domingo, 31 de julho de 2016

Entrando no Clima dos Jogos

 Érima de Andrade

Não tem jeito. É muito raro que você goste de alguma coisa que não conhece.
Então, como eu gosto muito das Olimpíadas, vou escrever sobre essa história para você que não conhece, quem sabe, aprender a gostar desse evento. Se você é do time que está torcendo contra, ou faz parte de um grupo que quer apagar a tocha olímpica, e se não quiser mudar de opinião, sugiro que nem leia. Eu vou sim, defender os jogos.

Acho genial a proposta dos jogos. O sedentarismo não é uma escolha natural, músculos e articulações foram criados para o movimento. E uma competição que premia os melhores, e mais eficientes movimentos corporais, é genial e maravilhoso.

Foram os gregos que criaram os Jogos Olímpicos. Por volta de 2500 a.C. eles já realizavam competições. Isso mostra a importância que os gregos davam aos esportes e a manutenção de um corpo saudável. E haja beleza nos movimentos precisos, bem treinados e limpos apresentados nas competições. São várias modalidades maravilhosas e inspiradoras, uma delas com certeza mexe com você.

Mesmo competindo desde 2500 a.C., foi só em 776 a.C. que os gregos organizaram pela primeira vez os Jogos Olímpicos, e os atletas vencedores começaram a ter seus nomes registrados.

Para os jogos de 776 a. C. foram convidados atletas de várias cidades-estados da Grécia clássica. Os reis de Ilia, de Esparta e de Pissa aliaram-se para que, durante os jogos, houvesse trégua em toda Grécia.

Ou seja, a proposta dos jogos era de unificar as ilhas gregas. Em vez de lutarem para conquistar o oponente, criando inimigos, optaram por competir e ter adversários. Premiavam os melhores em cada modalidade, independente da cidade de origem. Não é genial? União conquistada pelo esporte, e não pela guerra.

A aliança entre os reis foi realizada no templo de Hera, localizado no santuário de Olímpia. Os jogos também aconteciam em Olímpia, para onde os cidadãos das outras cidades peregrinavam para participar das competições. Olímpia deu origem ao nome  Olimpíadas. Convidar atletas de fora fazia parte do espirito olímpico que tinha por princípio, haver paz, amizade e o bom relacionamento entre os povos.

Os gregos, na verdade, buscavam através dos Jogos Olímpicos a paz e a harmonia entre as cidades que compunham a civilização grega. Só em 1896, por iniciativa do pedagogo suíço Pierre de Frédy, conhecido como Barão de Coubertin, aconteceu a primeira Olimpíada da Era Moderna, essa sim, com a participação de atletas de vários países, disputando um conjunto de modalidades esportivas. Para ser exata, nessa primeira Olimpíada inspirada nos jogos gregos, treze países participaram. E como acontecia na Grécia antiga, o objetivo também era a paz e a amizade entre os povos.

O Barão de Coubertin acreditava que a prática de esportes deveria ser estimulada, em especial entre os jovens. Mais que isso, gostava da ideia de uma organização internacional que ajudasse a promover a paz entre as nações. No projeto dele também constava o resgate dos símbolos das Olimpíadas antigas, como o revezamento da chama olímpica.

O revezamento da chama olímpica tem sua origem nos jogos gregos. Os mensageiros da Grécia antiga viajavam pelas cidades anunciando a data dos jogos. Além de convidar os cidadãos a irem até Olímpia, eles proclamavam a trégua sagrada, isto é, um mês antes e enquanto durassem os jogos, e a tocha estivesse acesa, todas as guerras em curso deveriam cessar para que atletas e espectadores pudessem participar dos jogos com segurança.

Simbolicamente, acender a chama olímpica, significa que Olímpia avisa que os jogos estão chegando, está na hora da trégua sagrada. Com o passar dos tempos, a chama olímpica se consolidou como símbolo de paz, união e amizade entre os povos, como era na antiguidade. Para o Barão de Coubertin, os jogos promoviam a paz pois “o importante não é vencer, mas competir. E com dignidade”.

