domingo, 17 de junho de 2012

Mães, bebês e cultura

Érima de Andrade

A internet realmente aproxima as pessoas e possibilita o surgimento de grandes ideias capazes de transformar, para melhor, a qualidade de vida delas.

Por exemplo: de um grupo de discussão sobre parto humanizado e maternidade ativa surgiu à ideia de voltar a frequentar sessões de cinema após o nascimento do bebê, mesmo que ainda esteja amamentando.

Essa é a história da ONG CineMaterna; uma mãe cinéfila que declarou sentir muita falta de ir ao cinema foi à inspiração para que 10 mães e seus bebês - entre 20 dias e 4 meses de idade - invadissem um cinema em fevereiro de 2008.

E foi um sucesso! Com o apoio das salas de cinema, que acolhem os bebês com todo o conforto, reduzindo o som, oferecendo um trocador na sala, deixando o ar condicionado mais suave e o ambiente levemente iluminado, entre amamentação e fraldas, as mães conseguiram retomar sua vida cultural.

As sessões de cinema são para mães com bebês de até 18 meses, e os filmes escolhidos para a diversão dos adultos através de enquetes semanais. Provavelmente foi através dessa enquete que o grupo foi parar no ensaio aberto da Orquestra Petrobras Sinfônica. O vídeo abaixo mostra o sucesso dessa iniciativa:


Para mães preocupadas com os efeitos dessa programação nos seus filhos, eis as entrevistas com Honorina de Almeida, pediatra, doutora em pediatria do desenvolvimento e especialista em aleitamento materno, e Roberto Mario Silveira Issler, pediatra, professor de pediatria e consultor em amamentação:

Com quanto tempo o bebê pode sair de casa?

Honorina:A resposta à pergunta é: não tenha pressa, mas também não espere o bebê fazer um ano. Lembre-se que o bem-estar do bebê caminha junto com o bem-estar da família. Respondendo à pergunta, podemos dizer que um bebê está pronto para sair de casa, quando seus pais estiverem prontos.”

Roberto Mario:O bebê pode sair de casa tão logo sua mãe se sinta segura e em condições de poder atender a criança em outros ambientes.”

Não é perigoso para a saúde do bebê um ambiente fechado como o cinema?

Honorina:Se pensarmos no ambiente de uma sessão de cinema comum, que está preparada para receber pessoas adultas e crianças maiores, sim, ele pode realmente ser inadequado para o bebê e também para seus pais que podem ficar constrangidos, por exemplo, se o bebê chora.
Mas isso muda se pensarmos em uma situação especial de um cinema que se propõe a realizar uma sessão para pais acompanhados de seus bebês. O ambiente deve ser adequado para esse público. O ar condicionado deve ser colocado em uma temperatura adequada, o volume do som deve ser reduzido e deve-se dar preferência para as primeiras sessões do dia.”

Não há muitas bactérias no ar condicionado?

Roberto Mario:Os cinemas selecionados pelo CineMaterna possuem certificado de revisão do seu sistema de ar condicionado. Além disso, a sala é preparada para que especialmente os bebês se sintam confortáveis, como aumento da temperatura ambiente e manutenção de luzes de baixa intensidade para ajudar as mães a dar atenção aos bebês durante a sessão, se necessário.”

O som não afeta a audição de um bebê?

Honorina:O som no cinema pode ser muito elevado e deixar o bebê um pouco irritado. Numa sessão onde bebês estão presentes, o volume do som deve ser diminuído.”

Roberto Mario: O som dos cinemas é diminuído de intensidade justamente para não causar desconforto para os bebês e suas mães.”

O que muda no relacionamento mãe e bebê?

Honorina:Esse é o ponto de maior impacto na iniciativa da CineMaterna. Principalmente em cidades muito grandes, a rede sociofamiliar de mulheres que estão com bebês pequenos, fica muito reduzida. Muitas mulheres passam a sofrer de um isolamento social que não faz nada bem, nem para as mulheres e muito menos para os bebês.
Um bebê dá muito trabalho, é certo, mas se uma mãe, que cuida do seu bebê sabe que num determinado dia ela vai encontrar outras mães, conversar um pouco e ver um bom filme, esses meses iniciais ficam muito mais fáceis e gostosos. O bebê deixa de ser o motivo do isolamento e passa a ser o facilitador da construção de relações sociais. E isso é muito bom.”

Roberto Mario:Acho muito importante essa oportunidade para a mãe retomar sua vida social junto com seu bebê. Além disso, o encontro que o CineMaterna proporciona após a sessão, dá oportunidade para que as mães conversem, troquem experiências, conhecimentos, dúvidas, sucessos e receitas de boa convivência com seus filhos que só uma mãe para outra mãe é capaz de fazer! Existe cumplicidade, confiança e talvez até novas amizades, entre as mães e mesmo entre os bebês, futuramente, possam acontecer.”

Muito bom!

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