domingo, 30 de outubro de 2011

Caixinha de cuidados

Érima de Andrade

O estresse é uma realidade na vida de todos nós. Mas se ele é benéfico, nos dando força, vigor e energia; é prejudicial quando as doses são prolongadas.

Os benefícios do estresse só serão válidos se ele não durar mais de 24 horas. Pequenas doses de estresse espaçadas no tempo, como tarefas a serem cumpridas rapidamente durante o dia, podem ser benéficas ao sistema imunológico. Mas para manter a saúde, o corpo precisa sair da fase de alerta provocado pelo estresse inicial e voltar ao equilíbrio do seu funcionamento.

E como fazer isso?

Você pode começar cuidando da sua respiração. Você já percebeu que o fluxo do seu pensamento é determinado pelo seu fluxo respiratório? Respirar profunda e lentamente, levando o ar até o abdômen, relaxa, alivia as tensões, tranquiliza.

Experimente: inspire projetando o abdômen para fora, continue inspirando expandindo as constelas para os lados e dilatando a parte mais alta do tórax. Retenha o ar nos pulmões por alguns instantes; e expire soltando a parte alta, depois a média e finalmente a parte baixa dos pulmões.

Na expiração o organismo relaxa. Suspirar devagar várias vezes ao longo do dia ajuda a dissolver o estresse.

E o riso? Tem algum estresse que se mantenha com uma boa gargalhada?

Não tem nenhum motivo para rir? Não tem problema, ria mesmo sem motivo. No inicio você vai estar provocando o riso, mas aos poucos, ele vai se tornar espontâneo. Começa com um pequeno sorriso, amarelinho mesmo... Fingido... A endorfina e serotonina sobem... A adrenalina baixa... E num instante você vai começar a se sentir mais relaxado, mais tranquilo, mais feliz.

E o banho? Não dá para desprezar o poder anti-estresse de um bom banho. Ao tomar banho aproveite para mentalizar aquilo que você busca para sua vida. Use a força dos seus pensamentos, e imagine as coisas boas acontecendo. Mantenha a sua mente longe dos problemas e deixe a água levar toda a tensão do seu dia.

Márcia Azevedo sugere um escalda-pé. Diz ela: “para aliviar tensões e ter uma boa noite de sono, uma dica é fazer um escalda-pé com água morna. E para potencializar o efeito, pingue algumas gotas de óleo essencial de lavanda.” Só de ler a descrição, o estresse já diminui, não é?

A auto-massagem também é maravilhosa para aliviar o estresse e recuperar o equilíbrio do organismo. Se você não puder fazer uma auto-massagem completa, você pode lançar mão dos ensinamentos do Jin Shin Jyutsu.

O Jin Shin Jyutsu é uma arte de harmonização do corpo, mente e espírito que desperta bem estar, vitalidade, dissolve o estresse e estimula nossa capacidade natural de regeneração. O livro O Toque da Cura escrito por Alice Burmeister e Tom Monte, tem mais informações sobre essa técnica. Ela é feita com toques das mãos em áreas do corpo onde a energia vital se concentra. Assim, sempre que necessário você pode harmonizar a circulação da energia do seu corpo, obtendo relaxamento, mais vitalidade e maior percepção de si mesmo.

Jin Shin Jyutsu é feito com posturas específicas das mãos e dedos, os mudras. Essa é uma sequência inicial que você pode fazer em qualquer lugar, no cinema, assistindo TV, na fila do banco, numa viagem ou onde você possa pegar em seus dedos e esperar pulsar.

Apenas segure com uma das mãos os dedos da outra mão. O toque é na intensidade de quando a gente pega um passarinho. Sem apertar. Depois que começar a pulsar, espera uns minutinhos e muda de dedo.

Cada dedo correspondente a órgãos e emoções que serão trabalhadas. Você pode fazer a sequência toda, ou apenas focar na sua necessidade imediata. A mão direita representa o "aqui - agora" e a mão esquerda o "passado". Envolva, suavemente, com uma mão, o dedo correspondente da mão oposta, por alguns minutos.

Dedo polegar - Melhora a digestão de alimentos, idéias, pensamentos e emoções; ajuda a dormir melhor e nos torna receptivos ao toque e carinho. As preocupações desaparecem. Ajuda estômago, baço e pâncreas. Bloqueia uma dor de cabeça que está começando.

