Tenho
escutado com frequência que o cérebro não registra o “não”.
Não
consigo acreditar nisso.
A
minha prática mostra exatamente o contrário: o cérebro além de
registrar o não, fica em alerta ao que vem depois do não. Por
exemplo, se você está caminhando, ou fazendo algum outro movimento,
e alguém berra “não” ao seu lado, você imediatamente para e
presta atenção.
Para
e presta atenção ao que vem depois do não.
O
mesmo acontece quando ouvimos, ou lemos, uma frase que começa com o
não: não pense num elefante rosa dançando balé.
Traduzindo:
pare e preste atenção, pense num elefante rosa dançando balé.
A
atenção vai toda para a frase após o não, e pensamos no que não
deveríamos pensar.
E
depois de novo se nos perguntarmos, o que é mesmo que eu não devo
pensar? Num elefante rosa dançando balé.... e lá vamos nós dar
atenção constante ao que vinha depois do não...
O
“não” é imperativo, ele nos obriga a olhar atentamente a frase
que o acompanha. Se não é para lembrar do elefante, as alternativas
do que é possível pensar, devem estar sem o não. Pensem em
borboletas no jardim, pensem num balé de golfinhos, pensem....
Usamos
o não como recurso para chamar atenção até de maneira
inconsciente. Quantas vezes começamos uma frase com não? Ou quantas
você você já ouviu alguém que ao relatar um fato começa com a
palavra não?
Da
maneira como eu vejo, não estamos começando a frase com uma
negativa, e sim com: pare e preste atenção, quando eu fiz... e
segue a história que esta sendo narrada.
Da
mesma maneira quando usamos o não para dar limites. Quando dizemos
não para demarcar um espaço, emocional ou não, estamos dizendo,
pare, preste atenção, até aqui você pode, daqui para frente não
pode mais.
Nesse
caso, o não é a poda. E o procedimento de poda é necessário para
que a árvore cresça forte e saudável. Tome consciência do poder
construtivo do não. O não é poderoso, é ele que mantem nossas
reservas de energia, alegria, criatividade, amor e tempo. É o não
que preserva o nosso espaço pessoal.
Quanto
mais assertivo você for, mais fácil para você dizer não, mais
fácil dar limites, mais fácil ter atitudes firmes. “Baixa
assertividade pode levar a depressão, frustração e baixa
autoestima”, diz Eliane
Falcone. “Ser gentil, solidário, prestativo, amigo e companheiro é
muito bacana. Mas não tem nada a ver com negligenciar as próprias
necessidades”, completa ela.
Dizer
não pode levar a uma situação desconfortável ou de
confrontamento. Mas se você sente que é essa resposta, é um não
que você deve falar. Seus sentimentos são a sua bussola, confie
neles.
Quando
você sente não e responde sim, na verdade esta dizendo que o que
você sente não tem valor. Você está se privando das suas
necessidades afetivas básicas, criando mágoas e ressentimentos, e
isso gera conflito, culpa, tédio e a sensação de mexer-se mas não
sair do lugar. É o que você quer?
“Um,
o que você quer. Dois, o que você pensa. Três, o que sente.
Quatro, o que faz. Pras coisas darem certo e a vida fluir, essas
quatro coisas precisam estar alinhadas. Faz sentido pra você?”
(Marco Antonio Beck)
Se
faz, repense onde e como você está usando o não. Antes que se
sinta sobrecarregado e a insatisfação tome conta do seu peito,
entenda que se você não quer uma situação, se é realmente
verdade para você que aquilo não é a sua escolha, diga não.
E
siga feliz e sem culpa.
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