quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Apenas Ouça

Érima de Andrade

Trecho retirado do livro Histórias que Curam, escrito por Rachel Naomi Remen:

Imagino que o modo mais básico e eficaz de conectar-se com outra pessoa seja ouvindo. Apenas ouvindo. Talvez a coisa mais importante que damos uns aos outros seja nossa atenção. E especialmente se ela for dada de coração. Quando as pessoas estão falando, não é preciso fazer nada alem de recebe-las. Simplesmente as acolha. Ouça o que estão dizendo. Importe-se com isso. Na maioria das vezes, importar-se é até mais importante do que entender. Muitos de nós não nos valorizamos ou nos amamos o suficiente para fazer isso. Demorei muito tempo para crer no poder de dizer simplesmente “sinto muito” quando alguém esta sofrendo. E dizer com sinceridade.

Uma das minhas pacientes comentou que, quando tentava contar sua história, as pessoas com frequência a interrompiam para dizer que uma vez já lhe acontecera algo exatamente assim. De um modo sutil, a dor daquela mulher transformava-se em uma história a respeito de si mesma. Ela acabou parando de conversar com a maioria das pessoas. Era solitário demais. Nós nos ligamos aos outros ouvindo. Quando interrompemos o que alguém está dizendo para informar que compreendemos, deslocamos o foco da atenção para nós mesmos. Quando ouvimos, as pessoas ficam sabendo que nos importamos. Muitas pessoas com câncer mencionaram o alívio de terem alguém para ouvi-las.

Cheguei até mesmo a aprender a responder a alguém que chora simplesmente ouvindo. Antigamente eu costumava procurar lenços de papel, até o dia em que percebi que passar os lenços para alguém podia ser apenas mais um modo de fazer a pessoa fechar-se, de afasta-la de sua experiência, de tristeza e dor. Agora eu só ouço. Depois de ela ter chorado tudo o que precisava chorar, encontra-me ali, com ela.

Essa coisa simples não foi assim tão fácil de aprender. Certamente, chocou-se contra tudo o que me fora ensinado desde criança. Eu pensava que as pessoas ouviam só porque eram tímidas demais para falar ou não sabiam a resposta. Um silêncio afetuoso muitas vezes tem maior poder de cura e de conexão do que as palavras mais bem-intencionadas.” Rachel Naomi Remen

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