Dedo indicador - Traz coragem, fortalece o desejo de viver, harmoniza a circulação dos fluidos corporais e o sistema muscular. Dissolve o medo e as inseguranças. Ajuda rim e bexiga. Evita uma dor nas costas que está iniciando.

Dedo médio - Expande o sentimento de compaixão, a lucidez mental, a criatividade; regula a harmonia interior do corpo. Elimina a raiva, frustrações e irritabilidade. Ajuda fígado e vesícula biliar. Melhora a visão e revitaliza a fadiga geral.

Dedo anular - Promove a alegria, a esperança, o soltar do passado e o se abrir ao novo; dá vitalidade e energia ao corpo. Afasta a tristeza, negatividade e o pesar. Ajuda os pulmões e o intestino grosso. Harmoniza a respiração e desconforto no ouvido.

Dedo mínimo - Conecta com a intuição, aumenta a auto-estima, harmoniza o sistema esquelético. Termina com pretensão, julgamentos, comparações e esforço. Ajuda coração e intestino delgado. Evita uma dor de garganta que está iniciando.

Centro da palma da mão - Traz sensação de paz profunda e de unidade com o universo. Dissolve o desânimo. Ajuda diafragma e fluxo do umbigo. Harmoniza corpo, mente e espírito mutuamente e com o universo.

Boa prática!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Universos

Érima de Andrade

O avanço das comunicações me permitiu confirmar que convivemos com vários universos ao mesmo tempo. Ao contrário do que eu imaginava a princípio, a facilidade de comunicação não tornou esses universos conhecidos, apenas os colocou ao alcance da mão de quem os procurar.

E não falo de universos paralelos à realidade, como os filmes, os livros ou novelas. Falo do mundo “real”, dos vários universos que existem na minha realidade.

E também não estou falando de pessoas que vivem num mundo muito diferente do meu, cultura diferente, fuso horário diferente. Eles com certeza são um outro universo. Mas estou me referindo a pessoas do meu convívio, e que mesmo assim são pessoas que vivem num universo totalmente diferente do que eu estou vivendo.

Já aconteceu com você? Falar de um assunto, um jogo, um filme, um texto, um programa achando que “todo mundo” sabia do que se tratava? E acabou descobrindo que o “mundo” tem outras prioridades e interesses?

Aquele evento que era imperdível para mim e alguns amigos, é totalmente desconhecido, ou indiferente, para um outro grupo de pessoas. Da mesma maneira que desconheço o que para algumas amigas é super importante nesse momento.

Por exemplo, tenho convivido com pessoas que estão vivendo, ou prestes a entrar, no universo dos recém-nascidos. Algumas como mães, outras como avós, e mesmo elas, que tem em comum os recém-nascidos, vivem em universos diferentes.

A possibilidade de conviver com um recém-nascido pela primeira vez, abre todo um universo de informações, vivências, desejos, ansiedades e prazeres. Só vivendo nele para compreendê-lo a fundo. Os horários mudam, as prioridades também, o olhar então, muda totalmente.

E o universo de quem se prepara para cursar uma faculdade? Um mundo à parte também pleno de informações, vivências, desejos, ansiedades e prazeres.

Gosto muito da imagem do sistema operacional criado por Bill Gates e Paul Allen, o Windows. Abre-se mesmo uma janela para um novo universo quando a gente pesquisa alguma coisa na internet.

Albert Eisntein já nos informava que “a mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.” E idéia aqui é uma nova informação, um insight, uma descoberta, uma vivência ou qualquer item novo no seu sistema de crenças ou arquivos de informações.

E quanta história para contar quando esses universos se encontram!

A internet me permitiu descobrir muita coisa, e especialmente um pouco mais sobre o universo da família do meu pai. “Conheci” as primas dele on line. Descobri, por exemplo, que os gatos estão na família pelo menos desde a minha tetra-avó Julia.

Também fiquei sabendo que meu tio-avô José, tinha 40 gatos de rua em Porto Alegre. Conta minha prima, filha dele: “Claro que eles não entravam em casa, mas papai comprava um coração de boi todos os dias para eles e cortava bem picadinho...”

