domingo, 10 de setembro de 2017

Usando caixas terapeuticamente

Érima de Andrade

Existem várias dinâmicas que usam caixas, e claro, não conheço todas. Mas hoje vou falar de três opções de caixas que gosto muito: caixa de coisas para Deus resolver; caixa da raiva; caixa de elogios.

A Caixa de Coisas Para Deus Resolver tem a função de evitar que sua energia se gaste em situações que você não pode resolver. Essa caixa só funciona se você escolher, de fato, entregar o problema nas mãos de Deus.

Escolha uma caixa que lhe agrade, você pode decorá-la ou não, mas é uma boa dica escrever no tampo “CPDR” - Coisas Para Deus Resolver. Isso ajuda na sua intenção de entregar a Deus a solução do problema. Tudo o que lhe preocupa, mas que não está nas suas mãos resolver, escreva, coloque na caixa e entregue.

Essa prática, quando bem-feita, acalma. Em especial se você entregar o problema sabendo que no tempo Deus, todas as situações serão resolvidas. É a sua confiança na solução que faz a entrega ser bem-feita. Algumas vezes, essa entrega é suficiente para deixar sua mente tranquila e clara, propiciando o surgimento de insights sobre soluções de situações, que a princípio, pareciam muito complicadas. Se você vive se preocupando com problemas que não está nas suas mãos resolver, essa caixa é para você.

Ou você cria sua própria maneira de fazer essa entrega. Uma amiga querida, tem a maneira própria de entregar à forças superiores, soluções de problemas que ela não pode resolver. Quando soube do meu câncer, me ligou dizendo que escreveu minha história e meu nome num papelzinho, e o “entregou” ao seu santo de devoção. Nesse caso, ela colocou o papel debaixo da imagem que tem dele. Me disse que tudo ficaria bem, porque nada do que ela colocou nas mãos do santo, ele deixou de cuidar.

Foi tão legal esse telefonema! Me senti acarinhada. Se eu tivesse dúvidas de que meu tratamento seria o sucesso que foi, minhas dúvidas teriam acabado nessa conversa com ela. A fé e a entrega dela, ao seu santo de devoção, foram absolutamente nutridoras para mim. Obrigada Sílvia!

A Caixa da Raiva tem o objetivo de ajudar a lidar com emoções fortes como raiva e ira. É uma ideia da psicóloga Marina Martín, para ensinar crianças a controlar emoções e sentimentos. É uma ideia genial, mas todo terapeuta ocupacional sabe o valor da atividade expressiva, e sabe que essa caixa pode, e deve, ser usada em qualquer faixa etária.

Um pouquinho de teoria: o nosso mundo interno é povoado por medos, desejos, expectativas, aspirações, e por toda espécie de sentimentos, e prioridades interiores, que se tornam visíveis através das atividades expressivas. Toda criação espontânea é um meio de liberação dessa energia. Não dá para desprezar esse recurso apenas por não ser mais criança.

Diz Lisete Ribeiro Vaz: “A expressão espontânea é o núcleo da Terapia Ocupacional e através dela, a Terapia Ocupacional se distingue das demais áreas de tratamento e abordagem do ser humano.” Pois é, a gente trabalha com atividade expressiva nos atendimentos. O genial dessa caixa criada por Marina é ter em suas mãos, em casa, uma maneira de lidar com suas emoções, seja você criança ou adulto.

A ideia da Caixa da Raiva nasceu da leitura do conto “Vaya Rabieta” de Mireille d´Allancé. Nela a raiva é ilustrada como um grande monstro que sai do personagem principal. Esse monstro o domina, e pode fazer o que quiser com ele, sem nenhum controle.

É por isso que o grande monstro destrói tudo o que encontra: cama, livros, brinquedos. Quando o menino percebe o que fez, tenta reparar o que a raiva havia destruído. Enquanto arrumava e colocava tudo no lugar, a raiva foi ficando cada vez menor. Ficou tão pequena que coube numa caixa.

A partir disso, Marina propõe cada vez que sinta raiva ou ira, você desenhe em um papel tudo o que está sentido. Essa é a maneira de mandar para fora tudo o que está lhe fazendo mal.

Certamente, os desenhos trarão traços fortes, marcados pela impulsividade e pelo desequilíbrio vivenciado quando essas emoções dominam você. A medida que descarrega essa energia no papel, os traços vão se tornando mais claros. E você se dá conta de que está se acalmando. Não tente compreender essas imagens. Apenas sinta. É uma energia que não lhe serve mais. Amasse o papel e coloque-o na sua Caixa da Raiva, uma maneira de afirmar que ela está sob o seu controle. Só sairá se você quiser.

Aprendendo com Carl Gustav Jung: “Basta que o paciente perceba que, por diversas vezes, o fato de desenhar o liberta de um estado psíquico deplorável, para que ele lance mão deste recurso cada vez que seu estado piora. O valor desta descoberta é inestimável, pois é o primeiro passo para a independência, a passagem para o estado psicológico adulto”. E vale para todas as pessoas, em tratamento ou não. Quando perceber que desenhar seus sentimentos ajuda a controlá-los, você vai usar, sempre que possível, esse recurso.

Tão difícil quanto lidar com a raiva é, para algumas pessoas, receber elogios. Também é difícil para muita gente fazer elogios, uma vez que cresceu aprendendo a focar no erro. A Caixa de Elogios, ou Caixa do Anjo da Guarda, é ótima para grupos, familiares ou de trabalho. Os objetivos são reforçar a autoestima, aumentar laços afetivos e o entrosamento. Vale dar um prazo para essa prática, entre três e seis meses.

Primeiro passo é separar uma caixa para essa atividade. Você pode reaproveitar qualquer caixa, desde que a torne atraente com colagens, desenhos, etc. Convite todo o grupo para decorar a caixa que será usada. Faça uma abertura para a entrada dos bilhetinhos.

O início é similar a um amigo-oculto. O nome de todos já está em papéis dobrados, dentro da caixa. Cada um sorteia o seu protegido. Cabe ao anjo da guarda, você, colocar um bilhete, toda semana, com um elogio, uma observação positiva, uma palavra de estímulo, etc., ao seu protegido. Ao final do período programado para essa prática, o anjo se revelará.

Como no amigo-oculto, não vale sortear seu próprio nome. O sorteio será repetido até que todos tenham sorteados nomes diferentes do seu. Cada um deve memorizar o nome da pessoa da qual irá ser o anjo da guarda. As mensagens deverão ser anônimas ou assinadas por um pseudônimo. Para facilitar essa prática, vale deixar perto da caixa caneta e papéis do mesmo tamanho, que deverão ser dobrados da mesma maneira, com o nome do destinatário na frente do bilhete, e colocado dentro da caixa.

Determine um dia da semana para que todos peguem e leiam suas mensagens. É possível colocar sua mensagem ao longo da semana, mas leia a que foi enviada para você, apenas no dia combinado. Escolham dia e hora que seja possível a participação de todos. Assim, a caixa será aberta só uma vez por semana, e todos poderão observar as reações dos membros do grupo, e perceber se existe alguém ficando sem bilhetes, ou recebendo mensagens que não estão de acordo com as regras.

Esse é o exercício, para mandar sua mensagem, você terá que focar nas qualidades do seu protegido. Mensagens genéricas, ou reprovações, admoestações, ofensas, não atingirão os objetivos dessa caixa. É mesmo para aprender a elogiar e ser elogiado.

No seu dia de hoje, qual das três caixas é a melhor para você?


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