domingo, 8 de janeiro de 2017

Sendo uma fraude

Érima de Andrade

Você conhece alguém que se mostra sempre feliz, sempre bem resolvido, sempre adequado nas suas tarefas? E esse alguém vive algum desconforto quando recebe um elogio? Do tipo “se me conhecesse de verdade não diria isso de mim”?

É dessa fraude que estou falando no post de hoje.
Tentar agradar a todos é uma estratégia antiga para se sentir aceito, amado e pertencendo. Mas cobra um preço alto demais. Será que vale mesmo a pena tentar ser quem você imagina que se sairia melhor nos relacionamentos? Se você não consegue ser você, você consegue confiar que se relaciona com alguém que está sendo autêntico?

Olha que ciclo vicioso, de pior para pior ainda, a pessoa se mete quando tenta agradar todo mundo. Um desgaste emocional sem tamanho... vale a pena?

Talvez tenha acontecido assim com você, ou com alguém que você conhece, um dia acordou triste e não quis preocupar ninguém. Se sentiu vitorioso com a estratégia, ninguém notou. Chegou a comemorar um pouco. Achou que seria um bom caminho e passou a “estar sempre bem” e a fazer a “coisa certa”. Ou seja, a agir da maneira que você acha que agrada mais aos outros, da maneira que você imagina que os outros acham que é o certo a fazer. Hum... armadilha à vista.

Disfarça uma coisinha aqui, evita uma outra ali, e você chega ao ponto de não tomar mais consciência no que, de fato, você está sentindo. E se não sabe o que sente, não pode agir de acordo. Simples assim.

Como você não tem mais como acessar esse mal-estar inicial, ele está super bem escondido, você nem lembra onde tudo começou, a tendência é fermentar e crescer cada vez mais. Para dar conta desse crescimento, você vai criando mais e mais barreiras tentando calar as emoções rejeitadas, que agora já são muitas, pois algo em você já tem certeza que elas não são adequadas.

E você se torna aquele que vive fingindo para ver se a alma se adapta. Sua alegria não tem mais brilho, sua tristeza você não percebe, e todas as suas forças estão voltadas para enganar a sua própria consciência. E nesse ponto chega alguém e lhe elogia. Você pensa: se soubesse mesmo como eu sou...

Inevitável não se sentir uma fraude. Você sabe que não é como aparenta, mas também sabe que não sabe mais como você de fato é.

A saída dessa armadilha é cultivar seu amor–próprio, gostar de você, se respeitar. Só dá para amar o que você aceita, só dá para aceitar o que você conhece. Sim, a saída é mesmo o autoconhecimento. E pode começar com a auto-observação, com a intenção de tomar contato com o que sente, desde o momento que se prepara para levantar e começar o dia. É esse diálogo interior que precisa ser estimulado. É daí que vai surgir o verdadeiro você.

E nesse caminho, você precisa abrir mão de crenças e preconceitos do tipo: se eu não agir assim, ninguém vai me amar; se eu mostrar o que sinto, serei abandonado; se eu não for perfeito não poderei fazer parte. E todos os outros nessa sintonia. Abrir mão dos preconceitos e crenças significa olhar sem distorções o que lhe acontece a cada momento. 


Comece ficando um pouco em silêncio, fazendo contato com emoções e pensamentos. Se percebendo, se respeitando, você será capaz de, aos poucos, expandir o exercício para todos os momentos do seu dia. A única maneira de se sentir bem, é respeitando o que você sente, sem fingir, sem fugir, estando ou não triste, mal-humorado, ou com qualquer outro mal-estar.

Para lhe ajudar, saiba que você é mais perfeito sendo do que tentando ser. E que mostrar o que sente lhe torna humano. Mas, é um fato, ninguém vai estar ao seu lado se usar o que sente para agredir os que estão por perto. Sentir nunca foi o problema, o que você faz com o que sente é que aproxima ou afasta as pessoas.

Tentar ser uma manga a vida toda, vai esconder todas as qualidades da maçã que você nasceu para ser. Faça o que você sabe, aja como acreditar ser a melhor maneira, assuma o que está sentindo. Ninguém espera de você algo que você não é.

Ah, e também você não precisa guardar isso para você. Mesmo antes de optar por uma terapia, ou um curso de autoconhecimento, você tem amigos e pode contar com eles.

Tem uma campanha muito boa acontecendo no Facebook, #janeirobranco de cuidados com a saúde mental, que tem a intenção de lhe lembrar que você não está só.

“Minha porta está sempre aberta a qualquer um dos meus amigos que precisem conversar. Sofrer em silêncio não é nenhuma demonstração de força. Eu tenho um vinho na geladeira... se não quiser vinho, tem um chá gelado (e café) ... tem suco de uva... tem uma comidinha caseira que vai ficar pronta logo (ou eu peço), logo na panela também. Tem alguns instrumentos musicais para quem quiser fazer barulho (por ora o violão tá no conserto), tem sempre um bom papo para conversar ou pode ter um livro que há tempos você pensava em ler. Se quiser, pode só ficar em silêncio também e sempre posso emprestar um ouvido amigo.
Vocês são sempre bem-vindos!!
Ah, pode ser por Skype também.
Será que algum amigo poderia copiar e re-postar? (não compartilhar). Estou tentando demonstrar que sempre haverá alguém para ouvi-lo.
#ConsciênciaDoSuicídio
#JaneiroBranco


E vale também o conselho da querida Paula Regina Del Cantão: “Não é possível fazer ou mudar tudo de uma vez,... então,... para não pirar,... vamos lembrar que PEQUENAS e CUIDADOSAS ESCOLHAS que fazemos todos os dias nos transformam na MELHOR VERSÃO DE NÓS MESMOS!!!”

É isso. E se precisar, eu estou aqui.

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