Outra prima confirma a convivência da nossa família com os animais: “Cresci com gatos, cachorros, passarinhos, jaboti em casa, mas papai dizia que não queria bicho dentro de casa. E adiantava? A gente trazia, ele fazia de conta que não via e todos (bichos e donos) ficavam felizes.”

Tão próximas da minha realidade, tão longe do meu universo...

Heloisa Capelas conta que “quando me pedem exemplos de amor, lembro-me da família. Que estrutura fantástica criamos! Pessoas tão diferentes que suportam e administram as "estranhezas" por amor. Pense na sua... não há gente esquisita nela? E você a ama e a defenderia sempre, não é?”

Com certeza!

Existe algum universo mais próximo do que a família? Aquele grupo de pessoas que você considera sua família, mesmo que não tenham laços de sangue, é composto de um grau diferente de compressão, uma consciência original de vocês que cria o seu universo particular.

É um universo ideal? Não, claro que não... Mas é uma delícia!

domingo, 23 de outubro de 2011

Almoçando em grupo

Érima de Andrade

Quando faço alguma atividade que inclui o almoço, uso sempre a mesma receita. Algumas alunas inclusive esperam comer a mesma coisa. Dizem que mesmo levando a receita e fazendo em casa, não fica com o mesmo sabor.

Fácil de entender. No grupo todos participam da confecção, e a energia de todo mundo junto tempera a refeição.

É uma massa com queijo e tomate. Um grupo corta e tempera o queijo, outro corta e tempera o tomate, e um terceiro descasca e corta o abacaxi em cubinhos; porque invariavelmente, nessas ocasiões, a sobremesa é abacaxi com sorvete de creme.

Fácil, prático de fazer e gostoso. Mas você pode, é claro, dar seu toque pessoal. Se você é como a Marta Medeiros que disse: "Não gosto da vida em banho-maria, gosto de fogo, pimenta, alho, ervas, por um triz não sou uma bruxa", acrescente pimenta na sua preparação.
 
Eis a receita com todas as variações que eu já fiz:

Massa com tomate, queijo e manjericão

Ingredientes:

- 500 g farfale ou penne

- 2 xícaras (chá) de tomates-cereja, ou 2 xícaras (chá) de tomate cortado em cubos ( mais ou menos 10 tomates) ou 300gr tomate seco

- 2 xícaras (chá) de muçarela de búfala em bolinhas ou queijo parmesão em lascas, ou queijo minas cortado em cubos, mais ou menos ½ Kg

- 1 dente de alho ou 1 colher de sopa de alho picado ou desidratado

- 15 folhas de manjericão

- orégano

- azeite de oliva a gosto

- sal a gosto

Modo de Preparo:

1. Cozinhe a massa conforme as instruções da embalagem. Enquanto isso prepare o molho.

2. Descasque e pique o alho.

3. Lave e seque os tomatinhos e as folhinhas de manjericão. Corte os tomates em quatro ou em cubos e pique dez folhas de manjericão.

4. Leve uma frigideira ao fogo médio. Quando aquecer, regue com o azeite de oliva e junte o alho picado. Mexa bem por 1 minuto. Não deixe o alho dourar para não amargar a receita.

5. Adicione os tomatinhos-cereja, tempere com sal, mexa para misturar bem por aproximadamente 1 minuto e acrescente as dez folhinhas de manjericão picado. Desligue o fogo. Se usar o tomate seco apenas reserve. 

6. Tempere o queijo com orégano e azeite e misture com o tomate.

7. Quando o macarrão estiver pronto, escorra. Volte o macarrão à panela e junte os tomates refogados com o alho e o queijo temperado. Adicione as folhinhas de manjericão restantes para enfeitar e azeite a gosto. Misture bem e sirva. Suco de uva acompanha bem essa refeição.

Bom apetite!!!



quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Alimentação x Estresse

Érima de Andrade

Dia 18/10/2011, tivemos uma palestra sobre Alimentação x Estresse, com a nutricionista funcional, Bianca Innocencio.

A nutrição funcional nos contou ela, prioriza a individualidade bioquímica, entende que cada ser é único, com necessidades e metabolismos diferentes. Chama-se funcional, pois tem a finalidade de manter ou recuperar as funções, fazendo com que o organismo funcione adequadamente.

Foi muito instrutivo.

Ela nos alertou sobre a suplementação sem orientação. Deu como exemplo, uma pessoa que consome laticínios e por conta própria resolve ingerir cápsulas de vitamina C.

