Érima de Andrade
Costumo dizer que a gente sofre por falhas na comunicação. A gente sente e pensa uma coisa, e faz e fala outra, imaginando que o outro prefere assim.
Costumo dizer que a gente sofre por falhas na comunicação. A gente sente e pensa uma coisa, e faz e fala outra, imaginando que o outro prefere assim.
E de tanto tentar a “resposta certa”, para o outro, deixamos de viver o momento, nos afastamos de quem somos, engolimos todo tipo de sapo e construímos todas as barreiras possíveis para não dar ao outro a possibilidade nos conhecer. Deixamos de ser quem somos para tentarmos ser o que imaginamos que o outro espera da gente.
Perdemos a facilidade de interagir com nossos pensamentos e sentimentos mais profundos, de onde viriam, com certeza, nossas melhores respostas a cada situação. Criamos a nossa Torre de Babel particular onde ninguém se entende, e nem fala a mesma língua... “confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros.”( Gênesis 11:7)
Li há alguns anos, na revista Seleções, uma história que ilustra bem o tipo de encrenca que a gente se mete ao tentar agradar o outro ignorando o que sentimos, pensamos e fazemos.
Era a história de um casal de namorados que decidiu comunicar à família que iam se casar. A família dela morava em outro estado e eles aproveitaram um feriado para a viagem de conhecer-os-futuros-sogros. Família comunicada da chegada deles, tudo carinhosamente preparado para que os dois se sentissem bem. A futura sogra caprichou no jantar, e o bolo de carne, receita de família, foi o prato principal.
Ele detesta bolo de carne. Ela não sabe. Ele não conta. Come, elogia e repete, pois considera que seria uma indelicadeza com a sogra se fizesse diferente. A sogra ficou radiante por ter acertado logo da primeira vez um prato que ele gostasse tanto.
Casaram. Vinte anos depois ela ainda faz o mesmo bolo de carne para agradar o genro. Mesmo que ele não seja mais o prato principal, mas não custa nada, fazer um bolinho para o caso do genro não gostar muito dos outros pratos do cardápio. E o genro se sente obrigado a comer, às vezes nem ao menos experimenta as outras opções.
O genro sofre cada vez que tem que ir à casa dos sogros. A sogra se vangloria de cozinhar um prato que o genro tanto gosta.
Até que um dia, não suportando mais, o genro conta a verdade. A sogra ficou tão magoada com ele que levou algum tempo para que se falassem de novo. Uma exímia cozinheira. Em vinte anos de convivência podia ter descoberto um prato que ele verdadeiramente gostasse, mas ele não lhe deu essa oportunidade. Ela achando que o agradava, e ele cada vez mais insatisfeito...
Que falta fez nessa relação uma boa conversa.
Será que valeu a pena?
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