É uma linda simbologia. Enquanto focam no desenvolvimento de tecnologia para melhorar o desempenho nos esportes, abrem mão de focar no desenvolvimento de armas para a guerra. É essa a proposta, tornar os jogos mais atraentes que os combates.

Pena que não tenha mais o poder de estabelecer a trégua sagrada. Ao menos, os jogos conseguem ser o assunto principal dos noticiários durante as competições. É um respiro bom.

A chama olímpica evoca a lenda de Prometeu, que teria roubado o fogo de Zeus para o entregar aos mortais. Mantendo essa tradição do fogo dos deuses, a chama é acessa em frente a ruína do templo de Hera, em Olímpia. Para garantir a sua pureza, e a ligação com os deuses, ela é acessa com a ajuda de uma skaphia, uma espécie de espelho côncavo que concentra os raios da luz do sol. De lá, a chama é transportada em revezamento até ao país-sede das Olimpíadas, escolhido a cada quatro anos, e acende a pira olímpica, sinalizando o início dos jogos. 




A pira permanecerá acessa durante toda a competição. Acender a pira faz parte da cerimônia de abertura, e apagar a pira, faz parte da cerimônia de encerramento dos jogos. O Barão de Coubertin dizia: "Que a Tocha Olímpica siga o seu curso através dos tempos para o bem da humanidade cada vez mais ardente, corajosa e pura". Que siga!

A superação dos limites é a essência da frase que define o espírito olímpico. Em latim, “Citius, altius, fortius”. Significa mais alto, mais rápido e mais forte. Encoraja a buscar a eficiência do movimento, para o salto mais alto, o arremesso mais forte, o deslocamento mais rápido. E não se busca isso apenas nas provas individuais. Os jogos em equipe mostram atletas “especialistas” em cada uma dessas habilidades, que somadas formam um time forte, com o melhor dos competidores, levando a excelência nas partidas. Lindo de ver.

O Barão de Coubertin também desenhou a bandeira dos jogos. Para ele a paz, a amizade e o bom relacionamento entre os povos são os princípios dos jogos olímpicos, e era necessário criar um símbolo para esse espírito. Os principais valores do espírito olímpico são, entendimento mútuo, igualdade, amizade e jogo limpo. Era preciso um símbolo que evocasse todas essas ideias.

Ele desenhou então cinco anéis de cores diferentes, localizados no centro de um fundo branco, que se entrelaçam para dar voz a valores como universalismo e humanismo. As cores diferentes dos anéis representam o respeito as diversidades de todas as nações, e o fundo branco representa a paz entre os continentes.

Assim, da esquerda para a direita, de cima para baixo, os anéis são: azul, Europa; preto, África; vermelho, América; amarelo, Ásia; verde, Oceania.



Esta bandeira representa a universalidade do olimpismo, ou seja, espírito olímpico, ética no esporte, união através do esporte. O conjunto de anéis representa os continentes habitados unidos pelo esporte.

Ao menos uma das seis cores, contando com o branco, aparecem em todas as bandeiras dos países existentes em 1896, quando aconteceu a primeira Olimpíada da Era Moderna, realizada em Atenas.

A bandeira olímpica é hasteada na cerimônia de abertura das Olimpíadas. Enquanto a chama olímpica queima no estádio, ela permanece hasteada. Na cerimônia de encerramento, a bandeira é recolhida e entregue ao prefeito da cidade sede das Olimpíadas para os jogos seguintes.

Se você esteve em Marte nos últimos meses, informo que a chama olímpica chegará ao Maracanã, no Rio de Janeiro, dia 5 de agosto de 2016, para dar início aos Jogos Olímpicos. A tocha brasileira, na minha opinião, é linda. Um orgulho ver as belezas culturais e naturais do Brasil, representadas na tocha.