Afinal vitamina C faz bem... Ela leu isso na internet... Uma pessoa assim, na verdade, além de estar fazendo um xixi caro, já que tudo que não é aproveitado pelo organismo é eliminado, também está cultivando uma pedra nos rins. Leu que vitamina C faz bem? Aumente o consumo de alimentos com vitamina C e deixe a suplementação para quem tem déficit.

Aprendi na palestra que o equilíbrio hormonal é fundamental para manter todas as funções do corpo. E que alimentos antioxidantes são bons para prevenir o estresse, seja ele biológico, social ou psicológico.

As boas fontes de antioxidantes são os vegetais, as frutas, os legumes, as verduras, as hortaliças e os cereais integrais, por isso é tão importante incluí-los em nossa dieta.

Também aprendi que existem alimentos que favorecem a ansiedade, em especial os que contêm cafeína, ou glutamato monossódico.

Descobri que o açaí é o alimento campeão no combate ao estresse. Entre outras qualidades, o açaí favorece o equilíbrio hormonal e a saúde cardiovascular.

Mas o mais surpreendente para mim foi ser informada que todo obeso é desnutrido. "Organismo bem nutrido não precisa acumular gordura” explicou Bianca Innocencio.

Ou seja, é possível alimentar o corpo com calorias vazias e deixá-lo grande e desnutrido. Alimentos ricos em calorias, com valor energético, mas com pouco ou nenhum valor nutricional fornecem as calorias vazias.

Fiquei pensando: o corpo é um dos quatro aspectos do ser humano, e pode ser alimentado sem estar nutrido. E com os outros aspectos, também podemos alimentá-los com calorias vazias?

Com certeza!

Nosso intelecto, por exemplo, pode ficar sobrecarregado de informações inúteis. Oferecemos calorias vazias para nossa emoção sempre que nossa satisfação está em parecer que somos e não em ser quem somos. E se nos importamos mais em decorar filosofias, religiosas ou não, sem praticar, estamos nos fartando de calorias espirituais vazias.

Mas nada é bom ou ruim em essência. Depende do que fazemos com essas experiências.

Calorias vazias existem por que nos dão prazer, e não existe mal algum em comer, de vez enquando, uma porção de batatas fritas. São calorias vazias? Sim. Fornecem até 570 calorias e quase nenhum micronutriente importante. E são gostosas.

Também é gostoso jogar conversa fora, falar sobre nada, distrair a mente com futilidades. Muito chato ser formal, importante, sério, o tempo todo. Dá para relaxar e falar bobagem.

Também dá para se divertir vivendo um personagem naquela ocasião especial. Surpreender é sempre um sucesso!

E como são bem-vindos os textos sobre filosofia! Se você se dispõe a praticar, é bom que tenha estudado antes.

É a consciência de como você se alimenta que vai fazer a diferença na sua nutrição, em qualquer aspecto que você queira nutrir: físico, emocional, intelectual, espiritual.

Sem consciência, as calorias vazias podem se tornar nossa principal fonte de alimentação.

Você está se alimentando ou se nutrindo?

domingo, 16 de outubro de 2011

Crianças, Professores, Alimentação

Érima de Andrade

Dia 13 de outubro é comemorado o dia da Terapia Ocupacional. E ao redor do dia 13, outras datas importantes a serem lembradas e comemoradas: dia 12 de outubro, dia da Criança; dia 15 de outubro, dia dos Professores e dia 16 de outubro, dia mundial da Alimentação.

Todas as datas comemorativas têm a mesma função: provocar a discussão sobre a importância do que está sendo comemorado.

O dia da Criança mais impactante que eu participei, foi a festa feita no setor pediá­trico do ambu­la­tó­rio de AIDS do antigo CPN , hoje Hos­pi­tal Car­los Tor­telly.

Uma festa linda, animada com música, ati­vi­da­des recre­a­ti­vas, convidados, padrinhos, familiares; a maior do ano no setor. O motivo da comemoração? Ser criança e estar viva.

A maioria absoluta recebeu o vírus dos pais. O trabalho no ambulatório pro­mo­ve a melho­ria da qua­li­dade de vida das pes­soas vivendo com aids e dis­se­mi­na infor­ma­ções sobre hiv/aids junto à soci­e­dade em geral.

