Símbolo,
do latim symbŏlum, é uma invenção humana, uma
representação visível de uma ideia, e seu significado é
convencional. Um símbolo pode representar alguma coisa sem ter
qualquer semelhança ou relação com ela, é uma convenção social.
No
livro escrito por Ítalo Calvino, As Cidades Invisíveis, ele
escreve entre outros temas, sobre as cidades e seus símbolos. Em
Tamara, um jarro representa a taberna, e uma balança, a quitanda. Na
astrologia um jarro vertendo água representa o signo de aquário, e
a balança o de libra...
Que
símbolos são importantes para você?
"As
cidades e os símbolos 1"
“Caminha-se
por vários dias entre árvores e pedras. Raramente o olhar se fixa
numa coisa, e, quando isso acontece, ela é reconhecida como símbolo
de alguma outra coisa: a pegada na areia indica a passagem de um
tigre; o pântano anuncia uma veia de água; a flor do hibisco, o fim
do inverno. O resto é mudo e intercambiável – árvores e pedras
são apenas aquilo que são.
Finalmente,
a viagem conduz à cidade de Tamara. Penetra-se por ruas cheias de
placas que pendem das paredes. Os olhos não veem coisas mas figuras
de coisas que significam outras coisas: o torquês indica a casa do
tira-dentes; o jarro, a taberna; as alabardas, o corpo da guarda; a
balança, a quitanda. Estátuas e escudos reproduzem imagens de leões
delfins torres estrelas: símbolo de que alguma coisa – sabe-se lá
o quê – tem como símbolo um leão ou delfim ou torre ou estrela.
Outros símbolos advertem aquilo que é proibido em algum lugar –
entrar na viela com carroças, urinar atrás do quiosque, pescar com
vara na ponte – e aquilo que é permitido – dar de beber às
zebras, jogar bocha, incinerar o cadáver dos parentes. Na porta dos
templos, veem-se as estátuas dos deuses, cada qual representado com
seus atributos: a cornucópia, a ampulheta, a medusa, pelos quais os
fiéis podem reconhecê-los e dirigir-lhes a oração adequada. Se um
edifício não contém nenhuma insígnia ou figura, a sua forma e o
lugar que ocupa na organização da cidade bastam para indicar a sua
função: o palácio real, a prisão, a casa da moeda, a escola
pitagórica, o bordel. Mesmo as mercadorias que os vendedores expõem
em suas bancas valem não por si próprias mas como símbolos de
outras coisas: a tira bordada para a testa significa elegância; a
liteira dourada, poder; os volumes Averróis, sabedoria; a pulseira
para o tornozelo, voluptuosidade. O olhar percorre as ruas como se
fossem páginas escritas; a cidade diz tudo o que você deve pensar,
faz você repetir o discurso, e enquanto você acredita estar
vistando Tamara, não faz nada além de registrar os nomes com os
quais ela define a si própria e todas as suas partes.
Como
é mesmo a cidade sob esse carregado invólucro de símbolos, o que
contém e o que esconde, ao sair de Tamara é impossível saber. Do
lado de fora, a terra estende-se vazia até o horizonte, abre-se o
céu onde correm as nuvens. Nas formas que o acaso e o vento dão às
nuvens, o homem se propõe a reconhecer figuras: veleiro, mão,
elefante...” Ítalo Calvino
"A memória é redundante: repete os símbolos para que a cidade comece a existir." Ítalo Calvino
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