quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Deduções

Érima de Andrade

Quando ainda estudava no São Vicente de Paula, aqui em Niterói, ouvi uma piadinha, dessas que a gente contava uns para os outros na hora do recreio, que uso até hoje como ilustração de uma dedução errada.

Era uma experiência de um cientista com uma aranha:

O cientista querendo estudar a aranha, a colocou numa caixa de vidro
e observou como ela caminhava. 
Satisfeito com o que viu, começou sua experiência:
retirou uma perna da aranha e ordenou:

- Anda aranha.

A aranha com uma perna a menos, caminhou quase em linha reta,
puxando ligeiramente para o lado das três pernas intactas.
O cientista então retirou uma segunda perna e ordenou:

- Anda aranha.

E ela foi, com duas pernas de cada lado, caminhando devagar,
mas em linha reta.
Continuando a experiência,
o cientista retirou a terceira perna e ordenou:

- Anda aranha.

Ela então caminhou traçando uma diagonal,
indo para o lado onde ainda restavam duas pernas.
Continuando, o cientista retirou mais uma perna e ordenou:

- Anda aranha.

Ela passou a pular.
Apoiava as duas pernas no chão e se jogava para frente,
traçando uma linha reta.
O cientista então retirou a última perna de um dos lados e ordenou:

- Anda aranha.

A aranha tentando andar,
apoiava a última perna no chão e se mexia.
Mas o que conseguiu foi apenas rodar em círculos.
O cientista resolveu continuar,
e retirou a última perna que restava na aranha, e ordenou:

- Anda aranha.

A aranha não se mexeu. Ele tentou de novo:

- Anda aranha.

Como ela continuou parada,
ele deu por encerrada a experiência
e concluiu:

“Aranha sem pernas é surda.”

Não entendo absolutamente nada de insetos, então estou considerando que a audição das aranhas não tem nada a ver com as pernas. Dito isso, continuemos.

Quantas vezes na vida você fez como esse cientista, viu tudo e concluiu errado? É muito comum em pessoas “perdidamente” apaixonadas. Onde todo mundo vê grosserias, ela vê uma prova de amor...

Também muito comum com os preconceituosos. Onde todo mundo vê uma pessoa loura, ou feliz, ou judia, ou complete com qualquer outro chavão, eles vêem uma pessoa burra, ou gay, ou ladrão, ou complete com qualquer outra afirmação preconceituosa.

Quantas vezes deixamos de conhecer a pessoa que está na nossa frente, porque decidimos que já sabemos como ela pensa, age ou é, apenas por um único dado que analisamos?

Será que andamos pela vida como esse cientista, que provoca as transformações, acompanha os fatos e conclui errado, apenas porque o outro agiu de uma maneira diferente da que eu esperava?

Será que nos permitimos aceitar que o outro, mesmo diferente de nós, também está certo? Sou capaz de respeitar as opções do outro?

E em relação ao espelho, será que eu estou vendo a pessoa que eu sou? Eu estou me respeitando?

Para respeitar é preciso aceitar. Para aceitar é preciso conhecer. Eu estou me dando espaço para conhecer a mim e ao outro?

Que suas experiências se transformem em aprendizado. 

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