domingo, 15 de abril de 2018

Pena ou Compaixão?

Érima de Andrade

De vez em quando, alguém em atendimento, me pede para
explicar, de novo, a diferença entre pena e compaixão. Essa é uma conversa, que quando surge, provoca estranheza, pois a grande maioria das pessoas, acha que são dois sentimentos iguais. E mesmo achando que são a mesma coisa com nomes diferentes, quando eu pergunto o sentimento despertado pela história que está me contando, se é pena ou compaixão, invariavelmente a resposta é pena.

Quando me pedem para falar de novo sobre a diferença, eu explico que, na pena você sente a dor do outro, mas o olha de cima. Você se acha superior aquela pessoa que está passando por algum problema. Você é afetado pela dor do outro, mas não faz nada para mudar aquela situação. Apenas sente piedade.

Na compaixão você sente a dor do outro e tem certeza que são iguais. Olha de frente, no mesmo plano, olho no olho. Você sabe, poderia ser você passando por isso. Você é afetado pela dor dele, e, ao mesmo tempo, é tomado por um desejo intenso de acabar com ela. E essa sua compaixão ajuda a mudar aquela situação.

Como essa explicação básica não cria uma imagem que ajude a memorizar a diferença, eu dou um exemplo de alguém preso num buraco.

Você, com pena, vê uma pessoa no buraco, sente a dor dela, mas se sente superior por estar fora. Acredita que a pessoa não é capaz de sair dessa sozinha. Mais que isso, você tem certeza que você sim, se estivesse no buraco, saberia sair sem ajuda.

Amparado nessa certeza de ser capaz de sair, você entra no buraco, acolhe a pessoa, abraça, ouve o desabafo dela, a deixa confortável, serena, tranquila. A pessoa super agradece o que você fez por ela, feliz de você usar um pouco do seu tempo para entrar no buraco e fazer com que se sinta melhor.

Objetivo alcançado, você, que sabe sair do buraco, sai e vai cuidar da própria vida. A pessoa segue no buraco, mas agora agradecida e um pouco mais feliz. De concreto, a vida dela não mudou em nada.

Se você sente compaixão ao ver uma pessoa num buraco, você a olha sabendo que são iguais. Sabe que ela é tão capaz quanto você de sair dali. Além de sentir a dor dela, você deseja acabar com a origem da dor, deseja que ela saia do buraco e se propõe a ajudar.

A pessoa é capaz de sair sozinha, mas aceita a ajuda, porque, nesse momento, não dá conta, precisa de ajuda. E com essa certeza de que o outro é capaz, você avalia, com ele, a melhor maneira de ajudar. E pode ser trazendo uma corda para quem está dentro, escalar a parede. Ou uma escada. Ou uma escada e mais gente para alguém poder entrar no buraco e ajudar na subida.

Pode ser assim, colocam a escada, alguém desce, apoia a pessoa para que suba em segurança, enquanto do lado de fora mais gente mantém a escada segura e firme. Dessa maneira, respeitando os limites do que o outro está vivendo, você, por compaixão, ajuda a mudar aquela situação.

É uma historinha esclarecedora. Serve quando você vê uma planta seca no vaso, sente pena, dó, e segue a sua vida sem fazer a diferença na saúde da planta. Ou, por compaixão, rega a planta, afofa a terra, tira as folhas mortas, coloca uma cobertura na terra, lascas de madeira, por exemplo, para manter a umidade por mais tempo, posiciona o vaso onde ele possa receber quantidade adequada de luz. E você faz diferença na saúde da planta.

Na pena, o pesar do outro lhe afeta, mas não lhe move. Sua vida não muda, nem a dele. Na compaixão, o pesar do outro lhe afeta, e provoca em você o desejo de acabar com a causa da dor. A vida de vocês dois e afetada por esse sentimento.

A boa notícia é que, se você ainda não sente compaixão espontânea, você pode treinar seu olhar, seus pensamentos, suas crenças e cultivar a compaixão em você.

Agora que, imagino, você já entendeu a diferença, me conta: na sua vida, você sentiu mais pena ou compaixão?

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