domingo, 20 de agosto de 2017

Terapia da Natureza

Érima de Andrade

Sou apaixonada por plantas. Essa paixão me levou a estudar paisagismo, antes de descobrir a terapia ocupacional e suas possibilidades de atuação em saúde mental. Por isso é fácil entender como fiquei entusiasmada ao ler uma
matéria sobre pesquisas que relacionam as florestas com melhoras na saúde.

Diz a matéria, que o ambiente natural nos faz sentir restaurados e melhora o nosso desempenho mental. O pesquisador da Universidade de Utah, David Strayer, afirma que as florestas são o antídoto perfeito para as incansáveis distrações que golpeiam o cérebro moderno. A desaceleração provocada num passeio na natureza, faz diferença no pensamento qualitativo”.

A tese do David Strayer: estar na natureza permite que o córtex pré-frontal, o centro do comando do cérebro, descanse e se recupere como um músculo muito exigido.

Sua pesquisa centrada em como a natureza melhora a solução de problemas, se soma a teoria de que são os elementos visuais da natureza que reduzem o estresse e a fadiga mental. Esses estímulos promovem uma concentração suave que permite ao cérebro perambular, descansar e se recuperar.

David Strayer explica que “nenhum estudo dá uma explicação completa da experiência do cérebro na natureza. Sempre haverá algum mistério, e isso é bom. Assim vamos a natureza não porque a ciência nos diz que ela faz alguma coisa, mas pelo que ela nos leva a sentir.

Foram os sentimentos provocados pela natureza, que fizeram que em 1865, o arquiteto e paisagista Frederick Law Olmsted, que projetou o Central Park de Nova York, insistisse com parlamentares que protegessem o vale do Yosemite das construções urbanas. Frederick em seu pedido, afirmou que “é um fato científico que a contemplação de cenas naturais de caráter impressionante é favorável a saúde e ao vigor dos homens.”

Também por puro instinto, Ciro, o Grande, há 2500 anos, construiu jardins para relaxamento na movimentada capital da Pérsia. Mesmo sem provas irrefutáveis, no século XIX, os americanos Ralph Waldo Emerson e John Muir criaram os primeiros parques nacionais do mundo, afirmando que a natureza tinha poderes curativos para mente e corpo.
Hoje já é possível comprovar tudo o que eles afirmavam. Pesquisadores da Inglaterra constataram que quem mora perto de mais espaços verdes se queixa menos de sofrimento mental.

Em 2009 pesquisadores holandeses encontram incidência menor de 15 doenças, como depressão, ansiedade, e enxaqueca, em quem mora a menos de 1 km de espaços verdes.

Richard Mitchell, pesquisador escocês, encontrou menos doenças em pessoas que moravam perto de espaços verdes, mesmo quando não os usavam. Afirmou ele: “nossos estudos mostram esse efeito restaurador, quer a pessoa vá passear, quer não.”

Já se demonstrou em pesquisas, que quem avista pela janela árvores e matos, se recupera mais depressa em hospitais, tem melhor desempenho escolar, e exibe comportamento menos violento.

Numa pesquisa da Universidade de Chiba, voluntários que caminhavam em florestas foram comparados a quem caminhava no centro das cidades. Os da floresta conseguiram diminuir a ansiedade, e seus exames mostraram uma redução de 16% do cortisol, o hormônio do estresse.

Pesquisadores sul-coreanos constataram, com ressonância magnética, que os voluntários que olhavam cenas urbanas tinham maior fluxo sanguíneo na amígdala, que processa o medo e a ansiedade. Os que olhavam cenas naturais iluminavam o córtex cingulado anterior e a ínsula anterior, áreas associadas a empatia e ao altruísmo.

Yoshifumi Miyazaki, cientista japonês, acredita que nossa mente e corpo relaxam em ambientes naturais, “porque nossos sentidos se adaptaram para interpretar informações sobre plantas e riachos, e não sobre tráfego e prédios.”

Lisa Nisbelt, da Universidade Trent, diz que as pessoas subestimam a felicidade que pode ser alcançada ao ar livre. “Não pensam”, diz ela, “que é um jeito de aumentar sua felicidade. Pensam que outras coisas farão isso, como ir às compras, ou assistir à TV.” E continua, “evoluímos na natureza. É estranho estarmos tão desligados dela.”

Nooshin Razani, é uma médica do Hospital Infantil Benioff, que está tratando depressão e ansiedade com a ajuda da natureza. Como parte de um projeto-piloto, ela prepara pediatras do ambulatório para receitar aos jovens pacientes e suas famílias, visitas regulares a parques próximos.

Para que pacientes e médicos se envolvam com o tratamento, ela explicatransformamos o espaço clínico de modo que a natureza esteja em toda parte. Há mapas na parede para que seja fácil conversar sobre aonde ir, e fotografias de matas locais.”

