domingo, 27 de janeiro de 2013

Novas Terapeutas Ocupacionais

Érima de Andrade

Quando uma catedral medieval estava sendo construída, perguntaram a três operários que talhavam pedras: “O que vocês estão fazendo?”. O primeiro respondeu, mal-humorado: “Como você pode ver, estou talhando pedras”. O segundo:“Estou trabalhando para sustentar minha família”. Mas o terceiro disse:“Estou construindo uma grande catedral”. Todos eles estavam fazendo exatamente a mesma coisa, mas enquanto o primeiro tinha uma sensação de futilidade devido a natureza humilde e monótona do trabalho, o segundo encontrou nele um objetivo pessoal e o terceiro enxergou o objetivo maior de estar talhando pedras. Percebeu que, sem isso, a catedral não poderia ser construída e estava impregnado da alegria de participar desse objetivo tão expressivo.” Roberto Assagioli

Essa semana, eu tive a oportunidade de conversar com duas terapeutas ocupacionais
recém formadas, uma do interior de São Paulo, outra da capital.

Uma delas começou a atender idosos, e achou aí sua vocação. Trabalha em duas instituições, em tudo diferentes, com apenas um ponto em comum, o atendimento aos idosos.

A outra ainda está buscando a melhor maneira de juntar suas duas paixões: terapia ocupacional e animais. Está correndo atrás de especializações para usar os animais como co-terapeutas.

Ambas felizes com seus caminhos e descobertas.

Sempre me emociono com a variedade de caminhos possíveis da minha profissão. Em qualquer idade é possível mudar e aprender coisas novas, e esse aprendizado gera uma abertura do olhar, uma flexibilidade para com a vida, uma compreensão nova a respeito do mundo em que vivemos, que não tem preço que pague.

Já está comprovado que pessoas que ousam mais, apresentam mais resiliência, e elas, da maneira delas, estão ousando. Começaram sendo honestas consigo mesmas, com o que sentem, com o que acreditam, e com isso, levam aos seus clientes o melhor da terapia ocupacional. São otimistas com bases reais, sabem dos choros, das perdas, mas também dos ganhos, dos risos, da felicidade de acolher, integrar e flexibilizar no atendimento ao outro. Tudo o que é necessário para um trabalho intenso e transformador da qualidade de vida, num ambiente recuperador, que promove cidadania, e que traz autonomia e valor social ao cliente.

Em comum na conversa com as duas, questionamentos que eu já tive, como por exemplo, o que fazer com o material produzido nas sessões de terapia ocupacional? Clientes que podem passar parte do dia fazendo atividades que vão ajudar na sua socialização, no seu relacionamento com outras pessoas, na diminuição de suas ansiedades e na compreensão do seu tratamento, usam materiais em atividades lúdicas, educativas, artísticas, recreativas e de reabilitação profissional. A quem pertence esse material?

Não existe uma resposta única, e uma vez acordado com instituição, terapeuta e cliente o que fazer, todas as possibilidades de atividades de socialização, melhora do relacionamento
interpessoal e lazer, são válidas.

Todo o material a ser utilizado é fornecido pelo espaço onde acontecem as atividades socioterápicas e oficinas terapêuticas. Algumas instituições consideram que o material é de uso do cliente, mas pertence a ela, como o mobiliário. Por exemplo, as telas usadas por um cliente que já não frequenta mais o espaço, são pintadas de branco e disponibilizadas para o uso dos outros clientes.

Outras instituições consideram o material de uso do cliente, mas que pertence a ele, como um curativo. Como esparadrapos e gesso, que vai embora junto com o cliente, nesses casos também o material usado por ele, vai com ele.

Em outras o produto que surgiu como resultado final do uso dos materiais, pertencem tanto a instituição, quanto ao cliente. Nesse caso, o mais comum, é que o objeto passe por uma avaliação, ganhe um valor e seja comercializado, e o lucro dividido. Como por exemplo, os produtos feitos nas oficinas de produção de bandejas, panos de prato, bijuteria, carpintaria, costura, cerâmica, artesanato, etc.

Em outros casos, tudo que é produzido com argila, papel, lápis de cor, lápis para desenho, tintas, etc., vira material de estudo, e fica na instituição, ou consultório, mas com a opção, ou não, do cliente levar quando obtiver a alta do tratamento.

Não existe uma maneira certa e única de lidar com essa questão. Mas existe a maneira honesta, que é a de combinar previamente o que fazer.

Que todos os T.O.'s atuantes percebam que estão colaborando com uma linda construção.


2 comentários:

  1. Trabalho com Atendimento Domiciliar, e a maioria dos materiais produzidos durante as terapias acabam ficando nas casas dos pacientes - eles adoram, é claro, e acabam se tornando parte de seu cotidiano (exemplo: construção de calendário) e os estimulando, conforme a necessidade. Em oficinas, acho válido que realmente faça parte do local, como decoração, até para o paciente se sentir parte integrante daquilo. Ótimo blog, parabéns!

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