domingo, 11 de junho de 2017

Tempo externo, tempo interno, tempo pessoal

Érima de Andrade

Tempo é o assunto da semana. De fato,
cada um tem um tempo de digerir acontecimentos, emoções, mudanças. E está tudo bem. É o tempo que você precisa e ele é pessoal, ponto.

Estou chamando de tempo pessoal o tempo necessário para cair a ficha, para entender o que está acontecendo, para reconhecer seus sentimentos, para que as informações ouvidas façam sentido, para que você possa digerir tudo o que está vivendo.
Seu tempo pessoal. Mesmo que muitos vivam situações similares, cada pessoa terá seu próprio tempo de processamento do seu momento de vida, terá seu próprio tempo pessoal.

O tempo pode ser objetivo e subjetivo. Nós, humanos, observamos os ciclos da natureza, amanhecer e anoitecer, as estações, as gestações, o desenvolvimento, o envelhecimento, e
criamos maneiras de mensurar essa passagem de tempo, de medir esses movimentos da vida.

Chamamos essa mensuração de tempo objetivo, ou tempo externo, aquele que pode ser marcado e medido. É o tempo do mundo, da natureza, das árvores, dos compromissos, relógios e calendários.
É um tempo público e verificável. Pode ser medido e todos concordarão com essa medição.

O tempo subjetivo, ou interno, é o
tempo de amadurecimento, tempo necessário para compreender, assimilar, aprender, se organizar, e as vezes, se conformar. É tempo das experiências mentais, dos eventos da consciência, e envolve percepções, imaginação, recordações.

Tempo subjetivo é o tempo interno, privado e variável.
É o tempo que você estima para um determinado evento ou intervalo. É algo baseado na sua interpretação individual, e pode não ser válido para todos.

O tempo objetivo nos permite situar um evento, marcar um horário para uma consulta, agendar um encontro,
atuar no mundo externo. Mas é no tempo subjetivo que vamos vivenciar e conhecer a relação entre esses acontecimentos e o que se passa em nosso mundo interior.

Os nossos sentidos, e a nossa tradição cultural, introjetaram a
noção de tempo como um fluxo continuo seguindo em uma única direção, do passado ao futuro, do antes ao depois. Mas internamente não é assim que funciona. Não é linear e exato como o de um relógio.

O tempo interno tem sequências. Os eventos seguem ou antecedem um ao outro, mas
não é possível cronometra-los. Não tem como medir o tempo interno pelo tempo do mundo.

É bem comum que o tempo que passa no relógio não seja o mesmo que passa dentro da você. E também é comum não seguir um calendário ao recordar eventos marcantes e significativos.
Memórias e sentimentos são subjetivos, nosso tempo interno também é.

O tempo objetivo é o tempo do relógio, onde 1 hora será sempre 60 minutos e 1 minuto é sempre 60 segundos. Mas no tempo interno, que é seu, individual e intransferível, seus sentimentos marcam um tempo totalmente subjetivo. Cada minuto pode não ser mais de 60 segundos, pode parecer 10 segundos ou 10 horas, depende do que você estiver vivendo.

De modo geral, sentimos que o tempo acelera em situações prazerosas, e quase para em situações desagradáveis. E dependendo do que você viveu, na sua memória os fatos podem estar totalmente fora da ordem cronológica.

Seu tempo pessoal é mais que o tempo interno ou subjetivo. É o tempo de construção da sua identidade, um tempo para ressoar dentro tudo o que viveu. É o tempo de 
construção da pessoa que você se tornou com tudo que aprendeu, ou com tudo que a sua alma relembrou. O tempo pessoal a gente cria, e num espaço de tempo tão curto quanto um segundo, você pode escolher mudar tudo.

Você pode estar consciente dos tempos interno e externo ao mesmo tempo. Mas o importante é você saber que, além do tempo do relógio, você precisa de um tempo pessoal para se reorganizar após experiências e aprendizados. Pode ser que, nesse momento, para você, o relógio ande rápido, e seus sentimentos, pensamentos e comportamentos precisem de mais tempo para se manifestar.

Respeite essa percepção de estar vivendo em dois tempos diferentes. Respeite seus ritmos interno e de vida. Respeite seu tempo e o tempo de cada um.

Mudanças, por escolha, ou por imposição da vida, exigem tempo para pôr ordem no corpo e nas emoções, para reaprender a viver e conviver nessa nova realidade.
Não existe um padrão comum de comportamento após uma mudança. Cada um tem seu tempo de desconstruir o antes para construir o agora. O tempo desse processo é pessoal, individual e relativo.

Para você pode ser rápido, mesmo que para os de fora, pareça que demorou. É o seu tempo, o tempo necessário para que você acomode dentro as histórias vividas antes, durante e depois de cada virada que a vida dá. Respeite-se e respeite. O tempo pessoal é isso mesmo, pessoal e único. É pessoal e interno, mas nem por isso você precisa estar sozinho.

Se você precisar expressar emoções e sentimentos provocados por mudanças, e não sabe como, busque ajuda. Amigos podem lhe ouvir, e um profissional pode ajudar a mudar a perspectiva dos fatos, permitindo uma ressignificação do ocorrido, abrindo espaço para a compreensão, aceitação e, quem sabe, para a confiança, o perdão e a gratidão pelo aprendizado.

Ressignificar pode curar um pouco mais o que ainda lhe dói, pode ajudar a aceitar a vida e o que ela traz a cada momento, pode abrir um espaço em você para que o seu melhor se manifeste.

Ressignificar não muda o que aconteceu. Muda sua maneira de lidar com o que aconteceu. No seu tempo, no seu ritmo, dentro da sua possibilidade. 

                                                                                                                                                                                                             

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