domingo, 5 de julho de 2015

Pertencer

Érima de Andrade

Pertencer, no dicionário, tem vários significados, mas me interessa, para esse texto, o que leva a palavra pertencimento: Pertencimento, ou o sentimento de pertencimento é a crença subjetiva numa origem comum que une distintos indivíduos. Os indivíduos pensam em si mesmos como membros de uma coletividade na qual símbolos expressam valores, medos e aspirações. Esse sentimento pode fazer destacar características culturais e raciais.”


“A sensação de pertencimento significa que precisamos nos sentir como pertencentes a tal lugar e ao mesmo tempo sentir que esse tal lugar nos pertence, e que assim acreditamos que podemos interferir e, mais do que tudo, que vale a pena interferir na rotina e nos rumos desse tal lugar.”

Quero falar dos grupos onde pertencimento significa que as pessoas pensam em si mesmos como membros de uma coletividade, com símbolos, valores, histórias e aspirações em comum. O ser humano, precisa se sentir ‘em casa’, ou seja, pertencendo a algo, ser reconhecido e reconhecer, ser identificado e identificar seus pares, e ter a sensação de ser parte de um todo maior, que o acolhe e o protege, como nas amizades.

Esse sentimento de pertencimento surge enquanto o grupo desenvolve sua relação que pode ser a partir de uma atividade, como por exemplo, o grupo da meditação, o da academia, o do teatro, o da casa espírita, o do lugar que você frequenta para rezar. O grupo pode ser formado por familiares. O grupo pode ser formado por colegas de trabalho, ou por 
amigas do tempo de escola, ou por tantas outras formas de participar, onde você se reconhece e se identifica.

O que caracteriza cada grupo é a maneira como ele foi construído, como se relaciona com as diferenças entre os membros, como recebe novos participantes, e como é visto por cada um nas suas próprias relações sociais.

De qualquer maneira, quando a característica desse grupo é sentida subjetivamente como comum, surge o sentimento de pertinência, de pertencimento.

Construir relações de amizade que levem ao sentimento de pertencimento não tem preço. Se sentir pertencendo pode acontecer tanto num convívio temporário, quanto num permanente. E mesmo assim aquele grupo, aquele espaço, aquela lembrança, será sempre uma referência, será sempre um lugar para voltar e se sentir acolhido. E amigos assim, continuam amigos mesmo que deixem de conviver.

Mas para pertencer a um grupo é preciso participar. É preciso deixar a crença de ser diferente dos outros, de ser incapaz de se relacionar, de não fazer parte de grupo nenhum.

Vem da infância a crença que faz a pessoa desenvolver essa sensação tão horrível de não pertencimento. É a crença, ou o fato, de que na sua família foi diferente, de ter uma família que de alguma forma foi muito diferente das demais por questões sociais, ou financeiras, ou pela raça, ou pela origem, ou por problemas em casa, ou por alguma característica específica, qualquer coisa, que faça essa família se destacar e ser diferente, gera a crença de não pertencer.

Com essa consciência é possível agir contra essa crença e se responsabilizar pelas consequências. Pertencer também é uma escolha. Clarice Linspector descreveu muito bem a necessidade de pertencimento:

“Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.

Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.

Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.

(...)


Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.

(...)

A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!” Clarice Linspector


Que dores impedem você de pertencer?

O que você tem feito para estar num grupo?

Lembre que o sentimento de pertencimento tem a ver com a noção de participação, e responda, como você participa?

Que você encontre o seu lugar de pertinência.

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