O resultado dessa festa? For­ta­le­ci­mento dos vín­cu­los fami­li­a­res, ele­va­ção da auto-estima, melhora na ade­são ao tra­ta­mento anti-hiv.

Dia da criança, dia de ser feliz e ser criança.

O dia mundial da Alimentação tem por objetivo conscientizar a população sobre as questões de nutrição e alimentação. É uma campanha para que toda a população do planeta possa ter acesso à alimentação saudável, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente.

Atendi uma menina que tinha tudo isso, e, no entanto, nunca tinha aprendido a comer.

Nasceu com hidrocefalia, recebeu uma válvula ainda na maternidade, usou por 8 anos. A conheci com 14 anos. Por conta da super proteção, até essa idade, só se alimentava com colher. Sua dieta era unicamente de alimentos líquidos ou pastosos. Tinha questões emocionais a serem trabalhadas, mas combinamos produzir um lanche no consultório uma vez ao mês.

Foi comigo que ela experimentou o 1° sanduíche: pão de forma macio, pasta de sardinha feita por ela, alface e tomate. Uma experiência inesquecível!

Dia dos Professores. Tive a sorte de ter bons professores ao longo da minha vida. Em todas as etapas eu tive quem me estimulasse a ser curiosa, me motivasse a aprender, a participar, a desenvolver minhas habilidades. Graças ao investimento, ao interesse e a observação desses professores eu pude, por exemplo, mudar de série no meio do ano letivo, sem dificuldades para acompanhar minha turma nova, teoricamente um ano na minha frente. 

Excesso de curiosidade tem seu preço e nessa busca lá fui eu fazer três faculdades. E de novo, tive ajuda de professores, em especial o Renê Pessa, para juntar meus três diplomas, Belas Artes, Educação Física e Terapia Ocupacional, nos atendimentos, em saúde mental, minha área de escolha e especialização.

Mas como todo mundo eu tenho aquela professora que fez A diferença. Na verdade não sei se acontece com todo mundo, por que eu tive quatro professoras nessa categoria, Heloisa Capelas, Paula Cantão, Márcia Alves e Sonia Vipassana.

Diferente de todos os outros ao longo da minha vida, essas me ensinaram a me conhecer. E me conhecendo, fiz as pazes comigo, me aceitei, me tornei uma pessoa melhor e sem dúvidas uma profissional mais consciente das minhas qualidades e limitações.

Pensando nelas cuido da minha criança interior, respeito as crianças interiores das pessoas que fazem parte da minha vida, abro espaço para que as qualidades de todas elas se manifestem.

Também pensando nas minhas professoras cuido de tudo que me alimenta: sentimentos, informações, intuições, e claro, uma comida que respeite meu corpo, supra minhas necessidades calóricas e energéticas e que me dê prazer, porque afinal comer é muito bom.

Com elas vivi a lição que vai me acompanhar por toda a vida: a gente aprende e ensina ao mesmo tempo, o tempo todo e em todas as nossas relações.

Comer, rezar e amar? Funciona para sua criança, para sua professora, para pessoa que você quer ser na vida.

Com o que você tem se alimentado?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Dia da Terapia Ocupacional

Érima de Andrade

13 de outubro – dia do terapeuta ocupacional, e do fisioterapeuta, no Brasil.

Por que esse dia? Porque no Brasil, em 13 de outubro de 1969, foi assinado o decreto-lei 938/69 que reconhecia e assegurava o exercício dessas profissões, Terapia Ocupacional e Fisioterapia, em território nacional.

Mas a história da Terapia Ocupacional é muito anterior a esse decreto. Existem registros históricos reconhecendo a ocupação e a diversão como sendo benéficos a saúde dos indivíduos.

Por exemplo, no Egito, 2000 a. C., as seitas religiosas usavam o canto, a literatura, a dança, a diversão, o entretenimento e passeios pelos jardins, como tratamento do humor doentio. Hipócrates (460-377 a. C.), Platão (427-347 a. C.) e Aristóteles (384-322 a. C.) em seus estudos médicos sobre realidade psíquica, e sobre consciência, descrevem os efeitos benéficos de práticas e atividades terapêuticas para os que tinham perturbações espirituais ou cerebrais.