A tocha Rio 2016 é feita de alumínio reciclado, modalidade de reciclagem em que somos campeões. Ela é colorida com o amarelo representando o sol e o ouro; o verde as montanhas, morros e vales; azul os mares e os rios. A tocha ainda remete ao tradicional e famoso calçadão de Copacabana. Ela tem um mecanismo que a faz aumentar de tamanho quando acesa. Mede 63,5 cm quando fechada e 69 cm quando aberta. E pesa em tono de 1,5 kg.

Agora que você já conhece todo o simbolismo envolvido nesse evento, convido-o a torcer comigo pelo sucesso e segurança das competições, dos atletas e dos espectadores. Tudo bem que você tenha sido contra os jogos no Rio, mas eles vão acontecer. Então que aconteçam da melhor maneira possível.


Bora torcer?


Obs: todas as imagens foram tiradas do site oficial Rio 2016.
Obs 2: achei esse vídeo tão lindo que tive que acrescentá-lo: 



domingo, 24 de julho de 2016

Resignação ou Aceitação?

 Érima de Andrade

Aceitação não é resignação.
Mesmo que visto de fora pareça a mesma atitude, internamente é muito diferente.

Vamos entender o que é aceitação e o que é resignação.
E uma vez compreendido, sugiro que você deixe de se resignar e passe a aceitar as situações que a vida lhe oferece.

Resignação é não aceitar a vida como ela se apresenta. O resignado sempre deseja que as coisas tivessem acontecido de maneira diferente. E como não é possível, a vida é como é, se esforça para esquecer o que viveu. Como tudo que a gente se esforça para esquecer, gruda mais, pois quanto mais recusamos, mais o que é recusado, ou rejeitado, ganha força, a resignação além de nos manter presos ao passado, nos traz sofrimento.

O sofrimento vem dessa luta interior para controlar o incontrolável. A vida é impermanente e não temos nenhum controle sobre ela. Muitas vezes não é da maneira que gostaríamos que fosse, mas é a vida possível.

Na resignação fingimos nos conformar com o que está acontecendo, ao mesmo tempo que continuamos esperando que a situação seja de outra forma.

Se resignar é alimentar a própria impotência perante um acontecimento, e abandonar a luta. A resignação é sempre passiva, não vai na direção das mudanças que deseja. E como a situação não muda, ao se resignar, nos tornamos vítimas e assumimos o discurso da impotência: é assim mesmo, não há nada que eu possa fazer.

A resignação contém em si mesmo duas recusas: a recusa da realidade e a recusa da ação. Como a gente só muda o que tem consciência, ao negar se tornar consciente da realidade, você também está se negando a oportunidade de mudar o que lhe acontece.

Na aceitação há o reconhecimento do desejo de ter vivido algo diferente, mas há também a disposição de tornar o acontecimento positivo. Quando aceitamos reconhecemos a realidade, e por ver verdadeiramente o que acontece no momento, podemos buscar opções e outros caminhos.

O ocorrido pode não agradar, mas aconteceu assim. E eu vou me esforçar para estar aqui e agora, do jeito que é. O que é plenamente aceito, perde seu poder e você pode escolher como seguir em frente. Reconheço que não me faz feliz, que não é esse o meu caminho, e sigo buscando o caminho da minha felicidade.

Essa é a aceitação. Eu não permito que o ocorrido me bloqueie, não caio na tentação do pensamento fatalista “será sempre assim”, aprendo com a experiência, e sigo em frente.

Aceitar o que é, é aceitar a mudança, a transformação, a evolução. A aceitação empurra para frente, lhe ajuda a enfrentar os pequenos e grandes desafios com coragem e firmeza.

A aceitação é não ir contra a corrente, poupando sua energia em vez de brigar com o incontrolável. Aceitação é aproveitar as situações para aprender, reconhecendo que a vida é como se apresenta.

É preciso lembrar que o momento presente é fruto do que pensamos, falamos e agimos no passado. E sempre existe a possibilidade de corrigir o rumo, basta reconhecer o que lhe acontece e usar a seu favor, sabendo que, de novo, você vai colher o que plantar.

