domingo, 31 de agosto de 2014

Pedir ajuda, você sabe?

Érima de Andrade

Divido com vocês um texto ótimo escrito por Valéria Bastos. Boa leitura!

"Pedir ajuda, você sabe?


Como é difícil pedir ajuda às vezes. Aprendemos tanto com a autossuficiência e o individualismo que perdemos o jeito de pedir ajuda. Sentimos vergonha e acanhamento, ou sentimos orgulho mesmo. Orgulho para o outro não saber o que você está passando, ou para a sua imagem não ficar arranhada.

Construímos autoimagens idealizadas de nós mesmos e nos identificamos com elas. Imagens de uma pessoa que se resolve bem, lida bem consigo mesmo e com suas dificuldades. Talvez a imagem de uma pessoa forte, que todo mundo pode contar com ela para o que der e vier. A imagem de alguém que entende de tudo e tem solução para tudo.  A imagem de alguém que não se deixa abater pelas circunstâncias da vida, ou de alguém que sempre se virou sozinho e nunca teve apoio e agora é que não vai ter.

O fato é que essas imagens vão sendo estruturadas ao longo da vida e a pessoa se torna refém delas. Não consegue mais se desvencilhar de tais comportamentos que confirmam essa imagem e quando uma situação acontece, atua aquele personagem automaticamente. Enquanto isso, vai se fechando mais e mais em seu casulo de autossuficiência solitária e quando menos percebe, cadê o apoio das pessoas? Claro, todo mundo sumiu, ninguém nem pensa que você precisa de ajuda para alguma coisa. Parece até um afronta lhe perguntar: quer ajuda? A resposta é sempre a mesma: não, está tudo bem...

O orgulho, que está encoberto pela imagem de autossuficiência é uma das características do eu inferior que mais nos causa problema. Quando estamos submetidos a ele, encobrimos muitos sentimentos como o medo, a vergonha, o complexo de inferioridade, o não saber das coisas, a impotência, o fracasso, a insuficiência, as perdas, os recalques, os vícios, a incompetência, a vaidade, a humilhação, a exclusão. Mas, como é muito difícil encarar essas emoções que machucam demais, a couraça do orgulhoso começa a se formar para se proteger. Então, o orgulhoso nunca pede nada, nunca precisa de nada e sempre é melhor que o outro em tudo.

Conhece alguém assim? Se conhece, veja bem como ele atua e procure perceber o que ele esconde. Se esse alguém é você, faça uma lista das coisas mais difíceis de encarar em si mesmo, aquilo que mais o ofende, causa-lhe raiva ou o deixa triste. Pergunte-se quando esse sentimento surgiu na sua vida, faça uma retrospectiva, vá longe, lá na infância, perceba como isso foi reforçado ao longo dos anos. Peça de verdade para ir à origem dessa dor, ir ao núcleo, onde você sentiu que perdeu algo importante e a partir dali começou a forjar um novo eu para lidar com aquela dor. Ao chegar ao núcleo, perceba a promessa que você se fez e observe se até hoje você está agindo de acordo com ela. Nesse momento, terá duas opções, continuar no seu casulo ou sair dele e deixar o passado pra lá. Você escolhe.

Se resolver abandonar a casca, olhe para as pessoas amigas que lhe ofereceram ajuda e você se negou a receber. Comece a ver o outro lado agora, exercite esse pedido, abra-se para a troca, para se doar também. Veja como é bom, como é agradável sentir o apoio e dar apoio. Como é caloroso e nos dá um senso de acolhimento e pertencimento. Como sentimos que estamos juntos, unidos, fazendo parte. Como o estado de separação se dissolve e a ideia de eu melhor que outro se revela ilusória e transitória. Perceba o ciclo da vida, um dia lá, outro dia cá. Veja que nada permanece igual o tempo todo. Hoje você dá, amanhã você pede. É um fluxo, a vida segue esse fluxo, tudo no universo segue esse fluxo da interdependência das coisas. É bom não resistir a isso, é bom fluir com a vida. Fica mais leve, mais fácil, mais gostoso. Vamos exercitar?"

domingo, 24 de agosto de 2014

Mãos

Érima de Andrade 

Sempre que penso nas mãos, lembro de um verso de uma poesia que ouvi num concurso de poesias no colégio: “minhas suaves e poderosas mãos... com elas eu toco as profundezas do mundo.” Lembro que a autora se chama Ana Maria, mas não lembro o sobrenome, e o Google não me ajudou dessa vez...

