domingo, 28 de outubro de 2012

Não?

Érima de Andrade

Tenho escutado com frequência que o cérebro não registra o “não”.

Não consigo acreditar nisso.

A minha prática mostra exatamente o contrário: o cérebro além de registrar o não, fica em alerta ao que vem depois do não. Por exemplo, se você está caminhando, ou fazendo algum outro movimento, e alguém berra “não” ao seu lado, você imediatamente para e presta atenção.

Para e presta atenção ao que vem depois do não.

O mesmo acontece quando ouvimos, ou lemos, uma frase que começa com o não: não pense num elefante rosa dançando balé.

Traduzindo: pare e preste atenção, pense num elefante rosa dançando balé.

A atenção vai toda para a frase após o não, e pensamos no que não deveríamos pensar.

E depois de novo se nos perguntarmos, o que é mesmo que eu não devo pensar? Num elefante rosa dançando balé.... e lá vamos nós dar atenção constante ao que vinha depois do não...

O “não” é imperativo, ele nos obriga a olhar atentamente a frase que o acompanha. Se não é para lembrar do elefante, as alternativas do que é possível pensar, devem estar sem o não. Pensem em borboletas no jardim, pensem num balé de golfinhos, pensem....

Usamos o não como recurso para chamar atenção até de maneira inconsciente. Quantas vezes começamos uma frase com não? Ou quantas você você já ouviu alguém que ao relatar um fato começa com a palavra não?

Da maneira como eu vejo, não estamos começando a frase com uma negativa, e sim com: pare e preste atenção, quando eu fiz... e segue a história que esta sendo narrada.

Da mesma maneira quando usamos o não para dar limites. Quando dizemos não para demarcar um espaço, emocional ou não, estamos dizendo, pare, preste atenção, até aqui você pode, daqui para frente não pode mais.

Nesse caso, o não é a poda. E o procedimento de poda é necessário para que a árvore cresça forte e saudável. Tome consciência do poder construtivo do não. O não é poderoso, é ele que mantem nossas reservas de energia, alegria, criatividade, amor e tempo. É o não que preserva o nosso espaço pessoal.

Quanto mais assertivo você for, mais fácil para você dizer não, mais fácil dar limites, mais fácil ter atitudes firmes. “Baixa assertividade pode levar a depressão, frustração e baixa autoestima”, diz Eliane Falcone. “Ser gentil, solidário, prestativo, amigo e companheiro é muito bacana. Mas não tem nada a ver com negligenciar as próprias necessidades”, completa ela.

Dizer não pode levar a uma situação desconfortável ou de confrontamento. Mas se você sente que é essa resposta, é um não que você deve falar. Seus sentimentos são a sua bussola, confie neles.

Quando você sente não e responde sim, na verdade esta dizendo que o que você sente não tem valor. Você está se privando das suas necessidades afetivas básicas, criando mágoas e ressentimentos, e isso gera conflito, culpa, tédio e a sensação de mexer-se mas não sair do lugar. É o que você quer?

Um, o que você quer. Dois, o que você pensa. Três, o que sente. Quatro, o que faz. Pras coisas darem certo e a vida fluir, essas quatro coisas precisam estar alinhadas. Faz sentido pra você?” (Marco Antonio Beck)

Se faz, repense onde e como você está usando o não. Antes que se sinta sobrecarregado e a insatisfação tome conta do seu peito, entenda que se você não quer uma situação, se é realmente verdade para você que aquilo não é a sua escolha, diga não.

E siga feliz e sem culpa.



quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Desejando

Érima de Andrade

Uma grande amiga minha, uma vez me disse, que a maior parte das pessoas que ela conhece, se encontrasse uma joia mágica que realiza desejos, ou libertasse o gênio da lâmpada, não saberiam o que fazer. Simplesmente porque não sabem o que desejar.

Muitas vezes não sabem o que desejar, porque realmente não sabem o que querem.

