Vivemos numa democracia, e numa democracia, falamos com pessoas e grupos que pensam diferente. Mesmo assim, tenho me deparado com muitas pessoas que não sabem mais conversar. Precisamos reaprender a conversar, precisamos voltar a cultivar a cultura do diálogo, pois é essa troca democrática que nos torna melhores, mais sábios e mais criativos.
Em tempos de polarização das opiniões, como tem acontecido, conversar aberto para o que o outro tem a dizer, se torna mesmo uma arte a ser urgentemente cultivada.
Para início de conversa, é bom saber que o objetivo de uma conversa não é convencer o outro do seu ponto de vista. Só os fanáticos não têm abertura para ouvir o outro lado. Mais que isso, fanáticos não ouvem e também não desistem de tentar impor sua opinião.
Numa boa conversa todos têm liberdade para se colocar, e todas as opiniões são respeitadas. E tudo bem se você mudar de opinião numa conversa. Você não precisa, mas claro que pode. É essa arte de ouvir, e respeitar a opinião do outro, que precisamos cultivar diariamente para o bem viver numa sociedade livre. Respeitar, inclusive, quando o que ele viveu o fez mudar totalmente de opinião.
Se sua conversa nasceu da necessidade de tomar uma decisão conjunta, mais que ouvir e respeitar o outro, você, e ele, vão precisar se abrir para alternativas que satisfaçam os dois lados. É preciso ceder um pouco de cada lado para chegar no caminho do meio, um caminho bom para todos. O objetivo de conversas assim não é convencer, é chegar nesse caminho do meio. Como dizia Dom Paulo Evaristo Arns,“Diálogo não leva a ter razões, mas a ver razões”. E quando é preciso tomar decisões, ver as razões torna a conversa democrática.
Mudar de opinião para agradar o outro, para não ter discussão, para não se aborrecer com uma conversa demorada, e as vezes, acalorada, só funciona até a página dois. Isso porque, você que mudou para não discutir, não vai ficar feliz com o resultado. E essa infelicidade vai influenciar suas atitudes, pensamentos e relações. Não é esse o caminho.
O caminho do entendimento começa no respeito, e segue para a empatia. Respeito por você, para não se agredir ao concordar com seja lá o que for que não lhe agrada; e pelo outro, para não forçar uma solução boa só para um lado. E empatia, que é se colocar no lugar do outro, com curiosidade pelos seus sentimentos e pensamentos.
Com empatia você faz perguntas e ouve os argumentos, e as motivações, dos que conversam com você. A partir da empatia, você pode se perguntar: o que está por trás dessa opinião? Ou, o que motivou essas palavras de defesa? Ou ainda, o que provocou aquele ataque durante a conversa?
Com empatia você consegue pensar com a cabeça do outro, e entender as razões por trás das opiniões, e assim, juntos, vocês podem chegar num consenso. Podem achar um caminho para ser feliz mesmo pensando tão diferente.
Mas pode ser que você prefira ter razão, em vez de ser feliz. E nessa busca de razão, se embarreirar nas suas opiniões, sem abertura para nada diferente dos seus pensamentos. Se assim for, cabe perguntar: de onde vem sua resistência a opinião alheia?
Todos nós temos nossas razões, temos nossos motivos. Você não precisa concordar com a opinião do outro para continuarem conversando, nem virar saco de pancadas. Mas é essencial, para o seu desenvolvimento como ser humano, que você esteja disposto a, pelo menos, entender as motivações alheias.
Antes de tentar medir o outro com a sua régua, procure, apenas por um momento, enxergar o mundo através dos olhos dele. Tente se interessar pelo que o outro está vivendo, pelo que o outro deseja, anseia e necessita. Tente julgar menos. Você tem seus motivos, ele também.
Quando você exercita a capacidade de tentar olhar o que se passa dentro do coração de cada um que cruza o seu caminho, quais foram os desafios, aprendizados e dificuldades vividos por essa pessoa, com certeza, sua conversa com ela, vai ter mais amor, respeito e consideração. Esse é um ótimo exercício, ver que o outro é alguém que, como você, só quer se tornar sua melhor versão e ser mais feliz.
Seja em casa com familiares, ou com amores, ou entre amigos, ou com colegas e chefes, quando você se colocar no lugar do outro, abrindo mão das suas crenças e prejulgamentos, estará pronto para realmente fazer das conversas uma ponte para o entendimento.
A beleza da democracia é a convivência com pensamentos diferentes. Existe uma riqueza a ser descoberta nas conversas com abertura para opiniões diferentes. Que você sabia aproveitar bem esses momentos.
(desconheço a autoria da foto)