Suaves e poderosas mãos... como essas palavras descrevem bem esse pedaço da nossa anatomia!

Suave no toque, no carinho, no cuidado; poderosa na massagem, na escrita, no fazer. Com elas tocamos e transformamos as profundezas do mundo, a Ana Maria tem toda razão!

E mesmo sendo assim tão importante, às vezes nem reparamos nelas... Claro, que se houver algum desconforto, vamos nota-las, mas se tudo estiver correndo bem, nem a olhamos. Já reparou nas suas mãos? Você cuida das suas mãos? Dedica a elas um tempo especial de cuidados? Já massageou suas mãos?

Por quê?  

Por que é bom! Receber uma boa massagem nas mãos, além de relaxante, é extremamente gostoso.

Quer experimentar?

Então mãos a obra! Vamos à massagem!

Comece percebendo a sua mão. Toque nela como se estivesse vendo-a pela primeira vez. Descubra as possibilidades de suas articulações, rotação, flexão, extensão, de cada dedo e depois, da mão como um todo.

Com o polegar, massageie a palma da mão, do punho para os dedos e do centro para a borda. Depois com o polegar e o indicador, puxe cada dedo como se fosse tirar uma luva muito apertada. E então massageie toda a superfície, palma e dorso, usando a palma e dedos de sua mão.

E aí, troque de mão e repita os movimentos.

Para terminar, feche os seus olhos e foque em sentir o toque, a pele, a textura, a temperatura, permitindo-se descobrir todas as sensações oferecidas por suas mãos. Agradeça as suas suaves e poderosas mãos. Descubra-as. Você só tem a ganhar.


Boa semana!

domingo, 17 de agosto de 2014

Entressafra

Érima de Andrade

Tem momentos na vida que vivemos um vazio. Vazio de ideias, de propostas, de clientes, de projetos. É a entressafra, um espaço de tempo entre um trabalho e outro, o espaço entre um ciclo que se fechou e outro que ainda não abriu.  

Você criou, produziu, deixou que sua obra ganhasse o mundo, viveu a sensação de dever cumprido e... ficou vazio... é preciso começar de novo.

É comum que a gente viva ao longo da vida alguns desses intervalos, como uma geada, onde nada nasce. É o momento de estiagem, de observação, de paciência. Mergulhados nessa energia, vivemos a sensação de que a fonte secou, como se nunca mais fosse fazer alguma coisa que valesse a pena.

É esse o período de entressafra descrito por muitos criadores como sendo de medo, medo de que nada mais ocorra, medo do vazio, medo do fazer mecânico, sem emoção, e uma angústia de não se sentir motivado por aquilo que está fazendo.

É claro que mesmo vivendo isso, continuamos a produzir, mas nesse momento, as coisas são feitas porque se sabe fazê-las, conhece as técnicas, os caminhos, mas não existe a motivação, a ideia que sustenta e direciona todo o trabalho.

Se esse momento demora muito então... ô angústia!

Mas não tem jeito, é preciso seguir em frente, se preparar para um novo ciclo. E como fazer isso? Ouvindo músicas, indo ao cinema, teatro, exposições, conversando, trocando ideias, passeando, dançando, brincando, lendo, olhando o céu, revendo suas obras, se alimentando com as sensações, os sentimentos e as informações, enfim, vivendo.

Essas coisas externas produzem reações, sensações, sentimentos que fazem com que aos poucos um novo ciclo comece a ser gestado. É esse processo acumulativo de sensações e informações que vai gerar o novo. Para você criar de novo é preciso observar, viver, se mexer, fazer por onde. E o novo é tudo que você quer para sair da entressafra.

A entressafra existe? É claro que existe! Mas não se pode viver dando força para essa energia de vazio. Aproveite esse momento e faça um curso, assista palestras, se informe mais. Quem sabe você começa uma atividade física, ou se disciplina para fazer meditação ou ainda aproveita para tirar dos seus armários tudo aquilo que não serve mais e que você guarda por puro apego?

Quem sabe esse período de entressafra seja tudo o que você está precisando viver nesse momento?

É um período, uma fase, vai passar.

E se você quiser, pode ser vivido sem muita angústia.


