Érima de Andrade
Eu sei, mas não devia, texto de Marina Colasanti, começa com a frase:
Eu sei, mas não devia, texto de Marina Colasanti, começa com a frase:
“Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.”
E ao longo do texto ela vai dando exemplos do que não devíamos nos acostumar:
“A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. (...) E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.”
“A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.”
“A gente se acostuma à poluição. (...) Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.”
“A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.”
“A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.”
Mas a gente também se acostuma aos novos hábitos saudáveis que introduzimos na nossa rotina, se acostuma a se cuidar, se acostuma a se auto-observar, se acostuma a escolher a comida gostosa e saudável, se acostuma a ser gentil, a gente se acostuma a tanta coisa! Boas e ruins!
Eu por exemplo, me acostumei com a água. Me acostumei a beber dois copos d’água em jejum, a beber água várias vezes ao longo do dia, a andar sempre com minha garrafinha de água a tiracolo.
Me acostumei também a descer a escada aqui de casa com meu gato passando pelas minhas pernas, me acostumei a ouvir os pássaros no por do sol, me acostumei a caminhar todos os dias, me acostumei a meditar, a reciclar meus sentimentos, a reciclar meu lixo, a reciclar as coisas que acontecem comigo e que só a mim cabe decidir como reagir.
Gosto de conviver comigo. Me acostumei. Gosto de ter me acostumado com muita coisa.
E você, com o que você se acostumou?
Eu me acostumei a ser bem-humorada. Sempre tive fama de mau-humorada, na minha família, na minha escola. E depois de um tempo resolvi me acostumar com o contrário. Hoje em dia sou daquelas bem-humoradas crônicas, que por vezes até irrita. Tenho meus dias de mau-humor e desalento, mas com esses eu não me acostumo mesmo, e volto logo ao meu normal, com o sorriso de ponta a ponta!
ResponderExcluirMuito bom! O bom humor vai salvar o mundo!
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