domingo, 24 de julho de 2016

Resignação ou Aceitação?

 Érima de Andrade

Aceitação não é resignação.
Mesmo que visto de fora pareça a mesma atitude, internamente é muito diferente.

Vamos entender o que é aceitação e o que é resignação.
E uma vez compreendido, sugiro que você deixe de se resignar e passe a aceitar as situações que a vida lhe oferece.

Resignação é não aceitar a vida como ela se apresenta. O resignado sempre deseja que as coisas tivessem acontecido de maneira diferente. E como não é possível, a vida é como é, se esforça para esquecer o que viveu. Como tudo que a gente se esforça para esquecer, gruda mais, pois quanto mais recusamos, mais o que é recusado, ou rejeitado, ganha força, a resignação além de nos manter presos ao passado, nos traz sofrimento.

O sofrimento vem dessa luta interior para controlar o incontrolável. A vida é impermanente e não temos nenhum controle sobre ela. Muitas vezes não é da maneira que gostaríamos que fosse, mas é a vida possível.

Na resignação fingimos nos conformar com o que está acontecendo, ao mesmo tempo que continuamos esperando que a situação seja de outra forma.

Se resignar é alimentar a própria impotência perante um acontecimento, e abandonar a luta. A resignação é sempre passiva, não vai na direção das mudanças que deseja. E como a situação não muda, ao se resignar, nos tornamos vítimas e assumimos o discurso da impotência: é assim mesmo, não há nada que eu possa fazer.

A resignação contém em si mesmo duas recusas: a recusa da realidade e a recusa da ação. Como a gente só muda o que tem consciência, ao negar se tornar consciente da realidade, você também está se negando a oportunidade de mudar o que lhe acontece.

Na aceitação há o reconhecimento do desejo de ter vivido algo diferente, mas há também a disposição de tornar o acontecimento positivo. Quando aceitamos reconhecemos a realidade, e por ver verdadeiramente o que acontece no momento, podemos buscar opções e outros caminhos.

O ocorrido pode não agradar, mas aconteceu assim. E eu vou me esforçar para estar aqui e agora, do jeito que é. O que é plenamente aceito, perde seu poder e você pode escolher como seguir em frente. Reconheço que não me faz feliz, que não é esse o meu caminho, e sigo buscando o caminho da minha felicidade.

Essa é a aceitação. Eu não permito que o ocorrido me bloqueie, não caio na tentação do pensamento fatalista “será sempre assim”, aprendo com a experiência, e sigo em frente.

Aceitar o que é, é aceitar a mudança, a transformação, a evolução. A aceitação empurra para frente, lhe ajuda a enfrentar os pequenos e grandes desafios com coragem e firmeza.

A aceitação é não ir contra a corrente, poupando sua energia em vez de brigar com o incontrolável. Aceitação é aproveitar as situações para aprender, reconhecendo que a vida é como se apresenta.

É preciso lembrar que o momento presente é fruto do que pensamos, falamos e agimos no passado. E sempre existe a possibilidade de corrigir o rumo, basta reconhecer o que lhe acontece e usar a seu favor, sabendo que, de novo, você vai colher o que plantar.

Não podemos mudar o passado, mas podemos mudar nossa atitude interior. E isso faz toda a diferença. Faz você aceitar o que lhe acontece em vez de se resignar com o que lhe acontece.

Se errar, supere e aprenda. Quando um acontecimento for bom, desfrute-o. Quando for ruim, transforme ou aceite. Quando a situação não puder ser transformada, transforme-se para melhor e recomece.

Eu aceitei e transformei. Quando precisei fazer radioterapia, aceitei a tatuagem-marcação. Nada contra, é mesmo uma necessidade marcar o campo que será irradiado, para que o tratamento seja direcionado e reproduzido todos os dias da mesma maneira. A moça que me marcou, avisou que seriam três pontinhos, um na lateral do tronco, outro entre as mamas e outro acima da mama esquerda. Tudo bem.

Mas nem tão bem assim... ela errou e o pontinho acima da mama virou um tracinho. “Mas é tão pequeno” me diziam quando comecei a pensar em fazer alguma coisa com ele. De fato, era pequeno. Mas as pessoas mais íntimas, me avisavam, com a melhor das intenções, que eu havia me rabiscado, ou com caneta, ou com lápis de olho... Tão pequeno, e todo mundo vê...

O ponto entre as mamas “cresceu” na simetrização. E se antes eu nem prestava atenção nele, passei a vê-lo sempre. Se é para ter uma marca, que seja então uma marca escolhida por mim. E foi assim que meu tracinho virou uma borboleta, símbolo da transformação; e meu pontinho um coração, símbolo da gratidão e do amor.
                                       

 E a vida segue com aceitação e felicidade.

                                        

4 comentários:

  1. Amei!
    A forma de escrever está cada vez mais fluida. O conteúdo nem se fala. Nunca vi mais claro as diferenças entre aceitação e resignação, perfeito. A ideia é os símbolos escolhidos então...nem se fala. Parabéns!

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  2. Que bom que gostou! Obrigada por comentar. Beijos

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  3. Texto ótimo!!!! Muito bem abordado os conceitos que se diferenciam notoriamente! Sugiro um proximo onde seja discutido a diferença entre aceitação e acomodação!!! Penso que tb da um bom "caldo".... rsrsrs
    De resto, que maravilhosa "limonada" vc fez com o "limão" que recebeu!!!!!
    Vc esta sendo a timoneira do barco que estamos navegando....Não errei quando ha mais de 2 anos atras, assustada com o seu diagnostico, disse..."estamos todas no mesmo barco, seja qual for a nossa geração na familia"...Mas a geração de vcs esta nos dando uma mostra de coragem, fe e força incomensuraveis!!!! Aceitar sempre, resignar nunca e lutar constantemente é a marcha da vida!!!! Bjs

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