domingo, 22 de outubro de 2017

Saudade, Falta, Nostalgia

Érima de Andrade

Temos na língua portuguesa uma riqueza de vocabulário tão grande, que podemos expressar com clareza o que estamos sentindo. E, por conta disso, quando algo ou alguém está longe, podemos usar saudade, falta ou nostalgia.
Três palavras que representam três sentimentos diferentes.

Saudade é uma palavra que só existe em português, e no dicionário é definida como sendo uma recordação ao mesmo tempo triste e suave de pessoas, ou coisas, distantes, ou extintas, acompanhadas do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las.” Sentir saudade é mais que lembrar e recordar, é “um pesar pela ausência de alguém que nos é querido, uma lembrança nostálgica e ao mesmo tempo suave”.

Mesmo que na definição você possa achar que nostalgia e saudade são a mesma coisa, elas não são. Nostalgia é saudade do que você não viveu. E não viveu porque foi extinto, ou porque está distante de você.

Por exemplo, uma relação que acabou definitivamente. Pode acontecer de você ver alguma coisa que gostaria que essa pessoa estivesse vendo com você. Vocês quando estavam juntos nunca viram isso, não viveram essa experiência. Mesmo assim, lhe deu vontade de dividir essa experiência com esse alguém que lhe deixou. Nesse caso, não é saudade, é nostalgia, saudade de algo que você não viveu.

Ou você que nasceu nos anos 2000, mas é apaixonado por uma época anterior ao seu nascimento. Chega a ter “saudades” dessa época. Pois é, você está nostálgico, está tendo saudades de coisas que não viveu. Pode inclusive estar sofrendo de melancolia causada por essa impossibilidade de viver o passado. E nostalgia não é saudade.

Saudade fala do amor.
Você só sente saudade de alguém, ou de algo, que você amou. A saudade vem junto com a vontade de reviver experiências, situações ou momentos já passados, e tenho certeza que ninguém vai querer reviver algo que não amava. A gente sente saudade de gostos, momentos, sons, pessoas, histórias, de tudo podemos ter saudade. Mas se algo ou alguém marcou a sua vida sem despertar o seu amor, quando está ausente você sente falta, e isso não é saudade.

É claro que a gente sente falta de quem ama, e dói muito quando acontece. A gente sente falta do cheiro, da voz, e até do som do caminhar. Sentir falta é quando dói dor física. Quando o coração fica apertado. Quando falta a razão. Sentir falta é voltar a se encontrar com o vazio que uma partida nos deixou, e isso dói muito.

Mas também a gente sente falta de vagalumes que víamos sempre e não vemos mais; falta de um chaveiro que pesava na bolsa e que agora não é mais necessário; falta de um monte de coisas que em algum momento fizeram parte da nossa vida e nem por isso gostávamos. Mas saudades só sentimos de algo ou alguém que amamos.

Ana Paula Ramos foi muito feliz quando falou de saudade. Disse ela: “essa lembrança se constitui de todas as cores, sabores, emoções, ruídos e cheiros do invisível. Da memória do que foi vivido. Da memória do que se perdeu. Do que se construiu, do que se modificou, do que se aprendeu, do que se sentiu, de todas aquelas pequenas grandes coisas da vida emolduradas na boniteza e na eternidade das nossas rotinas, de como o tempo se eternizou dentro da gente, às vezes num único instante. O poder do invisível, de tudo o que não está ali, palpável, ao alcance dos olhos do corpo, mas que se materializa dentro da gente quando se encontra com alguma experiência que a gente viveu.”

Saudades resgatam boas lembranças de momentos vividos. Renovam na alma da gente memórias que não envelhecem, memórias de um tempo que não se perde, nem se deteriora com o passar dos anos. É a saudade que você leva para sempre que faz lembrar que os momentos bons não se apagam com o tempo.

Saudade fala do que não morre, do que ninguém pode tirar de você. A saudade provoca lembranças que confortam quando a ausência se faz sentir. Por isso a definição diz que é um sentimento suave, é um sentimento que nos conforta.

A gente vê partir a pessoa, mas nunca verá partir o amor. Saudade é o amor que fica confirmando que nada do que você viveu se perdeu, foi transformado e continua dentro de você.

Se você sente saudade, é amor. Se sente falta pode ser hábito. Se nunca sentiu saudade, nem falta, hum… você está mesmo vivo?

Que você se permita sentir e ter saudade. 

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