Numa das histórias do livro Histórias
que Curam escrito por Rachel Naomi Remen, ela fala sobre
santuário.
Ela começa falando desse espaço interno
observado nos animais. Conta que seu gato Charles, de 18 anos, tem
muitos esconderijos, e quando está num deles acontece uma mudança
sutil: ele deixa de ficar vigilante e cauteloso, parecendo em paz e
sem medo.
Mas tem um lugar, bem à vista de todos,
que Charles também se envolve na costumeira inviolabilidade de todos
os esconderijos. Totalmente visível, num ponto do tapete da sala,
não importa o que aconteça ao redor, ele se mantém calmo e
descontraído. Nesse lugar, ele se sente totalmente a salvo.
Meus gatos, Jotinha e Willy, também
tinham um santuário, na cozinha, bem à vista. Brincávamos dizendo
que eles pensavam que estavam escondidos, tal a mudança de atitude
que esse lugar provocava.
Rachel continua contando que leu num
livro sobre touradas na Espanha, que há um lugar na arena onde o
touro se sente em total segurança. Se ele consegue alcançar esse
lugar, para de correr, não sente mais medo e pode recuperar
totalmente suas forças. Como esse lugar difere de touro para touro,
cabe ao toureiro, estar ciente disso, e evitar que o touro ocupe
esse espaço de integridade, que eles chamam de querencia.
Ela explica,“para os humanos, a
querencia é um lugar em nosso mundo interior. Com frequência, é um
lugar que não foi notado antes de um momento de crise. Às vezes é
um ponto de vista, uma posição a partir da qual se conduz a vida,
diferente para cada pessoa. Muitas vezes, é simplesmente um lugar de
profundo silêncio interior.” Rachel Naomi Remen
E
continua, “trabalhando com pessoas com câncer, tenho
visto a mudança que ocorre quando a pessoa encontra sua querencia.
Bem à vista do matador, elas se mantêm calmas e serenas. Sábias.
Reuniram suas forças ao seu redor. O silêncio é mais seguro do que
qualquer esconderijo.”
Rachel chama esse espaço de santuário
e conta que uma das meditações que faz com seus clientes, começa
com a sugestão “encontre um lugar seguro”.
Ela transcreve a vivência de um dos
clientes: “eu nunca iniciava o exercício porque não conseguia
encontrar um lugar seguro para começar. Procurava por toda parte. Eu
me imaginava em minha casa. Imaginava-me pescando trutas.
Imaginava-me à mesa do escritório em minha empresa ou na cabeceira
da mesa na sala da diretoria. Nada ajudava. No meio disso, percebi
que esse tipo de busca era familiar; venho me empenhando nela toda a
minha vida. Comecei a ficar desesperado. No fim, eu me imaginei como
um menininho no colo da minha mãe.
Está última me ajudou. Pouco a
pouco, comecei a me sentir mais calmo, a serenar por dentro, e quando
por fim me senti seguro, subitamente, me dei conta de que os braços
a minha volta não eram os da minha mãe, mas os meus. O lugar seguro
é dentro de mim. Não fora, onde o tenho procurado a vida inteira.
Todos aqueles esconderijos, todas aquelas realizações estão
dentro de mim. Por isso é que nunca o tinha encontrado antes.”
Santuário, onde o silêncio está sempre
ali, imutável, ligado ao silêncio de toda a parte.
Que você encontre o seu santuário.
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