domingo, 2 de abril de 2017

O pobre coitado, coitadinho

Érima de Andrade

Como é cansativo conviver com o pobre coitado.
Coitadinho, tão incapaz para tudo. Incapaz de autonomia, independência, incapaz de felicidade. Como ser feliz se tudo o que eu quero da vida é que tenham pena de mim?

E se eu ficar feliz por sentirem pena de mim, tenho que manter a felicidade camuflada, senão a pena acaba e não tem mais como manipular a atenção das pessoas.
Como chamar atenção sem provocar pena? Ó céus, ó vida, ó azar, como sair dessa armadilha de perde e perde?

Pobres coitados, de modo geral,
sempre de modo geral porque cada caso é um caso mesmo, dão ao mundo externo poder sobre si e sobre sua vida. Muitos coitadinhos procuram fora de si as soluções das suas dores.

Se você tem certeza que é vítima das circunstâncias, que os outros estão com as rédeas da sua vida, e do seu equilíbrio, você precisa mesmo fazer de tudo para chamar a atenção do mundo. Você pode ter pena de si mesmo e se tornar um coitadinho, ganhando a atenção que necessita. Mas já fica sabendo que ter pena de si nunca foi uma solução.

Colocar o poder da sua vida no outro é se desresponsabilizar. E ao se desresponsabilizar, coitadinhos criam uma ausência de si mesmos que os impedem de ser protagonistas na própria vida. E consequentemente, de acreditar na possibilidade de estar em si a sua própria fonte de soluções para uma vida melhor.

Ser o coitadinho, e estar entregue à negatividade, significa que o investimento do poder, da força e da energia, está direcionado, e focado, na vitimização e no drama. Esse prazer negativamente orientado, alimenta a necessidade do vazio interno, de ser sempre aquela pessoa de quem todos têm pena.

É uma forma bem triste de mendigar atenção, carinho, aconchego, e de esconder o medo de encarar a vida de cabeça erguida. Tem muito a ver com imaturidade. Coitadinhos sofrem por colocar o foco no sofrimento, em vez de focar nas soluções dos seus problemas.

Coitadinhos perderam seu senso de valor, buscam fora de si a comprovação que não acham dentro. E se o mundo não valida suas expectativas de valorização, confirmam a crença de que são pessoas que não têm valor próprio, que não têm nada de especial, que não valem a pena.

Crença confirmada, rótulo de coitadinho, de vítima, colocado sobre si mesmo, e está feita a barreira que deixa cada vez mais longe a necessidade de se responsabilizar por seu crescimento, e pelas circunstâncias da sua desejada vida feliz.

Comportamentos e hábitos destrutivos não levam a lugar algum que valha a pena. Entendeu bem, coitadinhos são autodestrutivos. Ou que nome você daria para alguém que se desvaloriza tanto que passa a acreditar que é incapaz?

É verdade que viver na negatividade é um estado de dor. Viver nessa escuridão dá desespero, pois fica sem ter perspectiva de resolução objetiva dos seus problemas. Mas essa perda de visão é o sinal de que algo tem de ser transformado.


Para sair desse estado sombrio tem que decidir primeiro, interna e profundamente, querer mudar. E mudar aqui significa se conhecer, descobrir ou redescobrir o seu valor. Sim, parece cruel, mas é verdade: primeiro tem que se responsabilizar pela sua mudança, só assim para deixar de ser o pobre coitado.

Não tem como mudar fora sem mudar dentro. Mudar fora, de emprego, parceiro, profissão, casa, e continuar a pensar da mesma maneira, agir da mesma maneira, responder aos acontecimentos da mesma maneira, não muda nada. A mudança pela mudança não muda absolutamente nada se você não se transformar internamente primeiro.

Se você não se transformar internamente primeiro, você vai continuar atraindo para sua vida os mesmos tipos de situações, de problemas e de pessoas.O caminho da cura é sempre interno, olhando para dentro, colocando luz, se conhecendo. Períodos de crises e de depressões, são uma forma da vida alertar que o caminho não é esse, que alguma coisa não está bem, que precisa uma mudança.

Ao olhar para dentro, ao reconhecer seu valor, é possível acabar com as crenças auto sabotadoras. É possível entender que a vida é muito mais que mendigar afeto, amor e compreensão. É possível conquistar autonomia e crescimento.

Olhar para dentro é importante porque, na maior parte das vezes, o coitadinho não tem consciência da profundidade e origem das suas convicções. E são essas convicções que o levam para o fundo do poço, à espera de um alguém, externo, que venha para lhe socorrer.

Autoconhecimento é o melhor caminho, porque coloca luz na sua história, permite que você ressignifique o seu passado, se perdoe e siga em frente.

Olhar para dentro pode ser começar com a pergunta: como eu posso me amar mais nesse momento e iniciar meu processo de transformação?

Talvez você descubra que tem que começar se perdoando. Perdoar não é fácil. Dá um trabalho imenso Mas, sem sombra de dúvida, vale cada milímetro do esforço de ressignificar o que você viveu. Perdoar é parte da cura de qualquer processo de dor.

E o próximo passo, claro, começar a agir diferente. O que, normalmente, chamamos de problemas, pode ser um poderoso estimulo para a sua mudança necessária. Acredite, tudo o que aconteceu na sua vida serviu para lhe trazer a este exato momento. E este momento é tudo que você precisa para caminhar na direção da sua felicidade.

Se conhecer é um exercício diário. A decisão de mudar tem que ser sua, mas não precisa mudar sozinho. Se precisar de companhia, não hesite em pedir ajuda.

Você tem o poder de deixar de ser o pobre coitado, use-o.


2 comentários:

  1. Que prazer ler o texto de uma colega e descobrir que vale a pena mesmo realizar a viagem para dentro de nós, pois a vida vai fazendo movimentos que nos fazem deparar com um texto maravilhoso como esse. Erima...sou terapeuta ocupacional em MG, em processo de autoconhecimento por um agir e uma vida com propósito e está sendo um bálsamo para minh'alma deparar com seu blog...gratidão e espero poder conversar com vc.

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    1. Fico muito feliz de estar contribuindo nesse seu caminho! Beijos

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Vou ficar feliz com seu comentário. É muito bem vindo!