domingo, 29 de março de 2015

Vesti Azul

Érima de Andrade


Já percebeu que uma mudança externa, às vezes, é o click que faltava para confirmar uma mudança interna? Mudanças de atitude dependem do autoconhecimento, da auto-observação, mas muitas vezes, embora você tenha mudado internamente, a mensagem que você passa externamente, por conta da sua postura, seu modo de se vestir, independente das suas atitudes, não mostram suas mudanças internas.

Nessas horas, um novo corte de cabelo, uma roupa diferente das que você normalmente usa, um sapato em vez de tênis, pode ser o que falta para você se apoderar das suas novas atitudes.

Isso me faz lembrar de uma música que eu gosto muito, composta por Nonato Buzar e cantada pelo Simonal, Vesti Azul. Vamos cantar juntos?
  

“Estava na tristeza que dava dó
vivia vagamente
e andava só
mas eis que de repente
me apareceu um brotinho lindo 
que me convenceu, dizendo 
que eu devia vestir azul, 
que azul é cor do céu e seu olhar também...
Então o seu pedido me incentivou
vesti azul
minha sorte então mudou

vesti azul
minha sorte então mudou...

Passei a ser olhado com atenção..
e fui agradecer pela opinião
Então senti que o broto estava toda mudada
parecia até que estava apaixonada
então eu fiz charminho e acrescentei
só vim aqui saber como eu fiquei'
e aquele olhar do broto me confirmou, vesti azul
minha sorte então mudou

vesti azul, minha sorte então mudou...”








domingo, 22 de março de 2015

Feliz por nada

Érima de Andrade

Estou lendo o livro Feliz por Nada, escrito pela Martha Medeiros. É uma coleção de crônicas que ela escreveu para jornais, e bem gostoso de ler. O livro não é meu, peguei emprestado com a minha mãe. Minha mãe tem o hábito de destacar no livro, frases, parágrafos, palavras que chamem a atenção dela de alguma forma especial. E aí, não dá para ler o livro, sem também destacar essas partes no texto. São uma ótima reflexão. Eis alguns trechos destacados:

Falando de Deus: “mãe é sempre um atestado da presença desse cara.” Martha Medeiros

“Se você tem mais de nove anos de idade, já sabe reconhecer uma ironia e entendeu o meu recado: seja gentil, mas não a ponto de perder o tino. Se tiver que ferir suscetibilidades para salvar sua pele, paciência. Atravesse a rua. Desça pela escada. Dê no pé. Sucesso é chegar em casa com vida.” Martha Medeiros

“Vive melhor quem lê a respeito das questões que lhe afligem.” Martha Medeiros

“...uma relação não traz apenas privações, tédio e brigas, mas traz também muita realização, estabilidade, parceria, intimidade, gratificações. Casar é muito bom.” Martha Medeiros

“Independência nada mais é do que ter poder de escolha. Conceder-se a liberdade de ir e vir, atendendo suas necessidades e vontades próprias, mas sem dispensar a magia de se viver um grande amor. Independência não é sinônimo de solidão. É sinônimo de honestidade: estou onde quero, com quem quero, porque quero.” Martha Medeiros

“Sente-se confortável em qualquer ambiente porque sabe que o dinheiro não torna ninguém melhor do que os outros.” Martha Medeiros

“Mas também sabemos que o poder e o dinheiro nos confinam numa espécie de prisão.” Martha Medeiros

“Um dos sintomas do amadurecimento é justamente o resgate da nossa jovialidade, só que não a jovialidade do corpo, que isso só se consegue até certo ponto, mas a jovialidade do espírito, tão mais prioritária.” Martha Medeiros

“Dores, cada um tem as suas. Mas o que nos faz cultivá-las por décadas? Creio que nos apegamos com desespero a elas por não ter o que colocar no lugar, caso a dor se vá. E então se fica ruminando, alimentando a própria “má sorte”, num processo de vitimização que chega ao nível do absurdo. Por que fazemos isso conosco?

Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência.” Martha Medeiros

“...a complexidade humana também é atributo dos que nasceram do nosso ventre...” Martha Medeiros

“Nem sempre temos conhecimento das carências mais profundas daquele que vive sob o nosso teto, e não porque ele esteja sonegando alguns sentimentos, mas porque nem ele consegue explicar para si mesmo o que lhe dói e o que ainda lhe falta.” Martha Medeiros

“Cada vez mais o dinheiro controla os desejos. É importante ganha-lo, pois sem independência não somos donos de nós mesmos, mas para ganha-lo você não precisa perder nada: nem escrúpulos e nem caráter, ou você estará se deixando comprar.” Martha Medeiros

“Não importa a situação: saiu de casa, esforce-se. (...) Dentro da igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o.
Ou faça de outro jeito, se preferir: dentro da igreja escute-O. Durante um beijo, dispa-se. No estádio de futebol, apaixone-se. De frente para o mar, ajoelhe-se. Numa festa, grite pelo seu time. Reencontrou um amigo, comemore.

Esteja!

Se não quiser participar, tudo bem, então fique na sua: na sua casa, no seu canto, na sua respeitável solidão. Melhor uma ausência honesta do que uma presença desaforada.” Martha Medeiros

“Mas existe verdadeiramente outro rumo? Na verdade, só existe a direção que tomamos. O que poderia ter sido já não conta.” Mario Benedetti

“Aquela farofa que sempre faz falta quando o mundo fica besta demais.” Martha Medeiros

“Mas creio que esse projeto de vida que falta a tantas pessoas consiste justamente no que é considerado pequeno e, por ser pequeno, novo para quem não está acostumado a se deslumbrar com o que se convencionou chamar de “menor”.

Onde é que se encontra o sublime? Perto. Ao regar as plantas do jardim. Ao escolher os objetos da casa conforme a lembrança de um momento especial que cada um deles traz consigo. Lendo um livro. Dando uma caminhada junto ao mar, numa praça, num campo aberto, onde houver natureza. Selecionando uma foto para colocar no porta-retrato. Escolhendo um vestido para sair e almoçar com uma amiga. Acendendo uma vela ou um incenso. Saboreando um beijo. Encantando-se com o que é belo. Reverenciando o sol da manhã depois de uma noite de chuva. Aceitando que a valorização do banal é a única atitude que nos salva da frustração.”  Martha Medeiros

“Perguntas-me qual foi meu maior progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo.” Sêneca

“Não há prêmio ou punição na vida, apenas consequências.” Autor desconhecido

“... lembre-se do que sua bisavó dizia: regue as plantas, regue suas relações, regue seu futuro, porque sem cuidar, nada floresce.

E, por via das dúvidas, confie em Deus, que mal não faz.”  Martha Medeiros

“É comum pensarmos que ao ficarmos parados no mesmo lugar, sem agir, sem mudar nada, estamos assegurando um destino tranquilo. Engessados na mesma situação, é como se estivéssemos protegidos de qualquer possível ebulição que nos inquiete. Sssshh. Quietos. Ninguém se mexe para não acordar o demônio.” Martha Medeiros

“Seja qual for o caminho que optarmos seguir, haverá altos e baixos.” Martha Medeiros


Tenham uma boa semana!!!!!

domingo, 15 de março de 2015

S’imbora, o musical

Érima de Andrade

Ontem fiz algo que há muito tempo eu não fazia: fui ao teatro! E amei!
Fui com a Rosangela, que compra os ingressos, me pega em casa, me leva ao teatro, me deixa em casa, tudo com o maior conforto e segurança. Gosto quando ela, depois de pegar todo mundo, nos convida a rezar um Pai Nosso, para que nossa noite seja abençoada. E foi.

Fomos assistir S’imbora, O Musical, A História de Wilson Simonal. Muito bom! Se você que está lendo esse texto, tiver a oportunidade de ir ver, não perca, vale muito a pena.

Simonal fazia muito sucesso na minha infância, e fiquei surpresa quantas músicas eu lembrava. Claro que não sabia todas as letras, mas cantei todos os refrãos. E a plateia cantava junto! O refrão “na tonga da mironga do cabuletê” foi o que a plateia cantou mais alto. Vários aplausos em cena aberta, e claro, uma ovação no final do espetáculo. São três horas de show, mas sinceramente, nem pareceu.

Você conhece a história dele? É bem triste, vai do cantor mais popular do Brasil, ao mais rejeitado. O texto é muito bom, e mesmo essa passagem triste, é tratada com leveza, e saímos de lá, cantando com a cena final. 

