Érima de Andrade
Vivemos tão acelerados que foi preciso criar um movimento para ter consciência do ritmo que impomos a nossa vida. Carl Honoré , criador do movimento Slow (devagar, em inglês), conta que tomou consciência do ritmo que estava vivendo quando se viu comprando um livro infantil chamado Contos de 1 minuto. “Minha pressa estava fora de controle e eu estava desperdiçando momentos preciosos com meus filhos”, diz ele.
Vivemos tão acelerados que foi preciso criar um movimento para ter consciência do ritmo que impomos a nossa vida. Carl Honoré , criador do movimento Slow (devagar, em inglês), conta que tomou consciência do ritmo que estava vivendo quando se viu comprando um livro infantil chamado Contos de 1 minuto. “Minha pressa estava fora de controle e eu estava desperdiçando momentos preciosos com meus filhos”, diz ele.
A pressa nem sempre é um problema. Em algumas profissões a pressa é indispensável. Honoré concorda que bombeiros, policiais ou médicos, precisam de velocidade para atender emergências e salvar vidas. “Outra área em que a pressa é essencial é no esporte. A velocidade está em muitas competições e é responsável por grande parte da emoção. Ninguém assistiria a uma competição de vagareza, nem ficaria torcendo pelo último colocado, aquele que conseguiu chegar mais devagar.”
De acordo com Honoré, é preciso questionar a pressa e buscar ver a beleza da lentidão. “A vagareza se tornou uma palavra feia porque nós criamos uma ‘teologia’ da velocidade", comenta. "A velocidade é inquestionavelmente boa, mas, quando a valorizamos demais, acabamos depreciando sua contraparte, a vagareza, e criando um tabu. Só que isso não é verdade. As melhores coisas na vida são feitas devagar."
Se você não trabalha com emergências, nem é um atleta de velocidade, mas a pressa faz parte da sua vida e você vive preocupado com prazos e horários, talvez você esteja vivendo a síndrome da pressa.
Responda as perguntas: seu passo é acelerado, sua fala atropelada e sua escrita é quase sempre abreviada? Você vive de olho no relógio? Está sempre reclamando que não tem tempo para nada? Quase tem um chilique se tem que esperar 10 minutos pelo almoço? Tem vontade de atropelar alguém que anda em um passo mais lento que o seu?
Essas são as características típicas da síndrome da pressa. Mesmo não sendo reconhecida oficialmente pela psiquiatria, ela é estudada desde 1980. Ela não é uma doença, mas uma série de comportamentos que altera significativamente a saúde e a qualidade de vida dos indivíduos.
Os problemas começam quando a pressa não é necessária, mas exigida. “Mesmo quando queremos desacelerar, uma voz dentro de nós fica repetindo para irmos rápido. Acabamos nos sentindo mal se fazemos poucas coisas, ou se demoramos para fazê-las”, ressalta Honoré.
A síndrome da pressa apresenta sinais semelhantes ao do estresse em estágio avançado, e é confundida com ele. Porém, os problemas têm origens diferentes. Enquanto o estresse avançado é uma reação física e psicológica a um evento novo, ameaçador ou angustiante, a síndrome da pressa é desencadeada por um padrão de comportamento em que o próprio indivíduo traz o estresse para si, ou seja, na maioria das vezes, ele próprio transforma sua vida nesse corre-corre sem fim, seja para produzir mais e ter mais retorno financeiro, seja para ter mais reconhecimento no trabalho.
“No contexto de trabalho em que há valorização da produção em detrimento da saúde biopsicossocial, essa pressa só deve ser vista como benéfica se respeitar os ritmos biológicos dos indivíduos e sua saúde, com pausas para exercícios na empresa e paradas tranquilas para descanso e alimentação”, explica Katie Almondes.
O primeiro passo para lidar com essa situação é admitir e entender o problema. O segundo é querer mudar. “Se a pessoa perceber que a pressa está prejudicando seu desempenho e sua qualidade de vida, então é hora de mudar sua postura”, diz Ana Maria Rossi.
A principal dica é tentar buscar um equilíbrio entre os momentos em que é realmente necessário acelerar, com os momentos em que é possível ter um ritmo mais lento. A mudança da rotina é a única forma de inibir a síndrome da pressa, já que essa ainda não tem tratamento específico. Para tanto vale técnicas de relaxamento, exercícios de respiração, atividades físicas e de lazer, ioga e psicoterapia ou outros meios que ajudem a pessoa a relaxar e desacelerar.
Vale também entrar no movimento Slow. Ele tem a intenção de divulgar as possibilidades de se levar uma vida mais plena e desacelerada (movimientoslow.com), e quer “dar ferramentas aos indivíduos para que suas existências não sejam uma mera sucessão de cenários encadeados, desprovidos de emoções.
Hoje mais que nunca, o homem moderno vive perdido numa corrida particular de obstáculos, em que controlar o cronômetro até a o último segundo determina a sua existência. O distanciamento faz da natureza e do seu ritmo, ligado às estações do ano e aos fatores que não podemos controlar, uma miragem nas sociedades ocidentais dos dias de hoje. As cidades tornam-se anônimas e levitamos, absorvidos por nosso peculiar universo de interesses. A pressa é o motor de todas as nossas ações e a cinética do Grand Prix envolve a nossa vida acelerando-a, economizando cada segundo, rendendo culto a uma velocidade que não nos faz ser melhores.
Em última análise, o movimento Slow é uma fonte de prazer, útil para ficar longe de uma vida padronizada e dirigida pelo ponteiro dos minutos do nosso relógio de pulso, subjugada por uma velocidade que sopra longe a nossa capacidade de desfrutar de um momento há muito aguardado, quando este finalmente chega."
O site movimientoslow.com coloca a disposição uma série de dicas que ajudam a acalmar a afobação do cotidiano:
. Escreva estas palavras em um lugar visível: fazer várias tarefas ao mesmo tempo é não fazer nenhuma bem;
. Não se force a responder com rapidez, use o tempo que achar necessário;
. Não olhe toda hora para o relógio, e não se preocupe, você saberá à hora;
. Boceje com frequência. Bocejar é bom para a saúde;
. Escute uma peça de música de Mozart no seu tempo original;
. Ao se levantar dedique um tempo a tomar o café da manhã tranquilo e projetar o dia que tem pela frente;
. Pratique um hobbie sossegado... Pescar, pintar, plantar; mas trate de fazer uma só coisa cada vez;
. Coma devagar. Desfrute da solidão ou de uma conversa se está com mais gente;
. Faça uma pausa no seu dia, faça a sesta, você merece;
. Escreva qualquer coisa. Aprofunde-se no dia que teve;
. Saia de casa e pratique a nobre arte do dolce fare niente. Leia um jornal, observe as fachadas;
. Jante um cardápio com alto conteúdo em frutas e verduras;
. Leia um livro na cama, deixe abandonar-se nos seus pensamentos e flua.
“Na vida há algo mais importante que incrementar a sua velocidade.” Gandhi
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