No texto sobre a lei da atração, escrito por Michael Losier, ele explica que para muitas pessoas é mais fácil listar o que não desejam, ou o que não gostam. Então ele propõe um exercício para ajudar a identificar o seu desejo, partindo do que as pessoas tem facilidade, que é a lista do que não gostam. Ele chama essa lista de lista de oposições.

Por exemplo, uma lista relacionada ao trabalho pode começar com: não gosto de ver que na minha agenda tem muitos espaços vazios entre um atendimento e outro.

Numa lista do que não gosta nos seus relacionamentos, pode ter: não gosto de não ser consultada na hora de tomar decisões que digam respeito a mim também.

Numa lista sobre sua carreira: os resultados do meu trabalho e dedicação nunca são reconhecidos.

Numa lista sobre sua situação financeira: todo mês é um sofrimento para pagar as contas em dia.

Seguindo esse exercício para conseguir clareza do que você deseja, uma vez feita a lista de oposição, deve-se perguntar: mas afinal, o que eu quero? E começar a listar seus desejos tendo a certeza de ter colocado itens opostos a todos os itens da sua lista de oposições.

No exemplo da lista em relação ao seu trabalho, você pode começar por: quero clientes que cheguem com facilidade ao meu consultório, que deixem minha agenda totalmente preenchida, e com uma lista de espera para futuros atendimentos.

Numa lista sobre o que deseja nos seus relacionamentos, pode ter: gosto de estar com pessoas que perguntem, e se importem, com o que eu penso e sinto.

Numa lista sobre sua carreira pode ter: quero receber cada vez mais convites para compartilhar minha experiência profissional. Ou ainda: quero receber cada vez com mais frequência prêmios, brindes e presentes que atestem o sucesso do meu trabalho.

Na lista sobre sua situação financeira pode estar: quero ter uma entrada de dinheiro constante, vinda de fontes conhecidas e desconhecidas, para pagar minha contas com facilidade, e investir na melhoria da minha qualidade de vida.

E assim, item por item, você vai construindo o que deseja. Tendo clareza do que quer conquistar, é mais fácil se planejar, criar metas, focar no objetivo e ir a luta.

Uma atitude mental positiva ajuda muito para que seus desejos se realizem. Explica Heloisa Capelas:

Ser positivo é levar em consideração o tempo necessário para que seus desejos sejam realizados, tendo em mente que o pedido e as ações que levam a eles são por nossa conta, porém, o tempo para que ele seja atendido fica por conta do Universo. Ser positivo é desprender-se do passado e libertar as pessoas de nossos desejos e controles. É estar e se sentir livre, aberto, disponível e pronto para receber o que é seu. Lembrando que o que é seu é seu por direito divino.”

Ela completa:Receber está diretamente ligado ao agradecer. Agradecer faz com que um espaço dentro de você se abra para que o merecimento instale aquilo que é Seu e que você está recebendo. Agradeça... agradeça... agradeça! Agradeça antes, durante e depois e expresse o seu amor sempre.”

Que seus desejos se realizem!

domingo, 21 de outubro de 2012

Verão e academia

Érima de Andrade

Começou o horário de verão e com ele a busca por um cuidado mais efetivo com o corpo. Pelo menos aqui, numa cidade litorânea, onde o verão é marcado por roupas mais leves, soltas e muitas atividades ao ar livre.

Com a chegada do verão, não teremos mais os recursos dos casacos estruturados para esconder uma má postura; nem a desculpa do frio para justificar a falta de flexibilidade; nem a chuva+vento+frio para desculpar o sedentarismo. Então é hora de encarar de frente o que precisa ser melhor cuidado, para garantir uma boa qualidade de vida.

O ideal é cuidar diariamente dos quatro aspectos, corpo, intelecto, emoção e espirito. Mas sabemos que descuidos acontecem, e um deles vira e mexe fica negligenciado. Tudo bem, tudo está sempre bem, é só colocar consciência e voltar a se cuidar.