Mas é impossível não ver essa história e ficar sem pensar. Tudo aconteceu com ele, sua queda de popularidade, por conta de um boato, só desmentido anos depois quando ele faleceu. Mas mesmo vivo, o peso da difamação, o deixou sem vida. Não é impressionante o poder das palavras?

Pensa um pouco, você é alguém que conta uma história sem ao menos escutar os dois lados? Você já se perguntou se aquilo que você acha que é verdade e você divulga, é verdade mesmo? Com o poder da internet hoje em dia, uma história mal contada vira “verdade” depois de tanta divulgação...

Um exemplo disso é o texto da Regina Brett. Ela escreveu um texto aos 45 anos, com as 45 lições que aprendeu da vida.  Ela adicionou mais 5 lições quando completou 50 anos, e o texto correu o mundo. Mas... alguém ao repassar resolveu “completar o texto” com a informação errada de um texto escrito por uma senhora de 90 anos. Ao entrar no site da Regina, uma das primeiras coisas que se lê, é o desmentido da idade, e o quanto isso causou transtornos a ela.

Esse é só um pequeno exemplo, mas pesquisando a gente acha muito mais. Em especial, as pessoas públicas sofrem com isso.

Então vale a pena perguntar: o quanto você compartilha uma informação antes de confirmar a sua autenticidade? Parece um ato inocente, mas de grão em grão...

Se você quiser saber mais sobre Regina Brett e ler o texto que ela escreveu, eis o link que escrevi sobre ela e suas 50 lições de vida:  clique aqui .


Tenha uma boa semana!  

domingo, 8 de março de 2015

Escolhendo o que sentir

Érima de Andrade


Existe uma fábula Cherokee que ilustra o combate que acontece dentro das pessoas. Diz assim:

“Os anciões da tribo estavam preocupados com um dos garotos que, por se sentir injustiçado, tornou-se agressivo. O avô do menino o leva para conversar.

"Entendo sua raiva. Na planície dentro do meu peito, há uma batalha terrível entre dois lobos que vivem dentro de mim. Esses dois lobos tentam dominar o espírito de todos nós."

O garoto se interessa. Ele continua.

"Um é mau. Seus dentes afiados e tenazes como a raiva, a inveja e o ciúme. Ele caça a tristeza. Suas garras são afiadas como a cobiça, a arrogância e a pena que alguém sente por si mesmo. Esse lobo fareja culpa, ressentimento e inferioridade a quilômetros. Ele busca o orgulho, a glória e a superioridade."

Diante dos olhos brilhantes do pequeno índio, o velho completa:

"O outro lobo é bom. Seu olhar é tranquilizador como o perdão de um pai. Seus músculos fortes como a esperança de um amanhecer. Seus pêlos brilham como a serenidade de um lago. Ele fareja paz, humildade e empatia onde estiver. Ele é veloz como um gesto de bondade, audaz como a generosidade. Esse lobo busca verdade, harmonia e ."

Ambos ficaram em silêncio. O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:

"Qual lobo vence?"

O velho índio então responde:

"Aquele que você alimentar!"”

Escolhemos que emoções alimentar. Ponto. “Isso é muito pesado” me disse uma cliente. Mas é esse o caminho da maturidade humana e afetiva: aceitar você mesmo com seus sentimentos e se responsabilizar por eles.

Sentimentos são reações ou respostas internas, espontâneas e imediatas, as situações que nos acontecem. “São como nossas impressões digitais, como a cor dos nossos olhos e o som da nossa voz, únicos e irreproduzíveis” John Powel. 

Você é o que você sente. “Quem é você? Você é a pessoa que está experimentando seus sentimentos, criando seu mundo” explica Geraldo Gomes Leite.

Sentir mágoa, ou prazer, prova que você é humano. Não há maneira de evitar a dor se quiser ficar aberto para o prazer. E abertos, não escolhemos o que sentir, é uma reação, mas podemos escolher o que continuar sentindo.

Observar seus sentimentos, aprender com eles e transformá-los, depende apenas de você, depende do sentimento que você escolher alimentar, depende do mundo que você quer criar.

