segunda-feira, 16 de maio de 2011

Apegos

Érima de Andrade

"Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas,
que já têm a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e,
se não ousarmos fazê-la, teremos ficado,
para sempre, à margem de nós mesmos."

                                                  Fernando Pessoa

Existem momentos na vida em que, para crescer, precisamos romper com tudo aquilo que não nos serve mais. São os momentos onde é possível encarar, e se desfazer, de tudo que não faz mais nenhum sentido na nossa vida, inclusive aquelas crenças que cultivamos como se não houvesse outras possibilidades.

É o momento de romper com tudo o que preservamos por apego como relacionamentos falidos, hábitos, modelos mentais, expectativas falsas que nos mantém com a mente e o coração, cheios de velhas idéias, sentimentos do passado, mágoas e fantasias.

Apegos são fontes inevitáveis de sofrimento. Quando nos apegamos permanecemos ligados ao passado, não conseguimos viver plenamente o momento presente, nem vislumbrar o futuro.

Mas existem momentos na nossa vida que por algum motivo somos desafiados a desapegar, a perder as cascas, a trocar a pele, a renovar, a mudar a paisagem, a virar a página.

Desapegar é se livrar de tudo o que você não quer mais e abrir espaço para o que você quer. O desapego nos torna criativos, nos faz encontrar um novo caminho, uma nova forma de ver e de viver a vida, abre espaço para novas alegrias, novas experiências.

Desapego não é desinteresse, indiferença ou fuga. Desapego é quando encaramos de frente o que nos acontece, com consciência, com presença, com aceitação, vivemos e deixamos ir.

“Quando você estiver doente, aceite a doença e faça o possível para se recuperar. Aceite a doença e a transcenda... ou melhor, aceite-transcendendo. A vida é mutável; todas as coisas são mutáveis; todas as condições são mutáveis. Por isso, “deixe ir” as coisas. Todos os abusos, a raiva, a censura – deixe que venham e que se vão. Tudo o que fazemos, devemos fazer com sinceridade, com honestidade e com todas as nossas forças; e uma vez feito, feito está. Não nos apeguemos a ele. Muitas pessoas se apegam ao passado ou ao futuro, negligenciando o importante presente. Devemos viver o melhor “agora”, com plena responsabilidade.

Quando o sol brilha, desfrute-o; quando a chuva cai, desfrute-a. Todas as coisas nesta vida – deixe que venham e deixe que se vão. Este é um segredo da vida que nos impede de ficar aborrecidos ou neuróticos. Buda disse que todas as coisas na vida e no mundo estão em constante mutação; por isso, não se torne apegado a elas.” Gyomay Kubose

Quanto mais rapidamente aprendermos a aceitar o que está acontecendo nesse exato momento, a tomar decisões no agora, a interagir com as coisas que estão diante dos nossos olhos mais seremos capazes de nos desapegar, de deixar ir.

A única coisa que temos de fato é o presente. E quem não aproveita o presente deixa de gozar a vida. Segundo Schopenhauer a consequência da fuga do presente é a insatisfação eterna dos que não valorizam o que possuem, desejando sempre coisas distantes.

Do que você precisa desapegar para viver plenamente o seu presente?

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