Num desses meus períodos, voltada para o trabalho, me peguei sedentária e fui atrás de uma academia. Frequentei por anos, mantenho contato até hoje com aquele grupo, mas, nesse momento, meu horário me levou para uma outra atividade.

Naquela época, íamos comemorar os 25 anos de carreira da Mariangela Andreolli como professora. Uma das sugestões foi que as alunas escrevessem sobre como chegaram à academia, para quem sabe, juntarmos 25 histórias para um livro comemorativo.

Eis o que escrevi:

De repente me dei conta que estava sedentária.

Entrava no meu carro na garagem de casa, saia na garagem do consultório, pegava o elevador, atendia sentada o dia inteiro, e a noite fazia o caminho de volta; completamente sedentária!

Para acabar com isso, me matriculei numa academia, na AMA, Academia Mariangela Andreolli.

Primeiro dia de academia, aula de hidroginástica.

De todas as atividades oferecidas numa academia, acho que a hidroginástica é a que melhor favorece a socialização. Fui recebida por uma colega dizendo para eu não me assustar com o numero de alunos, que só ficava cheia assim em dias de sol forte, que se o tempo fechasse um pouquinho a “turma que não tem chuveiro em casa, não vai a aula.”(sic)

Óbvio que não entendi... “É o pessoal que tem medo de água que cai de cima, se ameaça chover eles faltam.”(sic)

Outra tratou logo de se explicar dizendo que a chuva não era o problema, que ela tem medo é do vento depois da aula, por isso só vai se tem sol... E nesse clima descontraído, começou a aula.

Bem puxada, para mim principalmente. Mas é claro que fiz tudo, meu orgulho não me permitiu parar antes dos colegas com o dobro da minha idade. Aguentei firme, orgulhosamente até o fim.

Fim da aula, banho tomado, aula de alongamento.

Mariangela, a professora, conduz o exercício: “De pé, deixem a cabeça pesar para frente levando o tronco, braços soltos, enrolando suavemente até em baixo.”

E continua: “Relaxem as mãos no chão, não travem os dedos.”

No chão?!? A mão vai até o chão?!?

Não acredito que estou tão emperrada assim, minha mão, com muito esforço, fica abaixo do joelho, o chão fica a quilômetros dela.

Num outro exercício: “Sentada, pernas abertas, mão esquerda na perna direita, mão direita atrás do tronco, olhando por cima do ombro, respirando normalmente.”

Ela deve estar brincando! E dá para respirar normalmente torcida desse jeito? Respirar, cuidar para manter o tronco reto, sentar nos ísquios, manter os joelhos esticados, pés estendidos, barriga para dentro e respira normalmente?????

É muita coisa para prestar atenção. E ainda vai ter o outro lado. Ai meu Deus!

Gentil, ela avisa que não é para forçar, que devagar a gente vai conseguindo, que a dificuldade é só o início, etc, etc.

Tudo o que eu precisava ouvir para confirmar que não sou um caso perdido, que estava só enferrujada, ainda bem, e que afinal, nem sou a única dura da sala.

De pé, pé direito na barra, braços para cima, inspira e na expiração solta tudo.”

Mãos no pé, cabeça no joelho e relaxa.”

Relaxa? Dá mesmo para relaxar nessa posição sentindo que a parte de trás da coxa quer rasgar? Respirar já é difícil, relaxar então é impossível!

Vai ver é essa a dificuldade do início, respirar e relaxar...

No fim da aula a turma aplaude a professora. Eu também.

Estica puxa dói reclama relaxa respira e no final sai me sentindo super bem disposta. O corpo precisava muito disso. Obrigada professora!!!! Amanhã, eu consigo um pouco mais e aos poucos vou me transformando. 

Está decidido: de agora em diante, fim ao sedentarismo!

