domingo, 27 de novembro de 2011

Lidando com a raiva

Érima de Andrade

Um estudo que será publicado na revista Psychological Science, mostra que imaginar que o outro teve um dia ruim torna mais fácil lidar com reações agressivas e raivosas.

Buscar dentro de si mesmo um novo modo de olhar para uma pessoa que está com raiva é uma estratégia bastante conhecida. Imaginar que ela está apenas tendo um mau dia e que essa brabeza não tem nada a ver com você ajuda a baixar os ânimos e a evitar conflitos. 

O que a pesquisa da Universidade de Stanford tenta examinar é a velocidade e a eficiência desse processo de reavaliação das emoções do outro.

Para essa pesquisa foram feitos dois experimentos. No primeiro um grupo de participantes foi exposto a uma imagem mostrando um rosto raivoso. A emoção que a foto despertava foi de aborrecimento.

Esse grupo foi posteriormente dividido em dois. Um dos grupos não recebeu nenhuma orientação, e ao ver a imagem pela segunda vez, não manifestou nenhuma mudança em relação à sua percepção original.

O segundo grupo foi convidado a considerar que a pessoa da foto tinha tido um dia ruim. Depois olhavam novamente a imagem e o impacto foi significativamente menor.


No segundo experimento, os pesquisadores monitoraram a atividade cerebral dos participantes. Eles descobriram que o esforço de reavaliar a emoção do outro eliminava os sinais elétricos relacionados às emoções negativas comumente associadas a expressões de aborrecimento.

Jens Blechert, um dos pesquisadores, explica que “pode-se encarar isso como uma espécie de corrida dentro do cérebro entre a informação da emoção inicial e a informação reavaliada. O processamento das emoções acontece de trás para frente no cérebro. A reavaliação é gerada na parte da frente do cérebro e se move até a parte de trás, modificando o processamento da emoção.”

E ele continua, “se você exercitar essa reavaliação, lidar com o seu chefe que está sempre de mau-humor será muito mais fácil e você pode até se preparar com antecedência para determinadas situações. Ele pode gritar e berrar e xingar mas nada disse terá efeito sobre você.”

A pesquisa comprovou que o esforço de reavaliar a emoção do outro é efetivo, e realmente torna mais fácil lidar com as reações agressivas.

E se o raivoso for você? Nesse caso, aprender a rir de si mesmo é essencial. É possível reinterpretar a realidade e nos reinventar.

Monica Portella explica que “geralmente, quando a pessoa consegue encarar com bom humor alguma característica ou condição que antes era encarada como um problema, mostra que ela aceitou e está de bem com o que já foi capaz de causar sofrimento em algum momento de sua vida.”

Uma visão positiva dos acontecimentos torna mais fácil focar nos talentos ao invés dos defeitos. Oswaldo Ferreira Leite Netto explica que “a vida oscila entre identificar capacidades e limites. Esse processo é ininterrupto porque nossas habilidades mudam conforme as fases que passamos. Eu insisto que o ser humano tem uma plasticidade enorme de personalidade. Algumas coisas não conseguimos alterar. Outras são passíveis de mudança, sim.”

A vida não é estática, “precisamos conhecer e lapidar nossos traços fortes no lugar de tentar ser quem não podemos ser”, afirma Monica Portella.

Essa conversa me fez lembrar o inicio da Oração da Serenidade:

“Concede-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir uma da outra – vivendo um dia de cada vez, desfrutando um momento de cada vez, aceitando as dificuldades como um caminho para alcançar a paz.”

Que a sua raiva possa ser transformada.

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