Érima de Andrade
Elevadores são um mundo à parte.
Elevadores são um mundo à parte.
Como não tem padronização dos botões, eles acabam tendo também uma linguagem própria, compreendida só pelos iniciados: L, L1, L2, GG, SS, S, A, G1, G2, T, P, E, E1, E2, CC, Co, e sei lá que outras letras eles usam, além dos números, é claro.
Só estive num elevador comercial que tinha legenda, o de um shopping, fora esse, fica por conta da imaginação do passageiro.
De um modo geral, elevador é um espaço mínimo, onde cabem todos os tipos de histórias.
Comigo aconteceu uma vez de entrar num elevador com uma mãe, uma filha e uma avó.
Estávamos no “L1”, primeiro andar com lojas, que no caso correspondia ao térreo, nos elevadores antigos. Eu ia para o 3° andar, o das salas, e elas para o “L2”, segundo andar com lojas.
Depois de fechar a porta, para nossa surpresa o elevador desceu. Foi para o “SS”, subsolo, onde os carros ficam estacionados.
Aliás, bastante comum que isso aconteça, antes de subir, pega alguém que está chamando do estacionamento. Mas para mãe em questão, foi um susto. Foi como se o elevador tivesse despencado, e quando a porta abriu e ela viu aquele espaço escuro, cheio de carros, parecia mesmo que estava no poço, perto do inferno.
Porta fechada, começamos a subir e... acaba a luz. Um pânico!
A mulher ficou histérica, a filha, de uns seis anos mais ou menos, percebendo a reação da mãe, teve certeza que estava em perigo e começou a chorar pedindo para tirarem ela dali.
A avó mandava a mãe se controlar e eu “assistia” a tudo em silêncio.
Pelo tato, achei o botão que tem um sininho desenhado e apertei.
Ele deve existir para fazermos um sonzinho enquanto esperamos a luz voltar, ninguém responde do outro lado. Mas ele apita dentro do elevador, o que só piorou a situação.
Para minha sorte, a luz voltou rápido, ficamos mais ou menos cinco minutos no escuro. A porta abriu e estávamos, de novo, no “L1”.
Elas sairiam em qualquer andar que ele parasse e a porta abrisse; a mãe saiu correndo, a filha chorando atrás e avó calmamente, como se estivesse muito cansada...
Meu filho fez orientação vocacional com uma psicóloga que atendia no 4° andar de um prédio comercial. Foram dez sessões em grupo. O divertimento era descer de elevador ao final das sessões. Cada dia, um era o “astro principal” de um espetáculo para câmera de vigilância. Faziam caretas, mímicas, dançavam, mas saiam do elevador super sérios, e em silêncio.
E o objetivo, claro, era encontrar a moça às gargalhadas. Conseguiram algumas vezes...
Eu fico imaginando que tipo de cena inusitada tira essas pessoas do sério. Ou já viram de tudo e não se surpreendem com mais nada, ou a cada dia assistem a um espetáculo particular...
Visitei uma amiga que mora no terceiro e último andar de um prédio. O elevador lindinho, amplo e totalmente fora de contexto. Tinha botões do zero ao nove, além do “C”.
Para subir, sem nenhuma dúvida, apertei o três, mas para descer, qual deles? O zero fica embaixo, mas não provoca nenhuma reação do elevador. O térreo , ou saída, ou sei lá que nome dar, fica no primeiro andar, botão “1” .
Vai ver a construtora conseguiu um desconto na hora da compra, já que não tem a menor possibilidade do prédio ganhar sete andares extras. Mas custava alguma coisa cobrir os botões que não fazem parte do prédio? Ou deixa-los em branco?
Exagero é sempre ruim... Outro elevador que conheci também peca pelo excesso. Alguém deve ter dito numa reunião de condomínio que espelhos ampliam o ambiente. Prédio antigo, elevador pequeno, vamos colocar espelhos! Que idéia genial!
Ficou horrível!
Forraram o teto e as três paredes totalmente de espelhos. Em vez de ampliar o ambiente, ele diminui, e fica lotado com a sua imagem refletida centenas de vezes! É sufocante.
E os novos elevadores inteligentes? Imagino que só funcionem em prédios comerciais. Antes de entrar num elevador, a gente digita o andar e um painel mostra qual dos elevadores disponíveis vai parar no andar solicitado.
Eu morava no 16° andar. Imagina se no meu prédio tivesse um elevador assim? Você marca o 16, entra no elevador, lembra que gostaria de passar na casa da vizinha que é no 12, e não pode mudar de idéia. O elevador não lhe dá essa alternativa... Mas em compensação conversa com você, “porta abrindo, porta fechando, terceiro andar”... conta tudo... muito educado.
E com a opção de ver as horas, saber a temperatura, faltou só àquelas curiosidades que aprendíamos na rádio-relógio, ai seria perfeito! Educado, cumprimenta, abre a porta para você e ainda arranja assunto para o dia todo, realmente, um sonho de tecnologia!
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