Érima de Andrade

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Apenas Ouça

Érima de Andrade

Trecho retirado do livro Histórias que Curam, escrito por Rachel Naomi Remen:

Imagino que o modo mais básico e eficaz de conectar-se com outra pessoa seja ouvindo. Apenas ouvindo. Talvez a coisa mais importante que damos uns aos outros seja nossa atenção. E especialmente se ela for dada de coração. Quando as pessoas estão falando, não é preciso fazer nada alem de recebe-las. Simplesmente as acolha. Ouça o que estão dizendo. Importe-se com isso. Na maioria das vezes, importar-se é até mais importante do que entender. Muitos de nós não nos valorizamos ou nos amamos o suficiente para fazer isso. Demorei muito tempo para crer no poder de dizer simplesmente “sinto muito” quando alguém esta sofrendo. E dizer com sinceridade.

Uma das minhas pacientes comentou que, quando tentava contar sua história, as pessoas com frequência a interrompiam para dizer que uma vez já lhe acontecera algo exatamente assim. De um modo sutil, a dor daquela mulher transformava-se em uma história a respeito de si mesma. Ela acabou parando de conversar com a maioria das pessoas. Era solitário demais. Nós nos ligamos aos outros ouvindo. Quando interrompemos o que alguém está dizendo para informar que compreendemos, deslocamos o foco da atenção para nós mesmos. Quando ouvimos, as pessoas ficam sabendo que nos importamos. Muitas pessoas com câncer mencionaram o alívio de terem alguém para ouvi-las.

Cheguei até mesmo a aprender a responder a alguém que chora simplesmente ouvindo. Antigamente eu costumava procurar lenços de papel, até o dia em que percebi que passar os lenços para alguém podia ser apenas mais um modo de fazer a pessoa fechar-se, de afasta-la de sua experiência, de tristeza e dor. Agora eu só ouço. Depois de ela ter chorado tudo o que precisava chorar, encontra-me ali, com ela.

Essa coisa simples não foi assim tão fácil de aprender. Certamente, chocou-se contra tudo o que me fora ensinado desde criança. Eu pensava que as pessoas ouviam só porque eram tímidas demais para falar ou não sabiam a resposta. Um silêncio afetuoso muitas vezes tem maior poder de cura e de conexão do que as palavras mais bem-intencionadas.” Rachel Naomi Remen

domingo, 14 de outubro de 2012

Carro ou Van?

Lembrei deste texto nesse feriado. Boa leitura!

Eu tenho um carro.
Eu gosto muito de dirigir, acho que ter um carro me dá independência, autonomia, é muito prático e rápido.
Mas às vezes eu quero mordomia.
Estacionar perto de um teatro, é uma tarefa de Hércules, é como ganhar na loteria, vencer uma gincana, fazer um gol na final da copa, achar uma agulha num palheiro, ou qualquer outra comparação nesse sentido.
Outro dia, jogando conversa fora na academia, uma amiga comentou: “a programação da Rosângela está ótima.”
Quê? Que programação? Do que estão falando?
Mas você não conhece a Rosângela? A gente só vai ao teatro com ela.”
Não conhecia.
Até já tinha escutado os comentários pós-peças, mas quando entrei na academia, meu horário de consultório não me permitia ir a teatros durante a semana, então parei de prestar atenção.
Agora é diferente, quero saber mais.

Rosângela é uma professora de educação artística que começou organizando visitas a museus com os alunos.
Depois ao teatro com eles, e finalmente pequenas viagens culturais. Aí as mães começaram a querer ir também.
Agora ela só faz isso.
Sempre em grupos de 18 pessoas, número de poltronas do micro ônibus.
Eu li em algum lugar, que o teatro sobrevive por causa das vans.
Não sei se é exagero, mas a ideia é muito boa. Virei fã!

Liguei pra ela e 1° surpresa: perguntou se eu tinha alguma carteira pra pagar meia.
Não.
Fui a única do grupo a pagar inteira. Não sou mais estudante, e também não estou na terceira idade, pago inteira.

