Érima de Andrade
De repente, sem você saber exatamente como e porque, você passa por uma situação de perda, uma crise, uma doença, um grande período de estresse, ou qualquer outro acontecimento traumático. Como sair disso?
De repente, sem você saber exatamente como e porque, você passa por uma situação de perda, uma crise, uma doença, um grande período de estresse, ou qualquer outro acontecimento traumático. Como sair disso?
Primeiro é preciso reconhecer que qualquer situação nos ensina alguma coisa. Foram perdas terríveis? Fizeram grande diferença na sua vida? Vai ajudar a não se tornar vítima novamente? Vai ajudar a se observar para não fazer com os outros?
Não dá para evitar experiências traumáticas, nem situações de conflito, mas podemos escolher como agir quando elas acontecem. Quem consegue superar tragédias, ou sair de períodos difíceis de dor emocional, pode abandonar o papel de vítima e começar uma vida nova. E para começar uma vida nova é preciso ser resiliente.
Resiliência é a reação positiva, a capacidade de superar as adversidades e ser forte durante as crises; a capacidade de se recuperar, de aprender e de ser transformado pelas experiências dolorosas; a capacidade de se desenvolver bem e de se projetar no futuro, com uma visão realista e otimista. “A resiliência é o antidestino”, diz Boris Cyrulnik, “dá trabalho, não é fácil, mas é um espaço de liberdade interior que permite não se submeter às feridas.”
E para ser resiliente é necessário saber perdoar. O perdão é um dos ingredientes necessários para a resiliência. Explica Rosa Argentina Rivas Lacayo, “sem perdão não podemos crescer nem ficar mais fortes com a adversidade. Também não conseguiremos ser flexíveis e resilientes.”
Alguns não querem perdoar, pois acreditam que o perdão contribui para a injustiça. “Se eu perdoar, vão me ferir novamente, vão se aproveitar da minha nobreza...” Outros conservam a dor para mostrar ao mundo como foram maltratados, e nem querem perceber que assim eles se prejudicam.
Os terapeutas americanos Sidnei e Suzanne Simon, em seu livro Forgiveness, explicam o que significa não perdoar. Explicam que não perdoar tem certas vantagens, porque nos dá algumas ilusões.
A primeira é a ilusão de que, se aquele problema não tivesse acontecido, nossa vida seria perfeita. Mas como aquilo aconteceu, temos a explicação ideal, a desculpa perfeita para estarmos e ficarmos na pior. Assumimos o papel de mártires, e ficamos à espera de alguém que resolva milagrosamente a nossa vida. Com essa ilusão a responsabilidade da nossa infelicidade é sempre do outro. E se eu não me responsabilizo por mim, como mudar o que acontece comigo?
A segunda é a ilusão de sermos perfeitos. Os maus, os bandidos, são os que nos machucaram. Dividimos o mundo em bons para um lado e maus para o outro. Se nós perdoarmos vamos ter de aceitar que essa divisão não é possível, somos tão imperfeitos quanto eles. Somos humanos, temos bons e maus sentimentos, que em essência não são nem bons nem maus. Nós e eles formamos um mesmo grupo.
A segunda é a ilusão de sermos perfeitos. Os maus, os bandidos, são os que nos machucaram. Dividimos o mundo em bons para um lado e maus para o outro. Se nós perdoarmos vamos ter de aceitar que essa divisão não é possível, somos tão imperfeitos quanto eles. Somos humanos, temos bons e maus sentimentos, que em essência não são nem bons nem maus. Nós e eles formamos um mesmo grupo.
A terceira é a ilusão da força, do poder – agora eu controlo. Não perdoar compensa a sensação de falta de poder que nós sentimos quando fomos machucados. Não perdoando queremos a sensação de que agora é minha vez: eu controlo, eu estou no comando. Mas na verdade, eu estou numa prisão que é alimentada por raiva, rancor, mágoa, cultivando intranquilidade interior, resultando numa vida azeda, amarga, fechada, desconfiada, sem conseguir se abrir para ninguém.
E a quarta e última ilusão que temos ao não perdoar é de que não seremos machucados outra vez. Acreditamos que vamos reduzir o risco de voltarmos a sofrer rejeição, traição ou qualquer outra forma de ferimento, se mantivermos a dor viva e os olhos bem abertos para qualquer perigo em potencial.
Mas será que vale a pena armazenar mágoas, remoer sentimentos para nos agarrarmos com unhas e dentes à dor do passado? Será que realmente precisamos do ódio e do ressentimento? Ou é uma desculpa para obter menos da vida do que queremos ou merecemos? Perdôo ou fico condicionado pela ferida, pela doença, pelo luto, pelo trauma?
Segundo Maria Helena Matarazzo “o perdão se torna uma possibilidade quando a dor do passado para de reger nossas vidas; quando não precisarmos mais do ódio e do ressentimento como desculpas para obter menos da vida do que queremos ou merecemos. Perdoar é chegar à conclusão de que já odiamos bastante e não queremos odiar mais; portanto, perdoar é usar a energia da vida, não para reprimir esses sentimentos, mas para quebrar o ciclo da dor se voltando para o futuro e não machucando outras pessoas como fomos machucados.”
Fred Luskin explica que “os problemas não solucionados são como aviões que voam dias e semanas sem parar e sem pousar, consumindo recursos que podem ser necessários em caso de emergência. Os aviões do rancor se convertem em fonte de estresse e, muitas vezes, o resultado é um choque. Perdoar é a tranquilidade que se sente quando os aviões pousam.”
O perdão é importante para quem perdoa, não para quem ofendeu. É um processo que vem de dentro. É uma escolha. É recuperar seu poder assumindo a responsabilidade pelo que você sente. É uma libertação. Uma aceitação de que nada se pode fazer pelo passado. É reconhecer que passado é passado e que nada vai mudar esses acontecimentos.
Na realidade, perdoar é aceitar que a coisas ruins podem acontecer e que as pessoas mesmo quando amam, se machucam. O perdão nos ajuda a reconhecer e admitir que somos frágeis e que não precisamos esconder essa fragilidade. Quando nos tornamos conscientes dos nossos limites, evitamos que a experiência se repita. Perdoar é um sentimento de bem-estar, é reconhecer que existe algo melhor que queremos fazer com a energia da vida e fazê-lo.
O perdão não se aplica só aos outros. Se perdoar também é importante. Ser capaz de se perdoar é reconhecer que apesar dos erros e culpas, podemos deixar de nos sentir merecedores de castigo. Não é esquecer nem persistir no erro, é começar de novo com a experiência adquirida.
Como diz Heloisa Capelas: “Reparar o passado e perdoar sempre lhe trará a alegria de sentir-se curado. Respire e sinta-se aqui e agora com o passado no seu lugar e o futuro por vir e você apenas perdoando e respirando. Respirando e perdoando... respire e... sinta-se curado!!!”
É um presente que damos a nós mesmos.
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