domingo, 19 de março de 2017

Falemos de Depressão.

Érima de Andrade

Sim, é preciso falar de depressão muitas e muitas vezes,
para acabar com essa falta de informação que faz com que deprimidos tenham que explicar, sem sucesso, que não lhes falta vontade, eles simplesmente não conseguem fazer.

Mais e mais pesquisas mostram porque deprimidos não conseguem reagir e acabar com esse estado permanente de desinteresse pela vida:
sofrem de uma doença, depressão, que se caracteriza por desequilíbrios químicos dos neurotransmissores.

Deixando mais claro ainda: depressão não é um estado de ânimo de uma personalidade fraca, ou preguiçosa. Depressão é uma doença, provocada por fatores que podem causar problemas na função cerebral, entre eles a atividade anormal de alguns circuitos neurais.

Especificamente, na depressão, ocorre um desequilíbrio entre as substâncias cerebrais que mediam o humor e as emoções. Os neurotransmissores responsáveis por transportar as informações relacionadas à sensação de prazer, serenidade, disposição e bem-estar, estão em desequilíbrio.

E esse desequilíbrio, pode desencadear um série de respostas fisiológicas, que levam aos sintomas mais comuns da depressão, tristeza, apatia, falta de motivação, melancolia, irritação, dificuldade de concentração, pessimismo, culpa, desespero, insegurança, entre outros, e que podem vir combinados entre si.

Portanto, dizer a um deprimido que ele precisa se distrair, tomar vitaminas, e se esforçar, só aumenta a angustia de quem quer, e muito, ir viver a vida, mas não consegue.

Os fatores psicológicos e sociais que afetam os deprimidos, muitas vezes são consequência, e não a causa da depressão, como normalmente se pensa. A sensação persistente de tristeza, ou perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas, pode levar a sintomas físicos e comportamentais como alterações no sono, no apetite, no nível de energia, na concentração e na autoestima.

Pesquisas confirmam que a depressão é uma combinação de sintomas biológicos, psicológicos e sociais. O estresse é um dos gatilhos para desencadear a depressão. O sofrimento com perdas também é. Depressão é sim uma questão fisiológica, uma doença, que precisa ser diagnosticada e tratada.

Preconceito e desinformação tornam a vida dos deprimidos muito mais difícil. Depressão, repito, é doença, e não falta de vontade, nem de caráter e nem fraqueza. A boa notícia é que tem tratamento.

É preciso acompanhamento médico, tanto para o diagnóstico, quanto para o tratamento. A base geral do tratamento inclui medicamentos, psicoterapia ou os dois. Os medicamentos corrigem o desequilíbrio neural, e a psicoterapia atua nas questões emocionais envolvidas.

Vários medicamentos podem ser usados na depressão, mas eles não curam a doença, eles amenizam os sintomas. Para ajudar a evitar as recorrências, é importante combinar medicamento com psicoterapia. Medicamentos e psicoterapia não são opostos, são complementares.

Na psicoterapia o paciente aumenta sua compreensão do processo de depressão, aprende a identificar e modificar crenças e comportamentos disfuncionais, descobre novas formas de resolução de conflitos, o que pode, e pede, para ser deixado para trás, e o que deve ser nutrido, tem a oportunidade de ressignificar a sua história, de receber auxilio para a retomada das suas atividades e da sua reintegração social.

Psicoterapeutas não fazem milagres, e as mudanças não são rápidas, nem automáticas. Não é mágica, mas progressivamente, o paciente vai ficando mais seguro das suas escolhas, e suas mudanças se tornam mais sólidas, diminuindo assim, a probabilidade de recaídas.

A construção de uma aliança terapêutica possibilita olhar as dificuldades com a profundidade necessária para que as transformações aconteçam. Com sabedoria e compaixão, é possível perceber que a tristeza, mesmo profunda, é passageira. Estamos num processo contínuo de transformação. E podemos nos tornar a transformação que queremos no mundo: menos tristeza, mais alegria.

A Organização Mundial da Saúde, numa tentativa de diminuir a desinformação, criou um vídeo chamado “Eu tinha um cachorro preto, seu nome era depressão”. Essa historinha, tem a intenção de ajudar pessoas a entender um pouco mais sobre essa doença. Informação salva vidas, compartilhe.


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