar. Ele lhe protege de uma dor que era muito grande.

Hoje, você pode pautar sua vida a partir dessas suas feridas do passado. Mas pode também escolher se libertar do passado, isso é, escolher trabalhar para que seu passado não lhe machuque mais. Como? Identificando seu medo, aceitando essa dor, compreendendo que não tinha como ser diferente, e integrando na sua história.

Eu fiz as pazes com o meu passado quando me conheci melhor. O autoconhecimento foi o meu caminho de pacificação. É muito libertador e esclarecedor descobrir o porquê eu faço o que faço, e com quem e onde eu aprendi a ser quem sou. Somos todos aprendizes e compreender que nesse caminho cometemos erros, abre espaço para o perdão, a integração da sua história, as pazes com o passado.

Enquanto suas feridas escolherem seu caminho, você não estará vivendo o presente, e pode estar fazendo escolhas que só faziam sentido no seu passado. Fazer as pazes com o passado pode, enfim, permitir fazer escolhas a partir do que vive no momento presente.

Se libertar do passado não é, de maneira nenhuma, colocar uma pedra sobre o assunto e fingir que não aconteceu. Ao contrário, você precisa entrar nele. Precisa olhá-lo de frente, precisa compreender, precisa perdoar.

Ah, mas eu não posso perdoar meu passado! Pode. Mas não é um perdão da boca para fora. É um perdão que vem da compreensão de que as pessoas fizeram o melhor que podiam.

Olhe para o seu passado de um novo ponto de vista. Olhe com sua compreensão de adulto. Aquela dor, aquele medo, você criança, não dava conta. Mas agora adulto, você pode cuidar disso. Pode perdoar. Mais que isso, pode agradecer, pois você é hoje uma pessoa legal, e só é quem você é, porque você viveu tudo que viveu. Então sim, obrigada a todo mundo que fez parte do meu passado.

Quando você compreende, perdoa e agradece, você fecha as contas com seu passado, e pode então, viver plenamente o presente. Você se torna inteiro, identificou seus medos, aceitou suas falhas, integrou seu passado a sua história, compreendeu que não era pessoal, era apenas o que eles podiam fazer, e perdoou.

No meu caso, sou grata a todos os movimentos de autoconhecimento que eu vivi, pois me permitiram ser grata a todos que conheci. Gosto de quem eu sou hoje, gosto do que descobri a meu respeito.

Mais que isso, olho o meu passado e vejo sempre muita gente muito legal! É sempre uma delícia reencontrar essas pessoas que viveram comigo os anos de estudos no colégio. Tão legal como foi encontrar quem estudou comigo na faculdade. Tão legal como são meus encontros de família.

E viva o Facebook que possibilitou tantos reencontros! E uma vez encontrados, marcar um reencontro anual ficou muito fácil. 

O de ontem foi com Vicentinas/os. Somos Vicentinas/os, ex-alunos do Colégio São Vicente de Paula, de Niterói. E sabemos que uma vez Vicentinas/os, sempre Vicentinas/os!


Aqui vale contar que quando entramos era um colégio só para meninas. No equivalente ao que hoje é a oitava série, a escola passou a ser mista. Traduzindo, numa turma nossa de 40 alunos, 3 eram meninos.



Também vale informar que ontem choveu em Niterói desde a madrugada, parou depois das 23 horas. Muita gente ficou sem conseguir chegar. Mas super valeu encontrar quem conseguiu. E sim, ano que vem tem mais, em novembro, no mesmo lugar.

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Então gente querida, até 2017!