Em alguns países, como a Finlândia, onde era elevado o número de alcoolismo, depressão e suicídio, a natureza já está incorporada a politica de saúde mental oficial do governo.

Equipes de pesquisa do Instituto de Recursos Naturais da Finlândia, recomendam uma dose mínima de 5 horas na natureza, por mês, para melhorar a saúde mental. Comprovaram que um passeio de 40 a 50 minutos, na natureza, é suficiente para causar mudanças na fisiologia, no humor e provavelmente na atenção.

O professor Kalevi Korpela, da Universidade de Tampere, ajudou a projetar uma dúzia, do que ele batizou de “trilhas poderosas”, que estimulam a atenção plena e a reflexão. Placas nas trilhas dizem coisas como: você pode se agachar e tocar uma planta.

Na Coreia do Sul foram criadas Florestas Recreativas Natural. Os funcionários e guias são chamados de “instrutores de cura florestal”. Eles guiam os passeios e são responsáveis por um programa de 3 dias, patrocinado pelo governo, que trata o transtorno de estresse pós traumáticos nos bombeiros.

O cientista social sul-coreano, Shin Won-Sop, estudou o efeito da terapia das florestas em alcoólatras. Como ministro das florestas, imagino que seja um cargo equivalente ao de ministro do meio ambiente, tornou o bem-estar humano uma meta formal do plano florestal do país. Com essa medida, os vistantes das florestas recreativas, passaram, em 1 ano, de 9 para 12 milhões. Ele diz que “é claro que ainda usamos as florestas para extrair madeiras, mas a área da saúde agora é o fruto principal.”

Seu ministério tem dados que indicam que a cura florestal reduz o custo médico e beneficia a economia local. Seus estudos agora buscam colher dados sobre doenças específicas e qualidades naturais que fazem diferença. "Que tipos de florestas são mais eficazes?" É a pergunta que buscam responder.

Como os estudos falam de contato com a natureza, não podemos deixar de fora o efeito benéfico dos passeios na praia. A velha sabedoria de que estar perto do mar é bom para a sua saúde é verdade, e vários estudos já mostraram.

De acordo com a pesquisadora Lora Fleming, da Universidade de Exeter, o tempo passado à beira-mar tem muitos efeitos positivos sobre a saúde e bem-estar.
O pesquisador Mathew White e seus colegas também descobriram que as pessoas que viviam perto da costa relataram uma melhor saúde. E que ir para perto da praia, para a aproximação do mar melhora significativamente o bem-estar. “O ambiente à beira-mar além de reduzir o stress pode estimular a atividade física”, completa White.

“Quando você coloca uma pessoa num ambiente de praia”, diz White, também de Exeter, não vai haver nenhuma grande surpresa para você. As pessoas vão relaxar”.

“Estes estudos sugerem que a exposição ao oceano pode ser uma forma útil de terapia”, disse Lora Fleming, “por exemplo, o surf pode melhorar o bem-estar das crianças com problemas. Mas só os estudos futuros poderão dizer qual a “dose” ideal de tempo interagindo com o oceano, e quanto tempo os efeitos na saúde se mantêm.”

Mas mesmo sem estudos, há quem diga que bastam cinco minutos no sol para acabar com qualquer depressão. "O bom humor está diretamente ligado à luz solar, porque ela estimula a glândula pineal, responsável pela produção de endorfinas em nosso cérebro. Estas substâncias é que promovem a sensação de prazer e bem-estar", afirma a médica Cláudia Magalhães, de Recife. "Além disso, a radiação solar diminui a taxa do hormônio melatonina, cuja produção aumenta em condições de estresse, podendo levar à depressão", esclarece o médico José Carlos Greco, também de Recife.

A conclusão deles: “é por isso que nos sentimos felizes e reenergizados na praia, onde ainda desfrutamos de uma agradável sensação de liberdade”.

Bora aproveitar o domingo para uma terapia na natureza?

6 comentários:

  1. Este assunto é mais antigo do que a bela idéia de Ciro. Vivamos o magnifico litoral brasileiro!!!
    Beijos, Dirma

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  2. Oi Érima, interessante demais os estudos. Não tenho dúvida de que estar perto da natureza reduz (e muito) os níveis de estresse e outras doenças mentais. Pena que não é todo mundo que consegue viver perto do mar ou de espaços verdes ~ ainda mais com a especulação imobiliária louca dos dias de hoje, que desmata e acaba com espaços de natureza sem critério. Um abraço!

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    1. Tem razão Camila, muitos lugares são completamente concreto. Por isso as hortinhas nas janelas da cozinha, os vasos na sala, até de frutíferas, fazem muito sucesso e são bastante benéficas. e tem sempre a possibilidade de fazer um caminho mais natural ao voltar do trabalho, e claro, fins de semana. Veja que 5 horas por me^s, pode ser feita toda numa manhã de sábado. A gente transforma o mundo conforme nos transformamos e fazemos escolhas mais saudáveis. Obrigada por comentar.

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