Em 293 a. C. existiam em Roma, 60 templos destinados à cura de doenças
mentais e físicas que incluíam a diversão como meio de cura. Em 123 a. C., Thenisom, discípulo de Asclepiades, criou em Roma, a Escola Metodista que pode ser vista como a primeira corrente médica a sistematizar o uso de atividades para doentes mentais. Galeno, médico grego, considerado um dos pais da medicina, afirmava em 172 que “a ocupação é o melhor médico da natureza sendo essencial à felicidade humana”.

Durante a Idade Média os tratamentos passaram por um período de inatividade, os preconceitos e a ignorância isolaram os doentes.

Em 1407, o Frei Joffé, na Espanha, começou a usar o trabalho como tratamento de doentes. Mas foi a Revolução Francesa, 1789, a grande responsável pela definição de idéias relativas à defesa do ser humano, que facilitou o ressurgimento das técnicas ocupacionais de terapia.

Ao longo do séc.XIX a ocupação terapêutica continuou a desenvolver-se, agregando novos elementos e compondo programas mais elaborados.

Em 1915, em Chicago, foi montado o primeiro curso de treinamento de Terapia Ocupacional. A partir desta data, surgiram várias outras escolas, em 1926, no Canadá, em 1930, na Inglaterra, espalhando-se por todo o mundo. Em 1936, foi fundada a “Associação dos Terapeutas Ocupacionais Ingleses”, e em 1948 a profissão foi reconhecida, ocorrendo em 1951 a criação da Federação Mundial de Terapia Ocupacional que realizou seu primeiro congresso em Edimburgo.

Após a guerra, quando apareceram as primeiras pessoas especializadas em ocupação terapêutica, foi possível fortalecer o tratamento através da atividade.

Desde 1919 é utilizada pela Terapia Ocupacional, para o estudo, ensino, aplicação clínica e adaptação, a análise de atividades. Ou seja, a identificação dos aspectos motores, sensoriais, cognitivos, afetivos e sociais, e a identificação dos instrumentos e etapas envolvidos nas atividades, que serão oferecidas.

Entre as duas grandes guerras, e até mais ou menos 1950, foram desenvolvidos métodos de Terapia Ocupacional, no contexto da reabilitação física e mental, baseados nas quatro abordagens do curso de Chicago: bondade, paciência, imaginação e maternagem; buscando a independência, treinamento de AVD’s e a ressocialização do paciente.

Pela necessidade de reinserir os traumatizados de guerra na sociedade, os profissionais da área de saúde, criaram em conjunto, métodos de reabilitação, dando início ao trabalho multiprofissional.

Pela necessidade de possibilitar as vítimas de pólio e as pessoas portadoras de sequelas motoras acesso a um tratamento especializado e reintegração à sociedade , nasceu em 1954 a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação, ABBR. Para que o Centro de Reabilitação da associação pudesse contar com uma equipe especializada, dois anos depois da sua fundação, a ABBR formou, pela Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro, sua primeira turma de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.

Para a formação de terapeutas ocupacionais no Brasil, a ONU instalou em 1959, o primeiro curso, com duração de doze meses, funcionando no Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina, da Universidade de São Paulo, sendo regulamentado em 1964, sendo reconhecido como nível superior em 1969.

Nascemos, oficialmente no Brasil, no mesmo dia, Terapia Ocupacional e Fisioterapia, e por uma necessidade política, no mesmo conselho. A formação dos profissionais tem caminhos distintos, sendo o curso de fisioterapia voltado para a estrutura do ser humano e o de terapia ocupacional para a funcionalidade das atividades humanas.

A Organização Mundial de Saúde, OMS, define assim a Terapia Ocupacional:

“É a arte e a ciência de orientar a participação do indivíduo em atividades selecionadas para restaurar, fortalecer e desenvolver a capacidade, facilitar a aprendizagem daquelas habilidades e funções essenciais para a adaptação e produtividade, diminuir ou corrigir patologias e promover e manter a saúde.”

Sempre gostei dessa definição, a arte e a ciência...

Hoje a Terapia Ocupacional tem um corpo próprio de profissionais, e muita coisa para comemorar. Caminhamos a passos largos para a independência dos conselhos, temos uma produção científica cada vez maior e reconhecimento da profissão no mundo inteiro. A World Federation of Occupational Therapists (WFOT) conta atualmente com 62 países-membros.