Dia e hora combinados e fui a 1° a entrar no ônibus, privilégio de quem mora longe.
Com a sensação de estar num ônibus escolar, fomos de casa em casa pegando os outros, colegas da academia, estudantes universitárias, aposentados, um grupo bastante variado, e muito animado também. Todo mundo dentro, um Pai Nosso pra agradecer o privilégio do passeio e pedir proteção pra ir e voltar em segurança.
Do jeito que o Rio está, achei bem simpática a sugestão.
E lá fomos nós pro Theatro Municipal assistir ao Grupo Corpo.
Faltou ir cantando, mas a conversa rolava solta e animada, ia do time de futebol feminino que seria montado na faculdade, a comentários sobre os exercícios com bola na aula de alongamento, passando é claro, por receitas rápidas e gostosas na cozinha.
Como se fala de comida!
É impressionante como esse assunto mobiliza.
Aquela história de puxar papo falando sobre o tempo está ultrapassada. Agora se souber uma receita rápida de miojo, é um sucesso! Todo mundo sabe uma!

E enfim, o teatro.
Lindo, lindo, pena que acolhe tão mal.
No grupo, duas pessoas com dificuldade de locomoção.
Pra chegar ao elevador, é preciso subir uma escada.
E o constrangimento delas pra chegarem carregadas até lá, é visível. E novamente no colo, até suas poltronas.
Melhor sorte que uma senhora, do outro lado do balcão, que caiu da escada, que não tem apoio, nem corrimão.
A posição das poltronas é ótima pra quem assiste ao espetáculo, mas pra chegar a elas, é uma aventura.
Os funcionários do teatro, apenas mostram a porta mais perto do seu número, não acompanham ninguém até o lugar.
Uma arquitetura linda com cheiro de mofo.
Dá pena.
Numa das janelas da escada, a parede estufada pela infiltração.
Tudo bem que o patrimônio histórico não pode ser modificado, não dá pra colocar rampas nem corrimão, não fazem parte do projeto inicial, mas as infiltrações também não, e pelo cheiro, estão em toda parte.

2° surpresa: no 2° andar, uma exposição de maquetes com cenários de algumas óperas apresentadas no teatro, entre elas uma do Burle Max e outra do Eichebauer, que foi meu professor na EBA, Escola de Belas Artes da UFRJ.
Ônibus escolar, professor da faculdade, sem carteira de estudante, estava nostálgica...
O teatro é enorme, mas o mundo é um ovo.
Tanto lugar ali dentro, e ao meu lado uma vizinha, que eu raramente encontro aqui perto de casa; um pouco atrás, uma amiga com a família; no intervalo, outra amiga em outro grupo, e se a gente combinasse, era capaz de não se encontrar.

Fim do espetáculo, que é ótimo, vale a pena, volto para o ônibus.
E a 3° surpresa da noite: Rosângela nos serve pãezinhos e suco.
Dá pra ser melhor? Compra os ingressos, me pega e me leva em casa, não preciso me preocupar com vaga, nem com companhia, serve um lanchinho na volta, um grupo animado, um papo ótimo... carro é muito bom, mas mordomia de vez em quando é fundamental!

Érima de Andrade - Publicado originalmente no n° 106 Montbläat (09/2005)

Ps: vale lembrar que depois disso o Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi totalmente restaurado e hoje o acolhimento ficou muitíssimo melhor.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Eu sou diferente de você.

Érima de Andrade

Isso significa que um de nós dois está errado?
Não. Significa apenas que somos diferentes.

Se é só isso, por que na maioria das vezes optamos por considerar que o outro que pensa, age e sente diferente de nós, está errado?

E se antes de considerar o outro errado, você partisse da premissa de que ele também está certo, o que mudaria na sua vida?

Outro dia, numa novela da Globo, vi o personagem do Edney Giovenazzi explicar para um outro personagem que o grande paradoxo da humanidade, é que não vivemos sem segurança e liberdade. E que, no entanto, essas duas condições se excluem: quanto mais liberdade, menos segurança, quanto mais segurança, menos liberdade.

