sábado, 22 de junho de 2013

Pecados

Érima de Andrade

Os budistas tem um conceito chamado caminho do meio que é uma abordagem equilibrada da vida e do comportamento das pessoas.

Em relação aos sete pecados capitais, segundo a matéria escrita por Joe Kita, O lado luminoso do pecado, na revista Seleções, os pesquisadores do comportamento concordam com os budistas: o melhor é mesmo o caminho do meio.

Vejamos, por exemplo, a ira. A ira, quando é construtiva, pode ter um impacto positivo na carreira de uma pessoa. Um estudo da Universidade de Michigam mostra que enquanto quem engole a frustração têm o triplo da probabilidade de admitir que se desapontou e que não tem mais chance de progredir; quem reconhece sua raiva, pode alimentar a ambição, influenciar negociações, inspirar sensação de controle e ter um status mais alto.

Estudos também mostram que a supressão crônica da raiva pode provocar pressão alta, doença cardíaca, depressão e transtornos do sono. Quando a raiva sai, solta-se o vapor emocional da panela de pressão da vida. Isso não significa, de maneira alguma, que você está autorizado a ser agressivo com quem quer que seja. A raiva construtiva é aquela que dá limites e não a que agride. E se você vive respondendo as situações quando elas acontecem, os limites vão sendo dados sem que haja um depósito de raiva prestes a explodir. Esse é o caminho do meio.

E a avareza? Segundo J. Keith Murnigham, professor da Escola Kellogg de Administração, a avareza tem algumas qualidades redentoras: “quando estimula as pessoas, como nos sistemas capitalistas, tem valor positivo,” diz ele.

As pesquisas mostram que, quando buscamos e adquirimos o que desejamos, nos sentimos ótimos. Isso tem potencial de fazer bem à saúde e à felicidade não só da própria pessoa, mas também à dos que a rodeiam, como família, amigos e, dependendo da empresa, acionistas e sociedade.

A avareza a ser evitada não é essa que estimula o crescimento, e sim a do desejo insaciável de acumular riqueza que resulta em esquemas de pirâmide, bolhas no mercado de imóveis e crises bancárias. A avareza no caminho do meio contribui para o progresso das pessoas.

Inveja. Pesquisadores holandeses verificaram que a inveja benigna nos motiva a melhorar. E um estudo da Universidade Cristã do Texas mostrou que quando ficam com inveja, os indivíduos têm mais concentração mental.

O livro O caminho do Artista, de Julia Cameron, ensina a fazer o mapa da inveja que converte a inveja maldosa, o pecado clássico, numa inveja benigna, uma vitória em potencial.

Eis o mapa: numa folha de papel faça três colunas intituladas Quem? Por quê? E daí? Depois responda as perguntas escrevendo o nome da pessoa, o porquê e o que pretende fazer a respeito. A inveja passará a ser um chamado a ação, uma ferramenta que motiva, em vez de ser um ódio venenoso. Ou seja, esse exercício é um convite para levar a inveja para o caminho do meio. A escolha é sua.

Preguiça. Pesquisas mostram que a velocidade dos pedestres, do mundo inteiro, aumentou 10% desde o início da década de 1990. Mas aonde toda essa pressa está nos levando?

Ir com calma faz bem em vários setores da vida. Uma pesquisa revela que a falta de sono desorganiza hormônios que atuam na regulação do apetite. Adultos que dormem cinco horas ou menos por noite têm probabilidade 55% maior de serem obesos.

Devanear também tem seu lado bom. Algumas das maiores descobertas aconteceram quando não se fazia nada, como Newton sentado debaixo da macieira. Pesquisadores da Universidade da Califórnia constataram que quem deixou a mente divagar durante 12 minutos teve, numa tarefa criativa subsequente, desempenho 41% melhor do que quem não divagou.

E a meditação, que tem seus benefícios reais comprovados em várias pesquisas, entre elas uma da Universidade de Washington que mostrou que quem treinou meditação por oito semanas conseguiu se concentrar durante mais tempo e sem ansiedade do que os que não meditaram, é um belo programa de bem-estar.

Chrissie Wellington, tetracampeã do Ironmam, maior prova de triatlo do mundo, percorre milhares de quilômetros por ano para se manter em forma, e afirma que fazer nada é tão importante quanto todo o treinamento.“Normalmente, tiro dois dias de descanso total por mês”, diz ela. “Assumo a posição bumbum-no-sofá. Não é tempo jogado fora. O corpo precisa de uma pausa para consolidar o que ganhou com o treinamento. Descansar me deixa melhor, mais rápida, mais forte e mais resistente.”

