domingo, 18 de setembro de 2011

Segredos

Érima de Andrade

Lembre-se: os silêncios mantêm os segredos. 

É muito difícil guardar um segredo, às vezes é uma tortura. Junto com a vontade de revelar o segredo vem à luta para reprimir o desejo. 

Para Jean Chevalier e Alain Gueerbrant “o segredo é também fonte de angústia pelo seu peso interior, tanto para aquele que o guarda quanto para aqueles que o temem”. 


E só é uma angustia porque está fechado dentro de você. Muitas vezes só precisamos de alguém que nos ouça. Apenas isso é suficiente para acalmar nossa alma. 

Um segredo é um segredo enquanto é só seu. Depois de revelado a quem quer que seja, deixa de ser um segredo e passa a ser uma história partilhada com dois ou três, ou quantos mais souberem. 

Além das palavras, quando comunicamos um segredo, um mundo de nuances diferente é percebido e recebido pelo outro. Um olhar, ou tom de voz, podem comunicar muito mais do que está contido em uma mensagem manifestada através das palavras. A forma como você fala e olha faz uma grande diferença. Para esse compartilhamento lhe fazer bem, precisa ser com alguém da sua confiança, um amigo.

“O que é um amigo? Eu lhe direi. É uma pessoa com a qual você ousa ser você mesmo. A sua alma pode se despir diante dele. Quando você está com ele, tem um sentimento de um prisioneiro que foi declarado inocente. Você não tem que estar em guarda. Você pode dizer o que pensa, conquanto isto seja genuinamente você. Ele compreende aquelas contradições em sua natureza que fazem com que os outros o mal interpretem. Com ele você pode respirar livremente. Você pode reconhecer suas pequenas vaidades e invejas e ódios e chispas de maldade, suas mesquinharias e absurdos, e, ao abri-los para ele, é como se eles se perdessem, dissolvidos no oceano branco da lealdade. Ele compreende. Você não tem que tomar cuidado. Você pode abusar dele, ignorá-lo, tolerá-lo. Melhor ainda, você pode até não fazer nada. Isso tudo não importa. Ele gosta de você. Ele é como o fogo que limpa até a medula. Ele compreende. Ele compreende.” Autor Desconhecido
 
É do ser humano errar, e pode ser perdoado por seus erros. Ao contar o que o aflige, o que lhe causa vergonha, você se reconhece como um ser humano passível de erros e digno de perdão, acaba com a tensão provocada pelo segredo. E pode viver o que descreveu Joan Borysenko:

“Há momentos, em todas as vidas, quando a maré vira e você está para sempre modificado. Muito após estes momentos terem passado, você pode relembrá-los com claridade quase cristalina. Eles parecem mais reais que o real, incluso de uma riqueza de insights, emoções e presença singular. Naquele momento, você saiu do padrão da vida rotineira para um estado de despertar e liberdade. Finalmente você está em casa, confortável em sua própria pele, sentindo o que Einstein chamou de solidariedade com toda a vida. Sua jornada pessoal – os sucessos e as falhas, as feridas e a sabedoria – faz profundo sentido. Uma fonte de compaixão se abre, e você se ama e ama a todos os seres com grande humildade e enorme simplicidade – talvez, pela primeira vez. Dessa maravilhosa sensação de se sentir em casa provém a convicção absoluta de que a vida é uma jornada sagrada, uma benção e um privilégio.” 

Talvez você não consiga ou nem precise revelar algum segredo. Talvez você tenha uma angústia e não associa a segredo algum, sente apenas que precisa modificar alguma coisa na sua vida. Com que liberdade você vive suas experiências emocionais? Você se sente livre para expressar seus verdadeiros sentimentos? Se não se sente livre, só um amigo talvez não ajude.

Nesse caso, você pode procurar uma ajuda terapêutica. É uma relação de amizade, de ajuda pautada pela empatia, que propicia um clima favorável ao seu crescimento pessoal. Mas diferente das relações só de amizade, numa terapia não existe, ou não deve existir, a troca de confidências. É você o foco das atenções, nunca o terapeuta. 

A diferença está no fato que terapeutas são detentores de conhecimentos teóricos e técnicos que os possibilita a levar às mudanças que você busca. Terapeutas são especialistas em um campo de conhecimento, e esse aspecto diferencia o tipo de relacionamento que se estabelece entre vocês. E assim se constrói a relação terapêutica.

O terapeuta que pretende um contato com seu cliente terá que aprender a decifrá-lo. Entender as imagens que ele pinta e modela, aprender a ler sua expressão corporal, captar as mensagens de suas tentativas de comunicação.

Um terapeuta-decodificador vai estar sempre tentando entender o significado das mensagens enviadas. A postura, o discurso, a obra produzida, são partes da história de vida de cada um. E mesmo que num primeiro momento, decodificar não seja possível, o terapeuta-decodificador vai estar por perto, tentando aprender esse novo código, olhando para cada um como um ser único, com códigos parecidos, mas individualizados; lembrando que atitudes, interesses e habilidades diferem de pessoa para pessoa, e o que é a melhor maneira para um, pode ser a pior maneira para outro.

Por isso, reconhecer um sentimento é tão importante quanto entender um discurso. Pensar na expressão verbal, lógica, organizada, como a única forma de se expressar, limita muito as possibilidades de comunicação; uma boa imagem “fala” tanto, ou mais, do que um texto de mil palavras. 

E é sempre bom lembrar que a comunicação é uma via de mão dupla, o terapeuta também envia suas mensagens. O seu cuidado, sua atenção, seu interesse, seu conhecimento, aparecem claramente, o tempo todo, e independente de qualquer coisa que seja feita, estes serão transmitidos.

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