O terceiro verso dos “Oito versos que transformam a mente”, um ensinamento budista, diz o seguinte:

“Em todos os meus atos, vou aprender a examinar a minha mente
E, sempre que surgir uma emoção negativa,
Pondo em risco a mim mesmo e aos outros,
Vou, com firmeza, enfrentá-la e evitá-la.”

O que você faz quando surge em você uma emoção negativa? Como você alimenta a sua dor? Como você alimenta o seu prazer? Como você mantém a sua vida pesada? Como você cuida para sua vida ser leve?

É uma escolha. 

Que lobo você está alimentando?

domingo, 1 de março de 2015

Vamos falar sobre o perdão?

Érima de Andrade


Pesquisas e estudos vêm comprovando os benefícios, tanto mentais quanto físicos, do ato de perdoar.

Numa das pesquisas, do Hope College, em Michigan, EUA, 71 voluntários foram instruídos a se lembrar de alguma ferida antiga, algo que os tivesse feito sofrer. A lembrança do fato fez aumentar a pressão sanguínea, os batimentos cardíacos e a tensão muscular, reações idênticas às que ocorrem quando as pessoas sentem raiva. Depois foi pedido que eles se imaginassem entendendo e perdoando as pessoas que lhes haviam feito mal. Os efeitos também foram registrados, os voluntários ficaram mais calmos, e houve uma normalização da pressão sanguínea e dos batimentos cardíacos. Lembrar dos fatos provocou no organismo reações similares as vividas na ocasião que o fato aconteceu.

Perdoar reduz o estresse que vem de pensar em algo doloroso, mas que não pode ser mudado. Ele também limita a ruminação que leva a um sentimento de impotência que reduz a capacidade de alguém cuidar de si mesmo.

O perdão é um processo mental, ou espiritual, de cessar o sentimento de ressentimento, ou raiva, contra outra pessoa, ou contra si mesmo. O perdão é a experiência interior de recuperar a paz e o bem-estar.

O perdão reconhece o mal, mas permite que o prejudicado leve a vida em frente. O perdão não elimina o fato, apenas o torna menos importante. O perdão pode conviver com a justiça e não impede uma resposta justa e adequada. Você apenas não age de uma perspectiva rancorosa ou transtornada.

Pode acontecer de você perdoar um dia, e depois sentir raiva ao encontrar-se com quem lhe machucou muitos anos depois de ter perdoado. E isso é normal. Esse sentimento somente indica que a ferida causada pela ofensa ainda não sarou completamente.

Perdoar não implica numa volta a um relacionamento normal com a pessoa perdoada. Ás vezes, o perdão implica em reconciliar um relacionamento, e outras vezes, em abrir mão desse relacionamento.

Perdoar é uma escolha, é um ato que a gente faz e não necessariamente algo que a gente sente, é um processo e pode ser praticado.

A ausência de perdão causa estresse sempre que se pensa em alguém que nos feriu e com quem não fizemos as pazes. Isso prejudica o corpo e provoca emoções negativas. Guardar ressentimentos prejudica a saúde.

Perdoar, ao contrário, faz bem à saúde porque resulta em sentimentos de paz, harmonia e felicidade. O bem estar emocional e espiritual ajuda o corpo a produzir hormônios, anticorpos e vacinas naturais que reforçam o sistema imunológico, combatem doenças e promovem a saúde.

Perdoar é a arte de fazer as pazes quando algo não acontece como queríamos. E coisas ruins, que dão errado, que nos decepcionam, nos fazem sofrer, acontecem com todo mundo. Não podemos escapar de todos os males, mas podemos perdoar. 
O perdão implica que se pode ficar em paz mesmo tendo sofrido um mal.

O que diferencia uma pessoa de outra é a reação que cada um tem ao que lhe acontece e você pode escolher guardar rancor, e com isso ficar com a mente ocupada por lembranças amargas, ou por planos de vingança.

Ou pode escolher seguir em frente, remover os obstáculos, perdoar. 

O perdão nos deixa leves, deixa o passado ir e olhando em profundidade é também uma prática de desapego. É o deixar ir da nossa raiva, ressentimento, ódio. O perdão acaba beneficiando mais quem perdoa do que quem é perdoado.

Que a prática do perdão possa fazer parte da sua vida.