E você, como coloca na sua vida, a preguiça no caminho do meio?

Soberba. Para Jon Katzenbach, assessor empresarial, numa empresa, o motivador mais poderoso que o dinheiro é o orgulho. Diz ele, “basta olhar os funcionários de organizações extraordinárias com a Apple. O comprometimento emocional, e não a obediência lógica, é o que determina o serviço excepcional, a inovação, a dedicação dos funcionários e, em última análise, o sucesso.” Ele acrescenta que “ter orgulho do próprio trabalho é o segredo que motiva funcionários a obter o máximo desempenho.”

Estudos mostram que o orgulho voltado para realizações cria sentimentos de otimismo e valor. É motivador e resulta em maior perseverança e desenvolvimento pessoal. Pesquisadores especulam que a dignidade e o respeito próprios que vêm com o orgulho voltado para realizações promovem o bem-estar, uma potente vacina da vida.

Entre várias minorias populacionais, o orgulho étnico foi relacionado a mais saúde mental, notas mais altas, menor uso de drogas, redução da violência e risco mais baixo de doença cardíaca. O orgulho aqui promove liderança e admiração, diferente da soberba que é a pretensão de superioridade sobre as demais pessoas.

Esse é o caminho do meio da soberba, quando as pessoas diferentes se juntam e se aprimoram.

Gula. Quase metade da população brasileira está acima do peso, segundo pesquisa do Ministério da Saúde em 2012, e pode parecer que a gula não tem nenhum lado bom. Mas tudo tem um lado bom. Cientistas da Universidade de Tel-Aviv constataram que acrescentar uma pequena sobremesa a um desjejum balanceado facilita o emagrecimento.

Como? Simples. Imagine um painel que tenha um marcador que mede a força de vontade. Quando a agulha mostra o tanque cheio, é sinal que você ignora todos os alimentos gordurosos. Mas cada vez que você se sente tentado por alguma coisa e usa a força de vontade para evitá-la, a agulha caí um pouquinho. Depois de um dia inteiro se controlando, o tanque da força de vontade se esvazia, e é por isso que você mergulha de cabeça num pacote de biscoitos. O que os pesquisadores descobriram é que uma pequena gratificação, mantém aquela agulha no ponto máximo e, ao longo prazo, fortalece a força de vontade.

Por outro lado, para atletas de resistência que queimam 9 mil calorias ou mais por dia nos treinos, ser guloso é a única maneira de manter o nível de energia.

Então se você não se movimenta o suficiente para queimar as calorias ingeridas ao longo do dia, o caminho do meio para você será a pequena gratificação, que pode ser um biscoito doce no café da manhã, ou uma ou outra refeição mais gordurosa de vez em quando. O importante é se observar, reconhecer onde estão seus excessos e aprender a lidar com eles.

Luxúria. Segundo uma pesquisa da Universidade de Amsterdã a luxúria provoca no cérebro mecanismos de pensamento analítico, o que faz as pessoas se concentrarem melhor no presente e nos seus detalhes, pois para a luxúria o que funciona é o “quero agora!” O amor, em comparação, provoca pensamentos de longo prazo e criatividade.

Isso significa que a luxúria é capaz de mostrar com mais clareza as falhas nas suas relações e ajuda a buscar as soluções, enquanto o amor pode ficar esperando que tudo mude.

Também segundo pesquisadores holandeses a luxúria amortece a resposta natural de nojo das mulheres. As mulheres sexualmente excitadas demonstram menos nojo do que as que não estavam. Portanto, segundo eles, se a mulher estiver mais amorosa, o homem não precisa se esforçar demais para ser glamouroso.

Em termos gerais, não há dúvidas de que a luxúria sexual pode ser destrutiva, mas a luxúria vital é virtuosa. Como ressalta o filósofo Simon Blackburn no livro Luxúria, ela é uma afirmação da vida. É revigorante, divertida e poucos estaríamos aqui sem ela. Joe Kita escreveu “como acontece com todos os Pecados Capitais, ser mortal ou não depende de uma questão: se nós a controlamos ou ela nos controla”.

E na sua vida, quem está no controle, você ou os seus pecados?


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