quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Reflexo condicionado

Érima de Andrade

“No final do século XIX e no início do século XX, um fisiologista russo chamado Ivan Pavlov (1849-1936), ao estudar a fisiologia do sistema gastrointestinal, fez uma das grandes descobertas científicas da atualidade: o reflexo condicionado.

Foi uma das primeiras abordagens realmente objetivas e científicas ao estudo da aprendizagem, principalmente porque forneceu um modelo que podia ser verificado e explorado de inúmeras maneiras, usando a metodologia da fisiologia.

Pavlov inaugurava, assim, a psicologia científica, acoplando-a à neurofisiologia. Por seus trabalhos, recebeu o prêmio Nobel concedido na área de Medicina e Fisiologia em 1904.

A experiência clássica de Pavlov é aquela do cão, a campainha e a salivação à vista de um pedaço de carne.

Sempre que apresentamos ao cão um pedaço de carne, a visão da carne e sua olfação provocam salivação no animal.

Se tocarmos uma campainha, qual o efeito sobre o animal? Uma reação de orientação. Ele simplesmente olha, vira a cabeça para ver de onde vem aquele estímulo sonoro.

Se tocarmos a campainha e em seguida mostrarmos a carne, dando-a ao cão, e fizermos isso repetidamente, depois de certo número de vezes o simples tocar da campainha provoca salivação no animal, preparando o seu aparelho digestivo para receber a carne.

A campainha torna-se um sinal da carne que virá depois. Todo o organismo do animal reage como se a carne já estivesse presente, com salivação, secreção digestiva, motricidade digestiva etc.

Um estímulo que nada tem a ver com a alimentação, meramente sonoro, passa a ser capaz de provocar modificações digestivas.” Júlio Rocha do Amaral e  Renato M.E. Sabbatini

Eu sei exatamente como se sentia esse cão. Reajo igual a ele quando ouço o sino que toca na torre de um shopping aqui de Niterói. E nem precisei frequentar muito o lugar para ficar assim condicionada.

Faço no shopping o meu check-up anual. Às vezes é o único período que vou até lá. E mesmo assim, é impossível, para mim, pelo menos, passar pelo quiosque e ignorar o sino que avisa que a pizza de banana está pronta. Desperta automaticamente meu apetite.

É um fenômeno interessante de ser observado. O quiosque fica no terceiro piso, entre as duas escadas rolantes. O dono fica lá tranquilamente preparando suas pizzas, num momento de pouco movimento no balcão.  Aí, ele toca o sino, retira as pizzas do forno e começa a fatiar. É o tempo exato do balcão lotar.  Acho que ele condicionou com seu sininho e suas pizzas toda a população de Niterói...

É muito interessante os condicionamentos que vamos construindo ao longo da vida. Eu me transporto automaticamente para a casa da minha mãe, quando vejo um molho de tomate encorpado. Infelizmente, na maior parte das vezes, me decepciono... Mesmo com a aparência do molho da minha mãe, o sabor não é igual... Como o da minha mãe, acho que ninguém faz...

Os aromas também me transportam. Incensos sempre me levam à casa de uma amiga que tem o hábito de colocar uma vareta queimando no caminho entre o portão e a varanda. Posso estar na rua, passando por alguém que vende incensos e o aroma já me coloca no caminho de uma casa querida.

Roupas no varal, lavadas com um sabão e um amaciante específicos, também me transportam. Vou direto para São Paulo, noutra casa querida que me acolheu em muitas ocasiões por vários meses.

Pôr do sol provoca em mim um momento de reflexão; vento e chuva me deixam animada; praia no fim de tarde me dá um imenso prazer; chocolate com biscoitos me levam para o grupo de bandeirantes; café com leite me dá aconchego... Sou muito bem condicionada por meus afetos.

Que estímulos provocam suas melhores lembranças?

4 comentários:

  1. Cheiro de maresia e de tangerina me levam a bons momentos da infância!

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  2. Estranho como o reflexo condicionado realmente nos transporta a momentos. Acredito que existe sim uma resposta diferenciada que varia de pessoa para pessoa. Acredito que nem todas respondem a um reflexo de uma mesma maneira. O conjunto faz com que a resposta ao reflexo foi condicionado faz com que se tenha uma resposta dita positiva ou negativa ao estímulo. Por exemplo, pesssoas que passaram por guerras também estão ligadas a reflexos condicionados a fatores que, no caso, explosões geram reações. No meu caso sinto uma grande respostas à músicas, onde cada música funciona dispara momentos da vida. Interessante!

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  3. É verdade Marcelo, o que nos afeta também pode nos condicionar. E somos afetados por estimulos positivos e negativos. Mesmo os traumatizados de guerra tem afetos positivos. E sempre podemos escolher que memórias cultivar. E isso, em absoluto, não tem nada a ver com esquecer o que viveu. Aprendemos com a vivência e cultivamos as memórias que escolhemos. Bem vindo ao blog. Érima

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