domingo, 12 de junho de 2016

Evitando pessoas

Érima de Andrade

Quanto mais pratico, estudo, pesquiso, converso sobre autoconhecimento mais me surpreende a dificuldade das pessoas perceberem quantos pequenos gestos diários as afastam das outras pessoas.

A gente sofre, e faz sofrer, basicamente por falha na comunicação.
Aquele compromisso que você não foi, se tivesse avisado evitaria muitas dores de cabeça; assumir o que sente em cada situação evita muita decepção; não fazer o que promete no horário combinado estimula que as pessoas desconfiem de você. 

E assim, de grão em grão, de gesto em gesto, de falha em falha, quando você se dá conta, já existe um abismo quase intransponível em algumas das suas relações.
E tudo basicamente por falhas na comunicação.

E essas falhas acontecem mesmo quando nossas conversas são via mensagens de celular, e-mail, aplicativos de mensagens instantâneas, redes sociais, etc. O excesso de estímulos tende a desconcentrar, distrair, desperdiçar energias, tempo e talvez dinheiro também.

Aliás, é tão fácil evitar as pessoas mesmo tendo inúmeros “amigos” nas redes sociais...
Se você não responde as mensagens, não se posiciona sobre qualquer assunto, não se compromete com nada nem ninguém, não demonstra ter nenhum sentimento além do imenso “orgulho” da sua lista de “amigos”, você está mais sozinho do que imagina. 

Nada é mais importante para aproximar as pessoas que o relacionamento interpessoal.
O assunto principal é se relacionar, interagir, conviver em sociedade, aprender, ensinar. Ter muitos amigos nas redes sociais e bloquear qualquer tentativa de contato mais pessoal, provoca as seguintes perguntas: afinal que vida é essa que a pessoa vive? Ela de fato se relaciona?

Eu até acho bom dar limites no seu espaço pessoal, só não entendo a lógica de fazer de tudo para ter muitos seguidores em redes sociais e evitar contato mais próximo. 

Na minha vida, se eu receber no telefone uma mensagem de alguém que sabe o meu nome, liga de um número desconhecido e não se apresenta, eu bloqueio o número. É um péssimo início de conversa não se apresentar. Eu penso logo em mala-direta, telemarketing, oferta de combos, planos, promoções.

Puro preconceito meu, pois pode ser a senhorinha minha vizinha, apaixonada pela Chica, minha gata, dando os primeiros passos no celular novo dela.
Se assim for, não faltarão oportunidades para me contar, nós nos encontramos com muita frequência. Até lá, número bloqueado.

Simples assim. Se comunicando com clareza você evita abismos entre você e seus conhecidos, e a intimidade entre vocês pode até surgir.

E como é difícil a tal da intimidade! Para que a intimidade surja, é preciso confiar, conhecer, respeitar, aceitar e entender a si mesmo, e ao outro.

De modo geral, entramos nas relações com expectativas, esperamos que o outro seja a pessoa que imaginamos.
Tão convictos estamos de ver no outro o que desejamos, que nem ao menos nos damos espaço para descobrir quem ele é. E de engano em engano, vamos nos distanciando.

Para respeitar o outro, é preciso aceitá-lo. Para aceitá-lo, é preciso conhecê-lo. Para conhecê-lo, é preciso olhar para ele sem expectativas. Esse é o grande exercício para permitir a intimidade: descobrir quem é o outro em vez de tentar fazer que seja quem você quer.

E claro, só vai funcionar se você também se respeitar, se aceitar, se conhecer. Só assim você será verdadeiro.

É impossível cultivar a intimidade se você não conseguir se olhar e ser verdadeiro consigo mesmo. Ser verdadeiro é aceitar a responsabilidade pelo que você sente, é sair do papel de vítima, é reconhecer que você está onde você se coloca.

A intimidade está totalmente vinculada a verdade. E a verdade está vinculada a responsabilidade por seus sentimentos, pensamentos e ações. Se responsabilizando, você terá a grata surpresa de descobrir que não foram os abismos que diminuíram, foi você que cresceu.

Desligue o telefone, o computador, e permita os encontros, os “eu com outros”. A lição a ser aprendida é que tudo sempre tem mais de um lado e que somente de uma posição mais desapegada é que conseguimos perceber o todo, e não apenas a nossa parte.

Permita-se entender as pessoas e compreender que todos nós desenvolvemos sabedorias diferentes. É difícil reconhecer a sabedoria do outro se olhar para ele com os seus olhos. Então procure olhar sob a ótica dele, e encontrará a sabedoria.

Permita os bons resultados da comunicação que vêm da consciência de que você é o responsável por suas atitudes. Permita a ajuda mútua, pois como espécie que não sobrevive sozinha, o apoio doado retorna formando um círculo de apoio comum. Permita-se uma vida de conexões pessoais, respeito e aceitação pelas diferenças. Permita-se a intimidade.

E assim as relações vão sendo construídas e os abismos vão deixando de existir.

Pode até ser mais fácil para você continuar a evitar as pessoas. Mas será essa uma vida que vale a pena?

2 comentários:

  1. Perfeito Érima, tenho me questionado muito, como sempre, sobre o quanto ficamos "presentes" no mundo virtual e o quanto esta escolha nos afasta da realidade...equilíbrio, foco no momento e verdade. Talvez seja a melhor medida! beijos e parabéns peolo belo texto!!!

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  2. Que bom que gostou Bianca. Gratidão por comentar! Beijos

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Vou ficar feliz com seu comentário. É muito bem vindo!