Vamos em frente?

domingo, 10 de agosto de 2014

Automassagem

Érima de Andrade

Feita nos pés, ou no corpo todo, a automassagem exercita os músculos e estimula o fluxo sanguíneo, e é tudo de bom. A automassagem aumenta a flexibilidade, diminui a tensão, libera a rigidez.

No dicionário, tensão é estado de nervosismo e ansiedade; situação de conflito; estado do que está tenso.

E a tensão muscular, um estado de rigidez que se manifesta em certas partes do corpo.

Rigidez... a mesma rigidez que limita os movimentos do corpo, limita a flexibilidade emocional. Nossas emoções estão armazenadas no nosso corpo. Toda tensão física, ou psicológica, provoca um aumento da tensão muscular. Mas é possível lidar com isso.

Pode ser que você não se dê conta da sua tensão, mesmo assim, criar o hábito da automassagem só lhe trará benefícios. Ela pode, por exemplo, funcionar como método preventivo de dores, mal-estar e tensões.

A automassagem pode ser feita em qualquer horário e não precisa de nenhum creme ou óleo para massagear. Pode ser inclusive na hora do banho, com a ajuda de esponjas vegetais, massageando bem todo o corpo, principalmente pontos doloridos, para aliviar a tensão. A automassagem desenvolve confiança, cuidado e contribui para a melhora da auto-estima e do autoconhecimento.

Fez lá sua atividade, chegou em casa, tomou um banho, hora de pegar seu hidratante favorito e massagear seu corpo todo. Ou ao menos, seu pé em detalhes. A massagem proporciona benefícios físicos e psicológicos, alivia o estresse, as dores musculares, diminui ansiedade, irritabilidade, aumenta a flexibilidade e a elasticidade, além de ser um prazer.

Não há segredos para praticar a automassagem, mas é preciso tomar alguns cuidados:

- o toque deve ser pele com pele, sem usar as unhas;
- não faça força nas mãos contra o corpo, apenas seja firme, carinhoso e cuidadoso;
- não pense nos problemas enquanto faz a massagem, concentre-se apenas no seu exercício e nas sensações do seu corpo;
- não pare no meio, permita-se viver intensamente essa experiência.

Faça o seu roteiro, ou inicie pelos pés, massageando dedo por dedo e depois os pés como um todo. A seguir, suba por suas pernas, massageando do tornozelo a bacia.

Continue sua massagem com as duas mãos no quadril, fazendo movimentos semicirculares, de baixo para cima, até o ombro. Lembre-se de massagear também a lateral do seu tronco.

Vá para suas costas, deslize as mãos, de cima para baixo, começando no ponto mais alto que alcançar, percorrendo as laterais da coluna vertebral até o cóccix. Massageie então suas nádegas. Sinta a musculatura soltar dos seus ossos. Suba pelas costas, neste mesmo movimento, até onde suas mãos alcançarem.

Passe para os ombros, braços e mãos. Com a mão cruzada, segure seu ombro esquerdo, e com um movimento de pressão de dedos e palma, massageie ombro, braço, antebraço e mãos. Troque de ombro e repita o movimento. Depois massageie a palma da mão, do punho para os dedos. Lembre-se sempre de fazer os dois lados.

Agora posicione as mãos em forma de pinça e faça movimentos na nuca, descendo e subindo pelo pescoço. Com o mesmo movimento, siga o contorno do couro cabeludo, puxando em cada vez, um pouco de cabelo. Não use força, seja firme.

Pressione o couro cabeludo em toda sua extensão com as pontas dos dedos, fazendo movimentos circulares, como se estivesse espalhando o xampu. Com o polegar e o indicador massageie ao redor da linha do couro cabeludo, massageando também suas orelhas.

E finalmente o rosto. Percorra toda face e a testa fazendo movimentos circulares com as pontas dos dedos. Com o polegar e o indicador massageie seu maxilar do queixo para a orelha. Depois do canto da boca para a orelha, e da aba do nariz até a orelha. Use o dedo anular, o mais leve da mão, para tocar com suavidade a região dos olhos. Com leveza, pressione o dedo e massageie a pele ao redor dos olhos.

Com as pontas dos dedos sobre as sobrancelhas, empurre a testa para o couro cabeludo, com se tirasse uma touca apertada. Com as mãos na horizontal, vá da testa até o queixo. Ao passar pelos olhos feche-os e faça uma leve pressão.

