domingo, 18 de novembro de 2012

Símbolo

Érima de Andrade

Símbolo, do latim symbŏlum, é uma invenção humana, uma representação visível de uma ideia, e seu significado é convencional. Um símbolo pode representar alguma coisa sem ter qualquer semelhança ou relação com ela, é uma convenção social.

No livro escrito por Ítalo Calvino, As Cidades Invisíveis, ele escreve entre outros temas, sobre as cidades e seus símbolos. Em Tamara, um jarro representa a taberna, e uma balança, a quitanda. Na astrologia um jarro vertendo água representa o signo de aquário, e a balança o de libra...

Que símbolos são importantes para você?

"As cidades e os símbolos 1"  

Caminha-se por vários dias entre árvores e pedras. Raramente o olhar se fixa numa coisa, e, quando isso acontece, ela é reconhecida como símbolo de alguma outra coisa: a pegada na areia indica a passagem de um tigre; o pântano anuncia uma veia de água; a flor do hibisco, o fim do inverno. O resto é mudo e intercambiável – árvores e pedras são apenas aquilo que são.

Finalmente, a viagem conduz à cidade de Tamara. Penetra-se por ruas cheias de placas que pendem das paredes. Os olhos não veem coisas mas figuras de coisas que significam outras coisas: o torquês indica a casa do tira-dentes; o jarro, a taberna; as alabardas, o corpo da guarda; a balança, a quitanda. Estátuas e escudos reproduzem imagens de leões delfins torres estrelas: símbolo de que alguma coisa – sabe-se lá o quê – tem como símbolo um leão ou delfim ou torre ou estrela. Outros símbolos advertem aquilo que é proibido em algum lugar – entrar na viela com carroças, urinar atrás do quiosque, pescar com vara na ponte – e aquilo que é permitido – dar de beber às zebras, jogar bocha, incinerar o cadáver dos parentes. Na porta dos templos, veem-se as estátuas dos deuses, cada qual representado com seus atributos: a cornucópia, a ampulheta, a medusa, pelos quais os fiéis podem reconhecê-los e dirigir-lhes a oração adequada. Se um edifício não contém nenhuma insígnia ou figura, a sua forma e o lugar que ocupa na organização da cidade bastam para indicar a sua função: o palácio real, a prisão, a casa da moeda, a escola pitagórica, o bordel. Mesmo as mercadorias que os vendedores expõem em suas bancas valem não por si próprias mas como símbolos de outras coisas: a tira bordada para a testa significa elegância; a liteira dourada, poder; os volumes Averróis, sabedoria; a pulseira para o tornozelo, voluptuosidade. O olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas; a cidade diz tudo o que você deve pensar, faz você repetir o discurso, e enquanto você acredita estar vistando Tamara, não faz nada além de registrar os nomes com os quais ela define a si própria e todas as suas partes.

Como é mesmo a cidade sob esse carregado invólucro de símbolos, o que contém e o que esconde, ao sair de Tamara é impossível saber. Do lado de fora, a terra estende-se vazia até o horizonte, abre-se o céu onde correm as nuvens. Nas formas que o acaso e o vento dão às nuvens, o homem se propõe a reconhecer figuras: veleiro, mão, elefante...” Ítalo Calvino

"A memória é redundante: repete os símbolos para que a cidade comece a existir." Ítalo Calvino




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