Não podemos mudar o passado, mas podemos mudar nossa atitude interior. E isso faz toda a diferença. Faz você aceitar o que lhe acontece em vez de se resignar com o que lhe acontece.

Se errar, supere e aprenda. Quando um acontecimento for bom, desfrute-o. Quando for ruim, transforme ou aceite. Quando a situação não puder ser transformada, transforme-se para melhor e recomece.

Eu aceitei e transformei. Quando precisei fazer radioterapia, aceitei a tatuagem-marcação. Nada contra, é mesmo uma necessidade marcar o campo que será irradiado, para que o tratamento seja direcionado e reproduzido todos os dias da mesma maneira. A moça que me marcou, avisou que seriam três pontinhos, um na lateral do tronco, outro entre as mamas e outro acima da mama esquerda. Tudo bem.

Mas nem tão bem assim... ela errou e o pontinho acima da mama virou um tracinho. “Mas é tão pequeno” me diziam quando comecei a pensar em fazer alguma coisa com ele. De fato, era pequeno. Mas as pessoas mais íntimas, me avisavam, com a melhor das intenções, que eu havia me rabiscado, ou com caneta, ou com lápis de olho... Tão pequeno, e todo mundo vê...

O ponto entre as mamas “cresceu” na simetrização. E se antes eu nem prestava atenção nele, passei a vê-lo sempre. Se é para ter uma marca, que seja então uma marca escolhida por mim. E foi assim que meu tracinho virou uma borboleta, símbolo da transformação; e meu pontinho um coração, símbolo da gratidão e do amor.
                                       

 E a vida segue com aceitação e felicidade.

                                        

domingo, 17 de julho de 2016

Mas pode?!?!?

Érima de Andrade

Quando eu ainda era aluna na Escola de Belas Artes, da UFRJ, e comecei a usar tinta a óleo, aprendi uma lição que levo para sempre e que me ajuda muito no consultório.

Na escola aprendíamos várias técnicas e exercitávamos em casa. Em casa, eu estava pintando e não estava conseguindo o resultado que eu desejava.
Pensei alto, sem nem perceber que tinha gente por perto: que vontade de pintar com o dedo.

Nem me lembro o que eu pintava, mas é inesquecível a reação da sogra da minha irmã, dona Eridan, que respondeu de bate-pronto: “se está com vontade, usa o dedo.”

Tão inesquecível como a frase foram as minhas sensações. Mas pode?!?!? – pensei, e senti despertar em mim um sentimento de traição, desonestidade, trapaça. Ao mesmo tempo um pensamento de: é claro, é o meu trabalho, posso fazê-lo como eu quiser.

Foi transformador! Era lógico, eu podia fazer como eu achasse melhor. As técnicas são apenas uma base, raízes fortes e saudáveis que nos permitem voar em segurança. Que sensação boa eu senti com essa compreensão.

É essa sensação que busco despertar nas pessoas que conversam comigo, e de repente perguntam: “Mas pode?!?!?”

Pode. Tudo pode, desde que você se responsabilize pelo que está fazendo e pelas consequências dos seus atos.

Essa semana aconteceu de novo. Conversando com quatro estudantes de terapia ocupacional, sobre atividades, surgiu a pergunta: “Mas pode?!?!?”. Assim mesmo, com espanto e incredulidade.

Pode sim. Vamos pensar juntos?

- Quando pensou na atividade você levou em conta a rotina, as dificuldades e as capacidades do paciente? Sim!

- A atividade que você quer propor coloca o paciente em risco? Coloca em risco a equipe? Coloca em risco o espaço? Não!

- Quando fez a análise da atividade, confirmou que estava de acordo com seus objetivos de tratamento? Sim!

- Você acredita que essa atividade contribui para o plano de tratamento e que o paciente terá ganhos com ela? Sim!

- Você tem conhecimento suficiente para oferecer essa atividade? Sim!

- Você fica confortável oferecendo essa atividade ao paciente?

É preciso pensar a respeito.