Tem muita coisa para melhorar? É claro que tem. E temos consciência que dos profissionais de hoje, dependem os progressos posteriores.

E isso é mais um motivo para comemorar.

Feliz dia T.O.’s!!!!

domingo, 9 de outubro de 2011

Emoções da Criação

Érima de Andrade

No meu livro Criatividade, Processo Criador e as Emoções que Permeiam a Criação, eu falo das etapas do processo criador. São elas:

. idéia, ou inspiração;
. início do processo;
. expressão da idéia;
. formalização da idéia;
. concretização da idéia;
. conclusão do processo.

Recentemente passei por todas essas etapas. Uma roda viva de emoções.

Primeiro a idéia, ou inspiração, que é inexplicável. Passei dias conversando sobre o assunto, tentando achar uma idéia que fosse bacana, e de repente, acordo numa manhã, com a idéia pronta, clara, quase óbvia. Como não pensei nisso antes?

O início do processo foi um momento de profunda angústia: onde está o que eu quero? Eu sabia onde queria chegar, mas não sabia como chegar.

A idéia norteou meu caminho, estimulou minha busca por possibilidades. De repente ficou claro, definido, pronto para a etapa de expressão da idéia.

Veio a certeza de saber muito bem aonde aquilo ia dar, a certeza de reconhecer o destino quando chegasse lá. Foi uma etapa de ansiedade, irritação, curiosidade, expectativa, tensão. Mas uma etapa sem angústia.

A formalização da idéia é uma satisfação só. É a etapa da sensação de poder, onde as dificuldades são superadas e os problemas são resolvidos. Veio com confiança, com , vou chegar, estou no caminho certo.

Concretizar a idéia é a etapa seguinte e a mais racional. Foi o momento de analisar a obra, fazer ajustes, fazer os retoques necessários buscando a melhor tradução possível da idéia inicial.

Nem tudo o que pensei no início coube na concretização. Foi preciso adequar. Dá uma certa frustração quando não pode ser da maneira como havia sido imaginado. Mas vem junto à sensação de dever cumprido, de ter feito o que era possível. Me trouxe alívio e um cansaço enorme, uma vontade, passageira, de nunca mais passar por isso.

E finalmente a conclusão do processo. A obra está pronta, concluída, e melhor do que foi imaginada. Linda mesmo. É uma sensação de sucesso, de orgulho, de satisfação, de prazer por ter conseguido um encontro entre a idéia inicial e a obra pronta.

Criar, apesar de parecer uma sensação universal, é uma experiência absolutamente íntima, única e pessoal. E é uma delícia, uma alegria ver o seu trabalho concluído.

Agora é esperar. Um ciclo se fechou, mas o outro ainda não abriu, é o momento de entressafra.

Será que vou atingir meu público-alvo?  

É o outro que dá a medida do sucesso, que dá o retorno, que valoriza as conquistas, que indica novos caminhos a partir daqui.

Viver a experiência de ser compreendida pelo público-alvo produz alívio, serenidade, esperança. Vem com a sensação de existir para o outro. Existir na mente e no coração da outra pessoa.

E se não acontece, se a comunicação não se faz, é preciso repensar. Colocar na berlinda as necessidades afetivas, o jeito de ser, os projetos, os objetivos.

É apenas mais uma etapa.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Escolhendo o que sentir

Érima de Andrade

Existe uma fábula Cherokee que ilustra o combate que acontece dentro das pessoas. Diz assim:

Os anciões da tribo estavam preocupados com um dos garotos que, por se sentir injustiçado, tornou-se agressivo. O avô do menino o leva para conversar.

"Entendo sua raiva. Na planície dentro do meu peito, há uma batalha terrível entre dois lobos que vivem dentro de mim. Esses dois lobos tentam dominar o espírito de todos nós."

O garoto se interessa. Ele continua.

"Um é mau. Seus dentes afiados e tenazes como a raiva, a inveja e o ciúme. Ele caça a tristeza. Suas garras são afiadas como a cobiça, a arrogância e a pena que alguém sente por si mesmo. Esse lobo fareja culpa, ressentimento e inferioridade a quilômetros. Ele busca o orgulho, a glória e a superioridade."

