domingo, 28 de outubro de 2012

Não?

Érima de Andrade

Tenho escutado com frequência que o cérebro não registra o “não”.

Não consigo acreditar nisso.

A minha prática mostra exatamente o contrário: o cérebro além de registrar o não, fica em alerta ao que vem depois do não. Por exemplo, se você está caminhando, ou fazendo algum outro movimento, e alguém berra “não” ao seu lado, você imediatamente para e presta atenção.

Para e presta atenção ao que vem depois do não.

O mesmo acontece quando ouvimos, ou lemos, uma frase que começa com o não: não pense num elefante rosa dançando balé.

Traduzindo: pare e preste atenção, pense num elefante rosa dançando balé.

A atenção vai toda para a frase após o não, e pensamos no que não deveríamos pensar.

E depois de novo se nos perguntarmos, o que é mesmo que eu não devo pensar? Num elefante rosa dançando balé.... e lá vamos nós dar atenção constante ao que vinha depois do não...

O “não” é imperativo, ele nos obriga a olhar atentamente a frase que o acompanha. Se não é para lembrar do elefante, as alternativas do que é possível pensar, devem estar sem o não. Pensem em borboletas no jardim, pensem num balé de golfinhos, pensem....

Usamos o não como recurso para chamar atenção até de maneira inconsciente. Quantas vezes começamos uma frase com não? Ou quantas você você já ouviu alguém que ao relatar um fato começa com a palavra não?

Da maneira como eu vejo, não estamos começando a frase com uma negativa, e sim com: pare e preste atenção, quando eu fiz... e segue a história que esta sendo narrada.

Da mesma maneira quando usamos o não para dar limites. Quando dizemos não para demarcar um espaço, emocional ou não, estamos dizendo, pare, preste atenção, até aqui você pode, daqui para frente não pode mais.

Nesse caso, o não é a poda. E o procedimento de poda é necessário para que a árvore cresça forte e saudável. Tome consciência do poder construtivo do não. O não é poderoso, é ele que mantem nossas reservas de energia, alegria, criatividade, amor e tempo. É o não que preserva o nosso espaço pessoal.

Quanto mais assertivo você for, mais fácil para você dizer não, mais fácil dar limites, mais fácil ter atitudes firmes. “Baixa assertividade pode levar a depressão, frustração e baixa autoestima”, diz Eliane Falcone. “Ser gentil, solidário, prestativo, amigo e companheiro é muito bacana. Mas não tem nada a ver com negligenciar as próprias necessidades”, completa ela.

Dizer não pode levar a uma situação desconfortável ou de confrontamento. Mas se você sente que é essa resposta, é um não que você deve falar. Seus sentimentos são a sua bussola, confie neles.

Quando você sente não e responde sim, na verdade esta dizendo que o que você sente não tem valor. Você está se privando das suas necessidades afetivas básicas, criando mágoas e ressentimentos, e isso gera conflito, culpa, tédio e a sensação de mexer-se mas não sair do lugar. É o que você quer?

Um, o que você quer. Dois, o que você pensa. Três, o que sente. Quatro, o que faz. Pras coisas darem certo e a vida fluir, essas quatro coisas precisam estar alinhadas. Faz sentido pra você?” (Marco Antonio Beck)

Se faz, repense onde e como você está usando o não. Antes que se sinta sobrecarregado e a insatisfação tome conta do seu peito, entenda que se você não quer uma situação, se é realmente verdade para você que aquilo não é a sua escolha, diga não.

E siga feliz e sem culpa.



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