Érima de Andrade
Nessa
época de frio, aumenta e muito a vontade de comer um docinho. Até
em mim que não sou chegada a doces...
O
meu problema é com o açúcar.
Não
gosto de sentir o gosto do açúcar quando como um doce. Açúcar é
para temperar, para realçar o sabor, para dourar ou caramelizar. Com
muito açúcar, tudo fica com o mesmo gosto. Pudim, arroz doce, doce
de banana, tanto faz a receita, exagerou no açúcar, é só ele que
você vai sentir.
Se
alguma comida tem excesso de sal, as pessoas reclamam.
Se
tem excesso de açúcar acham que ficou uma delícia!
Não
ficou não, ficou horrível!
De
que adianta ir a uma loja com 40 sabores de sucos se vai entupir o
copo de açúcar? Tanto faz o sabor escolhido, nem vai sentir o sabor
da fruta mesmo, só do açúcar. Um desperdício completo...
E
cozinhar com açúcar? Um tormento!
Meus
filhos eram pequenos e estavam brincando em casa com Diogo, o filho
da vizinha.
Não
me lembro mais como a história começou, mas de repente estávamos
falando de pipoca doce.
Diogo
disse que sabia fazer. “É fácil tia!”
Então
tá, panela, milho, açúcar e vamos.
Ele
ainda ficava recitando: “Diogo sabe, Diogo faz”, feliz da vida.
Sabia
mesmo, fez mesmo e ficou ótima.
Mas
a panela, que coisa...
Cinco
dias de molho depois, eu ainda brigava pra tirar o açúcar grudado
no fundo.
Deve
ter uma ciência especial, um saber específico de
como-limpar-panela-suja-de-açúcar, mas eu desconheço.
E
virou uma questão de honra, eu ia limpar aquela panela de qualquer
jeito!
Consegui,
e qualquer receita que tenha “fazer uma calda de açúcar”,
“caramelar a forma” ou qualquer coisa parecida, nem pensar!
Pode
fazer aqui em casa, mas deixa tudo limpo depois, ou compra pronto,
que nem suja nada, muito melhor.
Não
gosto do sabor do açúcar, mas gosto de alguns doces.
O
de banana, por exemplo, acho uma delícia.
Minha
avó faz e fica ótimo.
Quando
o doce fica vermelho, fica melhor ainda, e não tenho ideia do que
faz a banana avermelhar em vez de escurecer.
Mas
além de bonito, fica delicioso. Com um queijinho de Minas, é o
paraíso...
Aí,
chega o forno de micro-ondas.
Novo,
enorme, com instruções e receitas super fáceis, descritas passo a
passo.
Entre
elas, doce de banana, tão fácil...
Num
pirex uma camada de açúcar, uma de banana cortada em rodelas,
açúcar, banana, açúcar, banana, intercalando sempre, terminando
com açúcar.
Tempo
e temperatura ajustados é só ligar e esperar pra ficar igual ao da
foto, inclusive por que usei um pirex igual ao da foto. Simples
mesmo.
O
passo a passo devia incluir a limpeza do pirex depois, por que não
dava pra botar aquilo na mesa, ou pelo menos ensinar como tirar dali
sem sujar a cozinha toda.
Para
minha surpresa o açúcar começou a borbulhar, bateu no teto,
derramou, se espalhou.
Fiquei
tão idiotizada olhando aquilo, que nem me ocorreu desligar o forno.
Um
espetáculo de açúcar espirrando para todo lado.
Onde
segurar para tirar dali antes que o açúcar endurecesse e a
sobremesa virasse uma escultura?
Cola
tudo na mão, pinga no chão, escorre, tem vida própria, uma
melequeira.
O
cheiro é ótimo, mas a banana murcha completamente, e um pirex
inteiro, dá pra uma porção individual de doce.
Uma
frustração completa...
Não
tenho dúvidas, isso nada tem a ver com minhas habilidades, o
problema é realmente do açúcar.
E
do forno de micro-ondas, e da banana, e do pirex, e da qualidade de
energia fornecida pela Ampla... por que é claro que isso tem uma
explicação.
Eu
só não sei qual é.
Publicado
no Montbläat 109 de 23/9/2005
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