Ter a liberdade de ser diferente e singular tem seu preço. Você pode não ser compreendido, e se sentir perdido e abandonado. Por outro lado, agir sempre de maneira a garantir a segurança da aceitação, a sensação boa de ter com quem contar, sem espaço para reflexão, crítica ou experimentação, limita a sua liberdade individual.

Segurança sem liberdade equivale à escravidão, que mais cedo ou mais tarde, despertará em você a sede de liberdade, numa tentativa eterna de conseguir o equilíbrio entre essas duas condições.

Lembro que quando ainda era aluna da Escola de Belas Artes, UFRJ, um professor um dia, reuniu alunos e funcionários da oficina de marcenaria da escola, para prestar uma homenagem. Ele queria agradecer aos profissionais por acreditarem no sonho de todo e qualquer aluno, e fazer o que fosse possível para que o projeto tomasse forma. Qualquer coisa que inventássemos, eles estavam dispostos a nos ajudar a buscar soluções, para que aquilo saísse do papel. Tinha até uma prateleira com projetos AINDA sem solução, por que acreditavam que uma ideia que surgisse num trabalho, poderia servir de solução para um daqueles inacabados. Nada era considerado impossível, apenas a solução ainda não tinha sido encontrada.

Confesso que gostei do discurso, me emocionei com a emoção dos profissionais pegos de surpresa, e com a gratidão do professor. Mas só anos depois entendi realmente como eles eram especiais e diferentes.

Ao longo da vida fui encontrando mais quem dissesse “isso não pode ser feito”; “desse jeito não serve”; “nunca foi tentado antes é melhor não fazer”, e outras variações de recusas a uma nova ideia, do que alguém disposto a tentar o novo. São pessoas optando pela segurança, talvez assustadas com a liberdade, que consideraram errado o que era diferente.

E por ter gente que arrisca a segurança em nome da liberdade, é que vamos aprendendo, progredindo e evoluindo.

E se você decidir ver tudo a partir de agora de uma nova maneira? Como seria?

Já dizia Einstein: A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”

Vamos tentar?

domingo, 7 de outubro de 2012

Metas

Érima de Andrade

Segundo um artigo que li sobre uma pesquisa feita em Harvard, entre 1979 e 1989, a chave-mestra para o sucesso é a capacidade de estabelecer metas. As metas, segundo Brian Tracy, autor do artigo, ativam a mente positiva, liberando ideias, e energia, que fazem com que você voe, como uma flecha, veloz e focada no seu alvo.

Viver sem metas claras é como dirigir na neblina. Tomar decisões a respeito das suas metas, dissipa imediatamente essa neblina, e o caminho a seguir, aparece claro a sua frente.

O livro de Mark McCormack, O que não é ensinado na Escola de Administração de Harvard, descreve a pesquisa feita com os formandos de MBA de Harvard em 1979. Eles responderam a seguinte pergunta:

Você estabeleceu metas claras, por escrito, para o seu futuro e fez planos para concretizá-las?”

Apenas 3% dos formandos tinham escrito planos e metas. 13% efetivamente tinham metas, mas não as escreveram. 84% não tinham qualquer meta específica além de se formar e curtir o verão.

Em 1989, dez anos depois, os pesquisadores voltaram a entrevistar as mesmas pessoas. Constataram que os 13% que tinham metas não escritas estavam ganhando, em média, o dobro dos 84% de estudantes que não tinham meta alguma.

Mas os 3% de estudantes que tinham metas claras, e por escrito, ao deixarem Harvard, estavam ganhando , em média, dez vezes mais do que os outros 97% juntos.

A única diferença entre os grupos era a clareza das metas que estabeleceram para si mesmos ao se formarem. O estabelecimento de metas claras permitiu liberar todo o potencial de sucesso pessoal e profissional de cada estudante bem sucedido.

Todos nós podemos treinar o hábito de estabelecer e alcançar metas. Para isso, é preciso desenvolver primeiro a capacidade de focalizar os objetivos com absoluta nitidez. Sem objetivos bem definidos, somente por acaso se chega a algum lugar. E se você não sabe onde quer chegar, qualquer lugar serve.