Diante dos olhos brilhantes do pequeno índio, o velho completa:

"O outro lobo é bom. Seu olhar é tranquilizador como o perdão de um pai. Seus músculos fortes como a esperança de um amanhecer. Seus pêlos brilham como a serenidade de um lago. Ele fareja paz, humildade e empatia onde estiver. Ele é veloz como um gesto de bondade, audaz como a generosidade. Esse lobo busca verdade, harmonia e ."

Ambos ficaram em silêncio. O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:

"Qual lobo vence?"

O velho índio então responde:

"Aquele que você alimentar!"

Escolhemos que emoções alimentar. Ponto. “Isso é muito pesado” me disse uma cliente. Mas é esse o caminho da maturidade humana e afetiva: aceitar você mesmo com seus sentimentos e se responsabilizar por eles.

Sentimentos são reações ou respostas internas, espontâneas e imediatas, as situações que nos acontecem. “São como nossas impressões digitais, como a cor dos nossos olhos e o som da nossa voz, únicos e irreproduzíveis” John Powel. 

Você é o que você sente. “Quem é você? Você é a pessoa que está experimentando seus sentimentos, criando seu mundo” explica Geraldo Gomes Leite.

Sentir mágoa, ou prazer, prova que você é humano. Não há maneira de evitar a dor se quiser ficar aberto para o prazer. E abertos, não escolhemos o que sentir, é uma reação, mas podemos escolher o que continuar sentindo.

Observar seus sentimentos, aprender com eles e transformá-los, depende apenas de você, depende do sentimento que você escolher alimentar, depende do mundo que você quer criar.

O terceiro verso dos “Oito versos que transformam a mente”, um ensinamento budista, diz o seguinte:

“Em todos os meus atos, vou aprender a examinar a minha mente
E, sempre que surgir uma emoção negativa,
Pondo em risco a mim mesmo e aos outros,
Vou, com firmeza, enfrentá-la e evitá-la.”

O que você faz quando surge em você uma emoção negativa? Como você alimenta a sua dor? Como você alimenta o seu prazer? Como você mantém a sua vida pesada? Como você cuida para sua vida ser leve?

É uma escolha.

Que lobo você está alimentando?


domingo, 2 de outubro de 2011

Chefe ou líder?

Érima de Andrade

Li um artigo interessante assinado por Julio Cesar S. Santos. Ele escreveu sobre as diferenças entre ser chefe e ser líder.

O chefe, diz ele, “é aquele que toma todas as decisões – em todos os níveis – e quer assinar todos os memorandos, pedidos, solicitações e relatórios. Ele quer “ver” tudo, saber de tudo e, principalmente, quer aprovar tudo.”

Ele complementa “o chefe não ouve ninguém, pois ele é "o chefe".”

Quantas pessoas, pela vida afora, nós encontramos com essas características? E não me refiro apenas as pessoas das nossas relações de trabalho. Na sua família tem alguém que é
“o chefe”? E no seu grupo de amigos, tem aquele que quer ver tudo, saber de tudo e aprovar tudo? E como ficam ofendidos quando descobrem que a vida segue sem a necessidade da aprovação deles... Ou é você o centralizador nas suas relações?

Mas um chefe pode se tornar um líder, basta desenvolver características de líder. O que transforma um chefe em líder? Basicamente um chefe vira líder quando descentraliza as informações.

Um líder sabe que o poder não está mais nas mãos de quem centraliza, mas sim de quem as descentraliza, de quem sabe delegar. Um líder delega autoridade sem abrir mão da sua própria responsabilidade.

Um líder não teme o conhecimento das outras pessoas. Ele convive sem problemas com quem sabe mais do que ele em suas áreas específicas de atuação, porque um líder, diferente de um chefe, não tem necessidade de ser o sabe-tudo.

Você é um líder? Você busca parceiros ou subordinados? Como você convive com as outras pessoas? Como é conviver com você?

A melhor orientação de convivência aprendi com Bob Hoffman: “ao viver com as pessoas, afora amá-las, lembre-se de que elas precisam de privacidade, espaço para serem criativas, permissão para errar e aceitação pelo que são e pelo que não são.”

E claro que isso se aplica a conviver com você. Você se ama? Abre espaço para sua criatividade? Se permite errar? Se aceita pelo que é? Se aceita pelo que não é? Você se trata como um subordinado ou como um parceiro?

Na sua vida, você quer ser chefe ou líder?