domingo, 3 de agosto de 2014

Atrasos

Érima de Andrade

De modo geral, tentamos tornar a nossa vida planejada. Tentamos controlar todos os fatos e acontecimentos. Tentamos não ter imprevistos. Planejamos a agenda do dia milimétricamente, para ser eficiente, para não ter desperdício, para nada dar errado.

Também fazemos um planejamento milimétrico mensal, semestral, anual. Algumas pessoas começam janeiro sabendo os compromissos que terão em dezembro. O ano mal começa e para essas pessoas, já está tudo planejado.

Mas nem tudo está nas nossas mãos. Quando, por exemplo, você marca uma consulta com um médico, no horário ideal para você, chega na hora certa e descobre que ele teve um atendimento de emergência, e todas as consultas vão atrasar uma hora e meia. O que fazer?

Ou pode acontecer daquele tratamento de 28 dias, atrasar por que a máquina quebrou. Ou também, você sai de casa com tempo suficiente para honrar um compromisso e fica presa no trânsito, por que houve um acidente e é preciso esperar que os veículos envolvidos sejam retirados. Como lidar com esses atrasos?

Em primeiríssimo lugar, é preciso reconhecer que nada disso é pessoal. A máquina não quebrou para implicar com você, o médico não atrasou para lhe dar uma lição, a moto não se jogou na frente do ônibus para lhe atrapalhar. A sua agenda precisa ser modificada, e isso não é culpa sua. Ponto.

Reconhecido o atraso, como você vai lidar com ele? Você pode ficar irritada, reclamar, chorar, espernear e, no máximo, você vai se sentir mais leve. Pode ser bom também. Afinal o sentimento de impotência é muito dolorido, e chorar pode ajudar. Mas lembre-se, por mais que você tenha ficado irritada com a situação, você não tem o direito de ser violenta com ninguém. Violência não leva a nada, e eleger alguém para ser o alvo da sua frustração não vai lhe ajudar a resolver o problema.

Consciente do problema encare-o de frente. O que você pode modificar dessa situação? O que está em suas mãos resolver? Assuma responsabilidade sobre o que está acontecendo e aja. Olhe sua agenda, modifique o que pode ser modificado, desmarque o que não vai mais dar tempo de fazer, avise quem precisa ser avisado. Pronto, você fez o que podia ser feito.

Tudo resolvido e você descobre que tem ainda um tempo livre antes do seu compromisso. Que tal usar esse tempo para se sentir melhor? Há quanto tempo você não repara na sua respiração? Há quanto tempo você respira assim, curto, rápido, ansiosa? Há quanto tempo você não dá um profundo e delicioso suspiro?

Nós prendemos a respiração, sem perceber, em momentos de sustos ou medo, ficamos sem ar diante de uma notícia grave, esquecemos de respirar quando nos preocupamos com alguma coisa. E senão combatemos o estresse, nossa respiração vai ficando cada vez mais curta, rápida e incompleta como se estivéssemos sempre assustados.

Mas isso tem solução, e um modo de recuperar o equilíbrio, seja na sala de espera de um consultório, seja num engarrafamento, é prestar atenção à respiração e fazê-la lenta, longa e profunda. É de graça, depende apenas de você, e não requer prática nem habilidade. Na respiração lenta, suave, profunda, o ar chega até o fundo dos pulmões e beneficia os órgãos internos com sua massagem. O coração, que não pode ser controlado diretamente, obedece à respiração e se beneficia quando ela é tranquila. O corpo todo relaxa. Nada mais simples e nada mais monótono: inspira, expira, inspira, expira...

Pode parecer um tédio, mas não é. Você pode observar a passagem do ar pelas narinas, o modo como o ar enche o peito, a barriga, e depois esvazia. Pode se fixar nas sensações que a respiração profunda e lenta causam a você, uma leveza no corpo, uma clareza no raciocínio. E de repente respirar se torna um prazer. Observar a respiração é uma forma pessoal de meditação que pode acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar.


Vamos experimentar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vou ficar feliz com seu comentário. É muito bem vindo!