Falávamos da pintura com tinta a óleo. Se o terapeuta se incomoda com o cheiro; se fica tenso com a possível sujeira da atividade; se fica aflito com as experiências com a tinta feitas pelo paciente; se fica ansioso durante a atividade, vale pensar se compensa mesmo insistir em oferecê-la.

Não é a atividade que trata o paciente, é a relação terapêutica. E se o terapeuta não está à vontade, esse sentimento vai com certeza contaminar a relação.

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez" Jean Cocteau. 

Terapeutas ocupacionais são especialistas em fazer o impossível. Quando fazemos a análise da atividade descobrimos soluções em etapas que vão impactar positivamente o todo. Na minha opinião é o que temos de mais legal, o olhar treinado para análise de atividades. E com esse treino, fazemos o impossível.

E sim, tem muitas outras atividades que beneficiam o paciente, você não precisa ficar desconfortável.

Não é só em conversas com estudantes que surge a sensação: “mas pode?!?!?” Em muitas outras oportunidades é possível levar a compreensão de que pode tudo, sempre.

Lembro especialmente de uma paciente que me confessou que gostaria muito de meditar. Mas isso é fácil, podemos fazer alguns exercícios. Resposta dela: “Na minha religião não tem meditação. ”

Hum... está bem, vamos conversar.

A meditação fortalece a sua espiritualidade, e espiritualidade e religião não são a mesma coisa.

A espiritualidade possibilita a conexão com o seu melhor. É uma conexão interna, de você com você mesmo, com sua melhor parte, com sua luz, com sua sabedoria. É uma conexão totalmente pessoal.

A religião é uma conexão externa, com ritos, cultos, regras, estudos e caminhos comuns a todos da mesma crença. É comunitária.

A religião é uma instituição, e a espiritualidade é a vivência. Em qualquer religião você pode viver a espiritualidade. Mas você também pode experimentar a espiritualidade sem ter nenhuma religião.

Muito se diz que a melhor religião é aquela que lhe faz uma pessoa melhor. E pode ser que para isso você agregue práticas e estudos de várias religiões. Mas pode?!?!? 

Com certeza!

E quantos mais caminhos você buscar, mais conhecerá de várias práticas. É justamente esse conhecimento que derruba os muros da intolerância.

A espiritualidade é individual, respeite. A religião é uma escolha por afinidade. Respeite.

“Construímos muros demais e pontes de menos. ” Isaac Newton. 

Hora de virar o jogo e construir mais pontes na sua prática diária.

domingo, 10 de julho de 2016

Gratidão

Érima de Andrade

Comigo aconteceu de acordar grata por tudo. Que bom!
Um ciclo se fechou e sou profundamente grata por tudo que vivi nele.

A vida me mostrou que meus filhos, meus pais, meus irmãos formam uma rede de proteção tão maravilhosa que eu posso me jogar sem medo. Sei que vão me segurar, confio e entrego. Como amo fazer parte dessa família! Contem comigo meus amores, também estou na rede de proteção de vocês.

Tudo na vida tem começo, meio e fim. Tudo é impermanência e eterna mutação. Tem dias que você acorda sabendo que é uma pessoa privilegiada, com luz, alegria e amor para distribuir. Outros dias, ao acordar, percebe que esqueceu o valor que tem.

Tudo bem, aceite seja lá o que for. Ao aceitar, você abre espaço para que nesses momentos menos brilhantes, os anjos apareçam para lhe cuidar. Eles se aproximam para soprar essa brasinha que, por descuido, você ia deixando apagar. E quando se dá conta, tem de novo, dentro de você, sol brilhando, jardins, passarinhos, borboletas, arco-íris, vida em todo lugar, forte, brilhante e feliz.

Alexandre Souza Vianna, Affonso Accorsi Jr., Ricardo Campos Salgado, Ana Cristina de Oliveira Marinho e as meninas que formam as redes de apoio deles, foram anjos que reacenderam minha gratidão, minha alegria, minha certeza, fé, confiança que a vida vale a pena e que podemos, devemos, precisamos fazer tudo ao nosso alcance para voltar a brilhar.

