domingo, 12 de fevereiro de 2017

Ignorância e Preconceito

Érima de Andrade

Preconceito é um conceito pré, ou seja, um conceito antes.
Um conceito formado antes de você se informar sobre todas as alternativas possíveis nessa situação que seu preconceito condena.

A primeira informação que seu preconceito dá sobre você, é que você é ignorante.
Você ignora informações úteis para perceber que, mesmo que não seja como você, o outro também está certo.

Se você se perceber preconceituoso, em qualquer situação que seu preconceito aparecer, faça esse exercício de se perguntar se
o outro está mesmo errado, ou apenas pensando, ou fazendo, diferente de como você pensa ou faz? E se abra para a resposta. Ela pode surpreender.

A informação cura o preconceito. Contra qualquer tipo de preconceito,
é a informação que vai lhe salvar desse labirinto de ideias e crenças limitantes, rígidas e ultrapassadas.

Informe-se e olhe, com abertura, para o outro lado da sua opinião. Você vai confirmar que mesmo diferente de você, o outro também pode estar certo.

Quanto mais você acreditar no que ouviu na infância, mesmo com a melhor das intenções dos seus pais, professores, ou outros adultos que conviviam com você, ou até mesmo no que falavam outras crianças, mais preconceitos você terá.

É claro que é para respeitar e honrar a maneira que seus pais escolheram para lhe educar. Com certeza eles fizeram o melhor que puderam. Mas já está na hora de você pensar se as ideias que carrega são de fato suas, ou se você aprendeu e cristalizou como verdade absoluta.

Antes de dar força para o seu preconceito, coloque-o sobre uma nova ótica, sobre o olhar informado que você adquiriu na vida adulta, e confirme se o que você ouviu a infância toda, é de fato uma verdade.

Lembrei de uma história fofa contada por um dos meus professores de física. A mãe dele o estimulava a pensar, mostrava, por exemplo, como uma batata amolecia quando cozinhava. Ela de fato foi muito responsável pela escolha profissional que ele fez. Mas ela não tinha estudo, e tirava conclusões com a informação que tinha. Ele lembra, com carinho, da mãe mostrando para ele que o calor estava tão intenso, que até o copo com gelo suava. Ela velhinha, continuava a mostrar o copo suando de calor. Por respeito, por ternura, por amor, ele nunca a corrigiu.

Vale perguntar, seria possível se formar, e se tornar professor de física, sem se abrir aos outros olhares aprendidos com os estudos? O que você acha, seria possível? Uma história simples, fofa, mas espero que tenha lhe ajudado a perceber como uma informação errada ouvida repetidas vezes na infância, pode limitar o seu universo. O dele, ele permitiu que se ampliasse.

Lembrei de outra história, dessa vez uma criança criando caraminholas na cabeça de outra criança. Um irmão, avisou a sua irmã, para que ela estivesse prevenida, que a feijoada era feita com pedaços de porco. Ela deveria tomar muito cuidado, pois o que ela pensava que era um grão de feijão, podia muito bem ser o olho do porco. Já adulta, quando viu a preparação de uma feijoada desde o momento que os ingredientes foram separados (e só viu porque não tinha como fugir), ela se deu conta que o irmão andou brincando com ela. Foi a primeira vez que comeu uma feijoada completa, e adorou.

Ela entendeu que o irmão brincava de assustá-la, e que por muito tempo funcionou. É um mecanismo parecido a esse que formou seu preconceito. Para lhe afastar, alguém com medo e raiva do que era diferente dele, se esforçou para lhe assustar. Queria que você se afastasse daquilo que tanto o assustava, sem nem ao menos lhe dar a chance de conhecer e tirar suas próprias conclusões.

E como usam o Diabo para esse papel de criador de preconceitos. Frases do tipo, aquela religião é do Diabo; se veste assim porque tem parte com o Diabo; namora alguém do mesmo sexo, com certeza está possuído pelo Diabo; e seguem nessa triste trilha de criar preconceitos, separações, ignorância e desinformação, são, infelizmente, ainda muito ouvidas. E o Diabo nem tem nada a ver com isso.

Sim, estou pegando leve nos exemplos. Não preciso falar dos preconceitos horrorosos que sabemos que existem no dia a dia de muitas pessoas. Se foi para lhe assustar, brincar com você, ou lhe educar que sua mãe disse “não brinca lá fora, um velho pode passar e te colocar no saco”, tanto faz. Se você acredita até hoje que idosos devem ser temidos, você tem sim preconceito.

Se qualquer escolha que você fez, de time, religião, atividade física, profissão, lhe fez acreditar que a sua é a única escolha certa, você tem sim preconceito.

Se você critica quem come coisas diferentes das que você come, quem se veste diferente de você, quem tem uma cultura que não é a sua, sim, você é preconceituoso.

Se você discrimina, incentiva separações do tipo “ou do meu jeito, ou não tem conversa”, aplaude atitudes preconceituosas, você está doente, sofrendo de preconceito e ignorância. Tem cura. A informação pode lhe salvar.

Mas não adianta só dar uma lida num texto e pedir desculpas. Você precisa pensar a respeito e modificar suas atitudes. Só mudando você deixa de ser preconceituoso.

Preconceito é só isso, um conceito concluído antes de conhecer todos as possibilidades. Preconceitos começam sempre pela ignorância daquele que não tem conhecimento suficiente. Preconceitos generalizam, colocam num mesmo rótulo, um grupo enorme de pessoas a partir de um único exemplo. É uma forma de criticar os outros, no automático, sem conhecimento prévio.

Preconceito é uma crítica a maneira de ser e agir de outras pessoas, por pura ignorância. Por medo do que não conhecem, preconceituosos colocam defeitos, menosprezam, afastam e perdem a oportunidade de aprender com esse novo universo que se abre a sua frente. Fuja disso.

Preconceito é só a sua ignorância lhe fazendo agir no automático. Mude essa história.

(desconheço a autoria da ilustração)

2 comentários:

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