Você tem alguma meta para o dia de hoje? E para essa semana? E para seu mês, ou ano?
Você tem trabalhado no sentido de ser, ter e conseguir as coisas que são realmente importantes para você?

É uma escolha. Você pode decidir que seu dia hoje será positivo e focar em ver o que tem de positivo em tudo que lhe acontece.

Ou fazer como minha amiga Heloisa Capelas: “Nas segundas pela manhã decido como será a semana inteira. E hoje decidi que a primeira semana de outubro será produtiva, agradável, e cheia de abraços.”

Ou quem sabe seu objetivo seja entrar em forma, perder peso, fidelizar clientes, expor o seu trabalho, ampliar seu negócio, sair mais, se divertir mais, fazer um curso? Qualquer um deles, e todos eles, podem ser alcançados com foco e determinação.

E se além das metas claras, você as escrever, como demonstrou a pesquisa, você amplia suas chances de ter uma vida longa, feliz, saudável e prospera.

Quais são hoje as suas metas?

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Felicidade

Érima de Andrade

Há alguns anos, numa visita ao Rio do Sri Sri Ravi Shankar, ele, depois de ouvir uma música do Gonzaguinha, comentou que o Brasil tem vários mantras de felicidade. E sugeriu que cantássemos sempre.
Ele tem razão, somos um povo feliz.
Insistimos na felicidade até quando as coisas não dão muito certo.

Então, seguindo nossa vocação, cantemos:

O que é o que é?(Gonzaguinha)

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Eu sei que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Eu sei, eu sei que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...
A vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
A vida
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...
Há quem diga
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...
Há quem diga
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...
Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...
Só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...
Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...
E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...


Felicidade (Luiz Tatit)


Não sei porque eu tô tão feliz
Não há motivo algum pra ter tanta felicidade
Não sei o que que foi que eu fiz
Se eu fui perdendo o senso de realidade
Um sentimento indefinido
Foi me tomando ao cair da tarde
Infelizmente era felicidade
Claro que é muito gostoso
Claro, mas claro que eu não acredito
Felicidade assim sem mais nem menos é muito esquisito
Não sei porque eu tô tão feliz
Preciso refletir um pouco e sair do barato
Não posso continuar assim feliz
Como se fosse um sentimento inato
Sem ter o menor motivo
Sem uma razão de fato
Ser feliz assim é meio chato
E as coisas nem vão muito bem
Perdi o dinheiro que eu tinha guardado
E pra completar depois disso
Eu fui despedido e estou desempregado
Amor que sempre foi meu forte

Não tenho tido muita sorte
Estou sozinho, sem saída, sem dinheiro e sem comida
E feliz da vida!!!
Não sei porque eu tô tão feliz
Vai ver que é pra esconder no fundo uma infelicidade
Pensei que fosse por aí, fiz todas terapias que tem na cidade
A conclusão veio depressa e sem nenhuma novidade
O meu problema era felicidade
Não fiquei desesperado, não, fui até bem razoável
Felicidade quando é no começo ainda é controlável
Não sei o que foi que eu fiz
Pra merecer estar radiante de felicidade
Mais fácil ver o que não fiz
Fiz muito pouca coisa aqui pra minha idade
Não me dediquei a nada
Tudo eu fiz pela metade, porque então tanta felicidade
E dizem que eu só penso em mim, que sou muito centrado
Que eu sou egoísta
Tem gente que põe meus defeitos em ordem alfabética
E faz uma lista
Por isso não se justifica tanto privilégio de felicidade
Independente dos deslizes dentre todos os felizes
Sou o mais feliz
Não sei porque eu tô tão feliz
E já nem sei se é necessário ter um bom motivo
A busca de uma razão me deu dor de cabeça, acabou comigo
Enfim, eu já tentei de tudo, enfim eu quis ser consequente
Mas desisti, vou ser feliz pra sempre
Peço a todos com licença, vamos liberar o pedaço
Felicidade assim desse tamanho
Só com muito espaço!