domingo, 6 de agosto de 2017

Coisinhas da Vida

Érima de Andrade

Esse ano tenho desejado aos aniversariantes que eles tenham um ano cheio de coisinhas felizes, porque acredito, mesmo, que
a felicidade está nas pequenas coisas. Esse texto da querida Teresa Bessil, que está no livro dela Bordados do Coração, nos lembra como as coisinhas boas nos fazem bem! Boa leitura!

“Rir quando acordamos, porque acordar não é coisa garantida na hora de ir dormir. Andar devagar pela rua, somente para ver como é andar devagar pela rua em meio ao mar de gente atarefada demais para andar devagar pela rua. Abrir a janela para arejar a casa e ficar um longo tempo olhando o céu, daquele jeito que o olho se perde de tão profundo o azul sem nuvens, e ficamos ali, olhando nada, quase vendo tudo.

Acordar no meio da noite e ficar ouvindo os pequenos barulhinhos que só se mostram quando a cidade dormiu. Ouvir uma música nova e ficar sem saber se gosta ou não. Olhar para o amado que dorme acompanhando sua respiração e ficar comovida com a curva de sua boca, mesmo depois de décadas dormindo ao seu lado. Entrar em uma livraria só para sentir o cheiro dos livros enfileirados nas prateleiras, joias que apenas deixamos que repousem por ali, já que não temos tanta pressa de coisa alguma e ainda temos uma pilha de novidades em palavras que nos esperam em casa. Andar de mãos dadas na beira da estrada, vendo aquela flor pequena que nunca antes havia. Inventar nomes para as flores. Veja que linda essa Julietinha. Meu Deus, quantas Gertrudes nessa estrada. Aplaudir cada enfeite de Natal que penduramos na árvore.

Rir muito de qualquer coisa, só porque é bom rir muito de qualquer coisa. Ficar calado um tempão enquanto andamos juntos pela calçada. Procurar a lua no céu. Achar que a borboleta que cruzou por ali vinha trazendo um recado e se colocar a pensar nos anjos até virar nuvem pequena ou algo assim. Ver um filme muitas vezes, antecipando o gozo de cada cena que nos faz rir ou chorar. Fazer aviãozinho de papel. Parar o que se está fazendo somente porque o sol entrou de um jeito pela casa que deixou tudo dourado – parede, cadeira e sonho. E ficar olhando aquele dourado até sumir, coisa que logo se dá.

Fechar o olho e lembrar de um cheiro. Ficar em silêncio depois que lemos algo que nos move. Fazer tudo mais devagar de vez em quando, principalmente beijo. Beijar na testa com um jeito de ressaltar a alegria da amizade. Beijar bem de leve nos lábios, só pra deixar o corpo tremer antes que tudo aconteça. Sair escrevendo o que nos vem à cabeça e de repente parar, só porque nos lembramos das pessoas queridas que nos leem. Ler um poema muitas vezes como se fosse a primeira vez, não porque não temos memória, mas porque celebramos o ineditismo do viver.

Pois era isso que eu ia lhes dizendo. Tem quem considere viver uma baita perda de tempo. Justo porque viver habita esse monte de coisas efetivamente sem qualquer função. Coisas, situações, sonhos, momentos. Pequenas e grandiosas coisas nas quais a vida simplesmente nos habita de um jeito meio maroto. Quase simples." Teresa Bessil

 (Bordados do Coração - "Perda de tempo", pág 29)

Que você tenha muitos momentos contentes todos os dias.

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