quinta-feira, 25 de julho de 2013

Açúcar

Érima de Andrade

Nessa época de frio, aumenta e muito a vontade de comer um docinho. Até em mim que não sou chegada a doces...

O meu problema é com o açúcar.

Não gosto de sentir o gosto do açúcar quando como um doce. Açúcar é para temperar, para realçar o sabor, para dourar ou caramelizar. Com muito açúcar, tudo fica com o mesmo gosto. Pudim, arroz doce, doce de banana, tanto faz a receita, exagerou no açúcar, é só ele que você vai sentir.

Se alguma comida tem excesso de sal, as pessoas reclamam.
Se tem excesso de açúcar acham que ficou uma delícia!
Não ficou não, ficou horrível!

De que adianta ir a uma loja com 40 sabores de sucos se vai entupir o copo de açúcar? Tanto faz o sabor escolhido, nem vai sentir o sabor da fruta mesmo, só do açúcar. Um desperdício completo...

E cozinhar com açúcar? Um tormento!

Meus filhos eram pequenos e estavam brincando em casa com Diogo, o filho da vizinha.

Não me lembro mais como a história começou, mas de repente estávamos falando de pipoca doce.

Diogo disse que sabia fazer. “É fácil tia!”

Então tá, panela, milho, açúcar e vamos.

Ele ainda ficava recitando: “Diogo sabe, Diogo faz”, feliz da vida.

Sabia mesmo, fez mesmo e ficou ótima.

Mas a panela, que coisa...

Cinco dias de molho depois, eu ainda brigava pra tirar o açúcar grudado no fundo.

Deve ter uma ciência especial, um saber específico de como-limpar-panela-suja-de-açúcar, mas eu desconheço.

E virou uma questão de honra, eu ia limpar aquela panela de qualquer jeito!

Consegui, e qualquer receita que tenha “fazer uma calda de açúcar”, “caramelar a forma” ou qualquer coisa parecida, nem pensar!

Pode fazer aqui em casa, mas deixa tudo limpo depois, ou compra pronto, que nem suja nada, muito melhor.

Não gosto do sabor do açúcar, mas gosto de alguns doces.

O de banana, por exemplo, acho uma delícia.

Minha avó faz e fica ótimo.

Quando o doce fica vermelho, fica melhor ainda, e não tenho ideia do que faz a banana avermelhar em vez de escurecer.

Mas além de bonito, fica delicioso. Com um queijinho de Minas, é o paraíso...

Aí, chega o forno de micro-ondas.

Novo, enorme, com instruções e receitas super fáceis, descritas passo a passo.

Entre elas, doce de banana, tão fácil...

Num pirex uma camada de açúcar, uma de banana cortada em rodelas, açúcar, banana, açúcar, banana, intercalando sempre, terminando com açúcar.

Tempo e temperatura ajustados é só ligar e esperar pra ficar igual ao da foto, inclusive por que usei um pirex igual ao da foto. Simples mesmo.

O passo a passo devia incluir a limpeza do pirex depois, por que não dava pra botar aquilo na mesa, ou pelo menos ensinar como tirar dali sem sujar a cozinha toda.

Para minha surpresa o açúcar começou a borbulhar, bateu no teto, derramou, se espalhou.

Fiquei tão idiotizada olhando aquilo, que nem me ocorreu desligar o forno.

Um espetáculo de açúcar espirrando para todo lado.

Onde segurar para tirar dali antes que o açúcar endurecesse e a sobremesa virasse uma escultura?

Cola tudo na mão, pinga no chão, escorre, tem vida própria, uma melequeira.

O cheiro é ótimo, mas a banana murcha completamente, e um pirex inteiro, dá pra uma porção individual de doce.

Uma frustração completa...

Não tenho dúvidas, isso nada tem a ver com minhas habilidades, o problema é realmente do açúcar.

E do forno de micro-ondas, e da banana, e do pirex, e da qualidade de energia fornecida pela Ampla... por que é claro que isso tem uma explicação.

Eu só não sei qual é.

Publicado no Montbläat 109 de 23/9/2005

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