Agora esfregue uma mão na outra, e com os olhos fechados, coloque as mãos em concha sobre o rosto. Mantenha um pouco. Repita o movimento, e coloque as mãos naquele ponto que você sente que ainda precisa relaxar um pouco mais.

Termine sua automassagem dando uma boa espreguiçada.


Tenha um bom dia!

domingo, 3 de agosto de 2014

Atrasos

Érima de Andrade

De modo geral, tentamos tornar a nossa vida planejada. Tentamos controlar todos os fatos e acontecimentos. Tentamos não ter imprevistos. Planejamos a agenda do dia milimétricamente, para ser eficiente, para não ter desperdício, para nada dar errado.

Também fazemos um planejamento milimétrico mensal, semestral, anual. Algumas pessoas começam janeiro sabendo os compromissos que terão em dezembro. O ano mal começa e para essas pessoas, já está tudo planejado.

Mas nem tudo está nas nossas mãos. Quando, por exemplo, você marca uma consulta com um médico, no horário ideal para você, chega na hora certa e descobre que ele teve um atendimento de emergência, e todas as consultas vão atrasar uma hora e meia. O que fazer?

Ou pode acontecer daquele tratamento de 28 dias, atrasar por que a máquina quebrou. Ou também, você sai de casa com tempo suficiente para honrar um compromisso e fica presa no trânsito, por que houve um acidente e é preciso esperar que os veículos envolvidos sejam retirados. Como lidar com esses atrasos?

Em primeiríssimo lugar, é preciso reconhecer que nada disso é pessoal. A máquina não quebrou para implicar com você, o médico não atrasou para lhe dar uma lição, a moto não se jogou na frente do ônibus para lhe atrapalhar. A sua agenda precisa ser modificada, e isso não é culpa sua. Ponto.

Reconhecido o atraso, como você vai lidar com ele? Você pode ficar irritada, reclamar, chorar, espernear e, no máximo, você vai se sentir mais leve. Pode ser bom também. Afinal o sentimento de impotência é muito dolorido, e chorar pode ajudar. Mas lembre-se, por mais que você tenha ficado irritada com a situação, você não tem o direito de ser violenta com ninguém. Violência não leva a nada, e eleger alguém para ser o alvo da sua frustração não vai lhe ajudar a resolver o problema.

Consciente do problema encare-o de frente. O que você pode modificar dessa situação? O que está em suas mãos resolver? Assuma responsabilidade sobre o que está acontecendo e aja. Olhe sua agenda, modifique o que pode ser modificado, desmarque o que não vai mais dar tempo de fazer, avise quem precisa ser avisado. Pronto, você fez o que podia ser feito.

Tudo resolvido e você descobre que tem ainda um tempo livre antes do seu compromisso. Que tal usar esse tempo para se sentir melhor? Há quanto tempo você não repara na sua respiração? Há quanto tempo você respira assim, curto, rápido, ansiosa? Há quanto tempo você não dá um profundo e delicioso suspiro?

Nós prendemos a respiração, sem perceber, em momentos de sustos ou medo, ficamos sem ar diante de uma notícia grave, esquecemos de respirar quando nos preocupamos com alguma coisa. E senão combatemos o estresse, nossa respiração vai ficando cada vez mais curta, rápida e incompleta como se estivéssemos sempre assustados.

Mas isso tem solução, e um modo de recuperar o equilíbrio, seja na sala de espera de um consultório, seja num engarrafamento, é prestar atenção à respiração e fazê-la lenta, longa e profunda. É de graça, depende apenas de você, e não requer prática nem habilidade. Na respiração lenta, suave, profunda, o ar chega até o fundo dos pulmões e beneficia os órgãos internos com sua massagem. O coração, que não pode ser controlado diretamente, obedece à respiração e se beneficia quando ela é tranquila. O corpo todo relaxa. Nada mais simples e nada mais monótono: inspira, expira, inspira, expira...

Pode parecer um tédio, mas não é. Você pode observar a passagem do ar pelas narinas, o modo como o ar enche o peito, a barriga, e depois esvazia. Pode se fixar nas sensações que a respiração profunda e lenta causam a você, uma leveza no corpo, uma clareza no raciocínio. E de repente respirar se torna um prazer. Observar a respiração é uma forma pessoal de meditação que pode acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar.


Vamos experimentar?