Por isso eu afirmo, qualquer coisa que você esteja vivendo no momento, qualquer que seja seu sentimento agora, lembre-se, está tudo bem, vai passar e você vai poder agradecer por isso.

Para tanto, mantenha-se atento ao que acontece ao seu redor, e vai descobrir mais gente passando, ou que já passou, pelo que você está passando agora. Para mim, conversar com as meninas da Academia Mariângela foi transformador. Apesar de termos recebido o mesmo diagnóstico, as histórias, os sintomas, os tratamentos e os caminhos foram totalmente diferentes. Diferentes em tudo, mas com uma única certeza em comum, vai passar e vamos virar essa página. Viramos.

Agradeça a vida por sua disposição de viver a realidade tal qual ela é, pois, só olhando de frente o que lhe acontece, você pode modificar o que não está bom. Abra o seu coração para o que você está vivendo. Saiba que seu coração só abre quando você compreende, perdoa e aceita. Compreende que tudo passa, perdoa a vida por ser diferente do que você queria, aceita que por mais desalentador que a vida se mostre, sempre há o que agradecer.

A compreensão ilumina o perdão. O perdão ilumina a aceitação. A aceitação ilumina a gratidão. E a gratidão ilumina a liberdade, inclusive de escolher para onde direciona seu olhar.

Então escolha direcionar seu olhar para o que lhe nutre. Escolha ser melhor, dentro e fora. Escolha amar tudo o que chegar até você. Escolha agradecer as infinitas possibilidades de ser feliz, de viver cada dia e cada hora como um presente.

Escolha viver tudo o que você é. Você é aquilo que reconhece, e pode fazer uso da vontade consciente para procurar dentro de você razões para agradecer.

Cultivar uma atitude de gratidão é a chave para ter o coração aberto, cheio de expectativas de felicidade. Você está vivo e experimentando a vida, você é capaz de aprender e crescer. Agradeça.

Bora viver, com gratidão, uma vida leve e alegre, simples e cheia de paz.


Bendita internet que nos apresenta a tão boas imagens! Essa que cabe perfeitamente na minha emoção hoje, está assinada por Fran Ximenes

Obrigada!

domingo, 3 de julho de 2016

Seguindo o fluxo

Érima de Andrade

Teoricamente seguir o fluxo é fácil, pois a vida sempre segue em frente.
O sentido da vida é para frente, tudo no universo evolui, tudo flui, tudo se encaminha para o melhor. Quando aprendemos que tudo o que vivemos na nossa vida tem um sentido, que tudo contribui para o nosso crescimento, e que tudo passa, podemos relaxar e seguir o fluxo.

Nem sempre é fácil, pois seguir o fluxo significa abrir mão do controle de tudo e todos.

Seguir o fluxo significa que estamos agindo sem esforço, com tranquilidade, aceitando suavemente tudo o que nos acontece. Seguir o fluxo confirma a sabedoria, e a percepção, de que não temos controle sobre a vida, e que é preciso esperar amadurecer para frutificar.

Não seguir o fluxo, ou navegar contracorrente, significa ter uma vida cheia de apreensões, tensões, expectativas e frustrações. Significa não reconhecer que existe um momento certo para cada coisa acontecer e que isto está além da nossa possibilidade de determinação e controle.

Seguir o fluxo é basicamente não lutar contra a realidade. Costumamos fazer planos, criar expectativas e metas para tudo na vida. Mas as coisas podem acontecer diferente do que planejávamos. É ruim, eu sei. Mas ficar preso nisso, se lamentando não vai te levar a lugar nenhum. Você vai apenas perder tempo e energia reclamando e desejando que fosse de outro jeito.

Não temos controle sobre o fluxo da vida, mas podemos controlar como agir diante do fluxo: se vamos navegar com tranquilidade ou vamos ficar brigando com o inevitável, repetindo “eu não quero”.

E aqui vale lembrar que quanto mais brigamos com a realidade, menor é nossa capacidade de alterá-la. Sempre lembro como exemplo de brigar com a realidade, da filha de uma ex paciente. Ela repetia revoltada diariamente, “eu não quero esses números”. Que números eram esses? O resultado da sua medição diária de glicose. Berrava, se descompensava e continuava insistindo em não alterar hábitos que mantinham essa situação. Ok, é uma escolha.

Tudo, tudo na vida vale ao menos como aprendizado. E uma vez aprendido, aceitando, retendo apenas o que valeu, podemos virar a página, seguir em frente, tentar de novo e tentar diferente.

Mas virar a página é virar mesmo a página, encerrar um ciclo, sair, mudar. Muitas vezes nos enganamos dizendo que sim, saímos. Explicamos as pessoas próximas que saímos tão bem que deixamos uma porta aberta para voltar... Hum... Não, né? Não saímos, apenas nos iludimos dizendo que sim.

A imagem aqui é de um barco que sai, mas continua preso ao cais. Motor ligado, força nas máquinas, e o barco limitado pelo tamanho da corda. Sim, tem para onde voltar. E sim, não vai muito longe. Novos ares, novas paisagens, vida nova, nada disso acontece preso ao cais. Definitivamente não virou a página.

Quanto mais facilmente aceitamos os fatos como são, maior a nossa condição de assumir o leme e navegar na direção desejada. Com teimosia não vamos a lugar algum. O teimoso geralmente luta contra o fluxo e não aceita outra coisa senão o seu ponto de vista. Não abre espaço para flexibilidade, não vê as sincronias de forma positiva, enxerga as situações da vida como obstáculos a serem vencidos e luta ferozmente contra eles.

Com determinação, isto é, de coração aberto, pronto para abraçar com positividade as oportunidades que a vida oferece, alcançamos nossos objetivos.

Se conhecer, seguir o fluxo, aceitar as dificuldades, agradecer, vai lhe moldando para seguir a vida adiante. Se você se abre para a vida, os caminhos da vida se abrem para você.

O que é não pode ser mudado, mas podemos mudar o que será. E a mudança começa com a aceitação. Nós só conseguimos modificar o que aceitamos. Aceitar os fatos como eles são, olhar com clareza para a realidade que se apresenta, torna tudo mais tranquilo.

Quantas vezes você quis tanto algo e se frustrou por não conseguir? Perdeu a paciência e a harmonia e, naturalmente, a situação não evoluiu para o positivo no momento do estresse. No entanto, quando você relaxou, e até desistiu da coisa, ela simplesmente aconteceu.

Então, se você precisa ir a um lugar e tudo conspira para que isso não aconteça, apenas relaxe e respire. Se precisa fazer algo importante e tudo conspira para que isso não aconteça, novamente, relaxe e respire. Não se estresse ou se desespere. 
Você pode manifestar maravilhas quando está em paz. Se você se entregar ao fluxo, tenha certeza que o que for melhor para você irá se manifestar. 

Com o tempo descobrimos que todo fim traz um novo começo, só não sabemos disso na hora. Com a passagem do tempo, percebemos que tudo está certo e que aquilo que parecia um beco sem saída se mostra uma avenida aberta para novas e melhores possibilidades, um fluxo amoroso e feliz.

Tenho uma vizinha que simplesmente fluiu no que lhe aconteceu e é lindo de ver. 

Um passarinho fez um ninho na nova caixa de correio dela. E agora? Primeiro ela colocou um aviso pedindo que a correspondência não fosse colocada ali. Era preciso proteger o ninho das cartas caindo sobre ele.

Depois ela ficou acompanhando a gestação, o crescimento, e o abandono do ninho. Assim que esvaziou, comprou outra caixa de correio e colocou a antiga numa árvore, pois sabe que muitos pássaros nidificam no mesmo local todos os anos. 
 
Sabe também que sempre que se consegue dar a proteção necessária aos ninhos, é possível presenciar o crescimento de gerações no seu quintal. 




E a vida segue o fluxo cheia de passarinhos. Boa viagem!